De 'rejeitado' por 60% dos torcedores a líder do Campeonato
Brasileiro, técnico celeste avalia trabalho em Belo Horizonte

Vinícius Dias

Com apenas três derrotas na temporada, o Cruzeiro lidera o Campeonato Brasileiro. Por trás dos ótimos números está o treinador Marcelo Oliveira. Mineiro de Pedro Leopoldo, ele superou a rejeição inicial, que chegava a 60%. "Eu vim para o Cruzeiro pelo trabalho que fiz no Coritiba", observa. Sete meses depois, o trabalho feito na Toca é motivo de elogios. "Isso é gratificante para o profissional", conta. Marcelo tem um aproveitamento superior a 80% no clube.

Técnico destaca trabalho no Cruzeiro
(Créditos: Washington Alves/Vipcomm)

À frente de uma equipe jovem, o treinador se mostra tranquilo quando o assunto é a média de idade do time titular. "A questão da idade não me preocupa muito. Eu preciso do jogador produzindo", explica. E destaca o trabalho desenvolvido pelas categorias de base da Raposa. "O Cruzeiro é uma das boas equipes do Brasil e que forma bons atletas", pontua. Com um elenco testado e aprovado, cabe a Marcelo transformar os sonhos em realidade. A começar pelo Brasileirão.

Em setembro último, você foi demitido do Coritiba, com 62,8% de aproveitamento - em 131 partidas. Em 2011 e 2012, a equipe foi à decisão da Copa do Brasil, encantando o país. Mas, nas finais, não repetiu o bom desempenho de fases anteriores. Qual é a lição que você pôde tirar desses vice-campeonatos para buscar o torneio em 2013?

A lição é a experiência vivenciada e a consciência de que fiz o melhor. Eu acho que a primeira edição, contra o Vasco, que tinha um grande time também, foi igual, equilibrada. Porque o Vasco ganhou de 1 a 0 (no Rio de Janeiro), e nós ganhamos de 3 a 2 (em Curitiba). A questão ficou por conta do regulamento. Então, foram jogos em que o Coritiba jogou muito bem, e o Vasco também.

Já na segunda, em relação ao Palmeiras, ficou uma lição de que é necessário, quando você cria situações, principalmente jogando a primeira partida no campo do adversário, ter um poder maior de decisão, de fazer os gols. E de que havia uma tendência de nos prejudicar, em relação à arbitragem. Com um pênalti muito discutível (a favor do Palmeiras) e, depois, um pênalti claro no Tcheco (meia do Coritiba), que não foi dado. Nós fomos muito prejudicados lá, e no segundo jogo estava chovendo muito e o jogo ficou impraticável, e acho que isso afetou muito em relação ao resultado final.

Em 1977, como atleta, você integrou um dos melhores elencos da história do Atlético/MG. Aquela equipe, no entanto, embora tenha terminado o Brasileirão de maneira invicta, perdeu o título para o São Paulo, que somou dez pontos a menos. Você concorda com a afirmação de que os torneios por pontos corridos são, realmente, mais justos?

É mais justo, sem dúvida nenhuma. Aquele é o maior exemplo disso. Nós estávamos invictos, tínhamos o melhor ataque, a melhor defesa e o artilheiro do campeonato. Em uma partida (na final contra o São Paulo, o Atlético perdeu nos pênaltis, por 3 a 2, após empate no tempo normal) só, tudo pode acontecer. Uma má jornada, uma expulsão, algum equívoco, alguma falha individual pode mudar o rumo de um jogo. Eu acho que o campeonato por pontos corridos premia, sempre, o time de maior regularidade, que fez um planejamento, que tem um trabalho mais consistente.

Você chegou ao Cruzeiro, em dezembro, com o índice de rejeição superior a 60%. As críticas, em geral, estavam relacionadas a seu passado, como treinador e atacante do rival Atlético. Como você recebeu este cenário e, principalmente, como ele interferiu no seu trabalho?

Eu recebi normal. Não tinha nenhuma oposição relacionada à minha competência. Eu vim para o Cruzeiro pelo trabalho que fiz no Coritiba, pelos dois anos lá, em que tivemos um trabalho muito bom. Então, eu dependia só do meu trabalho para provar que não havia nada, do meu profissionalismo, do meu comprometimento com o Cruzeiro, para mostrar que não tinha nada relacionado a outra equipe que trabalhei, à rivalidade que existe aqui.

