A 'queda' de um Rey

Após a derrota para o River Plate na última rodada, o Independiente só poderia se salvar do inédito rebaixamento no caso de um milagre. Precisaria vencer suas últimas duas partidas e torcer por vários insucessos de seus concorrentes. Mas nada disso ocorreu. O Rojo perdeu para o San Lorenzo em casa, por 1 a 0. San Martin e Argentinos Jrs. venceram suas partidas e o gigante de Avellaneda foi rebaixado pela primeira vez em sua história.

Nunca é demais lembrar que a Argentina possui um sistema muito particular de rebaixamento. As três equipes que caem para a B Nacional não são as três piores da temporada, mas as três que tiverem tido a pior média de pontos nos últimos três anos. É o chamado sistema de "promédio" (média, em espanhol).

O sistema é complicado e, frequentemente, garante a sobrevivência de equipes com campanhas fracas, já que uma temporada ruim pode ser compensada por duas boas. Mas uma coisa é certa: o sistema garante que os rebaixados sejam, inevitavelmente, clubes que tiveram repetidos desempenhos ruins. Como dizem muitos argentinos: os promédios, por vezes, salvam equipes que mereciam cair, mas nunca derrubam equipes que mereceriam permanecer.

É exatamente o caso do Independiente. A equipe marcou 43 pontos na penúltima temporada, 47 na última e apenas 38 na atual, uma sequência fraca que evidencia problemas estruturais. Na verdade o rebaixamento do Rojo tem muito em comum com o do River Plate há dois anos. E tem causas muito semelhantes ao processo de declínio de clubes grandes, como Racing e San Lorenzo.

A verdade é que a organização do futebol argentino (com raras exceções, como o Vélez Sarsfield) faz o futebol brasileiro parecer um oásis. Os grandes clubes têm sofrido com muitas administrações ruins, que, para piorar, fazem uso frequente dos violentos barra-bravas para fins políticos, aumentando o poder dessas facções, que seguem atuando de forma praticamente impune.

Para piorar, há o sistema de torneios curtos, em que há um campeão a cada seis meses. Esse desenho faz com que uma sequência de 3 ou 4 maus resultados praticamente condene uma equipe em um torneio, o que dificulta muito o trabalho de longo prazo. Assim, o que se vê são jovens jogadores não terem as oportunidades que mereceriam e o tempo que necessitariam para se firmar. O que explica o fato de nomes como Conca e Montillo não encontrarem espaço em seu país natal, para, posteriormente, brilhar nos gramados chilenos e brasileiros.

O rebaixamento do Independiente tem causas específicas. O presidente anterior, Julio Comparada, deixou uma equipe fraca, um clube politicamente dividido e com os cofres vazios. Seu sucessor, Javier Cantero, evidentemente tem ótimas intenções, mas falhou na montagem do elenco para a atual temporada. Assim, se perdeu aquela que era a última oportunidade para o clube se salvar do inédito descenso.

Enfim, naturalmente o Independiente deve refletir e buscar se refazer, já que é um clube importante não apenas para o futebol argentino, uma vez que o Rey de Copas transcendeu há muito os limites de seu país. Mas isso pouco ajudará se o futebol argentino como um todo não se repensar. Que os descensos de River e Independiente sirvam como (mais um) sinal de alerta de que há algo muito errado no futebol do gigante vizinho.

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