Inclusive porque, historicamente, outros profissionais já trabalharam no Cruzeiro, no Atlético e vice-versa. Então, eu não tive receio nenhum, e acho que a partir do primeiro jogo (na estreia, o Cruzeiro venceu o Atlético, por 2 a 1, no Mineirão), com a possibilidade de expor o nosso trabalho, já mudou completamente. Hoje, em qualquer lugar que eu vá em Belo Horizonte tem um torcedor do Cruzeiro com uma palavra de agradecimento, de apoio, de incentivo. E isso é gratificante para o profissional.

Em 2012, o Cruzeiro terminou a temporada sem nenhum jogador formado nas categorias de base como titular. Neste ano, sob seu comando, a dupla Mayke e Vinícius Araújo têm se destacado e se afirmado no time. Como você analisa o trabalho das categorias de base do Cruzeiro?

Eu acho que o trabalho é bom. Tem que haver um planejamento, uma filosofia de aproveitamento da base, porque o Cruzeiro é um das boas equipes do Brasil e que forma bons atletas. Talvez, os profissionais anteriores tinham a preferência por jogadores mais rodados, mais experientes, porque o cargo de treinador no futebol brasileiro é muito instável. Então, às vezes, você tem essa preocupação. O menino pode encaixar rapidamente, mas pode demandar um tempo maior para se firmar.

Eu não tinha essa preocupação, porque acompanhei a Taça São Paulo e o Campeonato Brasileiro de Juniores, e vi que os jogadores tinham muita qualidade. O Wallace, que é zagueiro da seleção (sub-20), o próprio Alisson, que estava no Vasco e agora retornou, o Élber, que já estava no profissional, e, principalmente, o Mayke e o Vinícius (Araújo). Eles estavam ali, concorrendo a uma posição e, quando tiveram a oportunidade, se mostraram preparados e, por isso, estão jogando.

Três dos principais nomes deste atual grupo do Cruzeiro já tinham trabalhado com você. Dedé e Nilton, no Vasco. Éverton Ribeiro, no Coritiba. O fato de eles já conhecerem sua 'filosofia' impactou (ou facilitou) de alguma forma no bom aproveitamento coletivo nesta temporada?

Eu acho que para eles facilitou e, talvez, os jogadores conversam muito entre si. Talvez eles já tenham, também, falado ‘o técnico gosta de trabalhar assim e assado’. O que eu primo muito é por aglutinação de atletas, criar ambientes bons, união e trabalho intenso. Eu trabalho muito tecnicamente, muito com bola, sou obstinado pela parte técnica, de toque, de bom passe, bons chutes e finalizações. Então, eu acho que tem ajudado.

A gente, nestes sete meses de trabalho, não teve um problema sequer de indisciplina, absolutamente nada, e os números (o Cruzeiro tem aproveitamento de 80,80%, em 33 partidas nesta temporada) comprovam que o trabalho tem ido bem. Eu fico feliz com isso, acho que o Cruzeiro tem tudo a ganhar quando o trabalho vai bem.

Mesmo com um elenco experiente, o Cruzeiro tem um time titular com média de idade baixa - de 25 anos. Neste cenário, como você avalia a contratação do Júlio Baptista? Acredita que, depois de dez anos no exterior, ele possa assumir a condição de líder de maneira natural?

A questão da idade não me preocupa muito. Eu preciso do jogador produzindo. Para mim, se tiver 18, for da base, 19, 20, ou tiver 25 ou 33, se o jogador tiver produzindo bem, ele vai jogar. Coincidentemente, com a saída de alguns, o time abaixou a média de idade. Mas, estão retornando aí o Dagoberto, o Borges e o próprio Júlio (Baptista), talvez aumente um pouco, mas sem perder a qualidade e o vigor, que é importante.

Em relação ao Júlio (Baptista), acho que ele vai cumprir essas duas funções. Não só uma parte técnica boa, com um jogador que finaliza bem, que chega à área, mas pode ser, pela sua postura, pelo profissionalismo, as referências são as melhores, pode exercer positivamente esse papel de líder, também.

4 comentários:

  1. Aquilo de que o M.O colocou o Dagoberto para jogar, mesmo sabendo que tinha risco de lesão, é verdade?

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    1. Não tive essa informação, Lucas!
      Um abraço.

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    2. Ouvi isso de torcedores. Não da pra saber se é oficial isso.
      Mas fato é, que depois do Dagoberto, o cuidado com rodízio e descanso de jogadores está mais constante. Se não for verdade, ele está tomando precauções de qualquer maneira.

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  2. Excelente a entrevista com o Marcelo. Acho-o muito competente, dedicado e honesto. Torço pela continuidade de seu sucesso como técnico de futebol. Parabéns a ele e ao entrevistador por esta bela publicação.

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