Bicampeã catarinense pela primeira vez na história, Chapecoense
vem superando os principais desafios do processo de reconstrução

Vinícius Dias

No dia 29 de novembro de 2016, o Brasil acordou em estado de choque. O destaque no noticiário era o acidente aéreo, na Colômbia, que havia deixado 71 mortos: a expectativa pela primeira decisão internacional dava lugar ao capítulo mais triste da história da Chapecoense. Por trás dos números, o fim da trajetória de jornalistas, dirigentes, membros da comissão técnica e atletas que Chapecó havia transformado em ídolos. Passados seis meses da tragédia, no entanto, o torcedor do Oeste catarinense volta a ter motivos para comemorar.


"Chapecó abraçou todos os profissionais que chegaram aqui neste ano, entendendo o momento do clube e o quanto seria importante que tivéssemos apoio para desenvolver um bom trabalho. Felizmente, as coisas estão andando até mais do que esperávamos", destaca ao Blog Toque Di Letra o treinador Vagner Mancini, que, há três semanas, conduziu o Verdão ao primeiro bicampeonato estadual de sua história. Desde a apresentação na Arena Condá, o paulista esteve à frente da equipe em 33 partidas oficiais, com 58,6% de aproveitamento.

Chapecoense festeja bi estadual inédito
(Créditos: Sirli Freitas/Flickr/Chapecoense)

Frutos colhidos em meio a um desafiador processo de reconstrução. "Não era somente montar uma equipe de futebol. Era reconstruir todo o departamento de futebol. Mas alguns clubes, inclusive Atlético, Cruzeiro e, principalmente, o Palmeiras, estenderam as mãos para a gente", relembra. Discurso semelhante ao adotado pelo diretor-executivo Rui Costa, no início da temporada, ao comentar a relação com a dupla mineira. "Os dois clubes, objetivamente, têm sido bastante parceiros", exaltou um dos personagens-chave da nova Chapecoense.

Dificuldades nos primeiros dias

A princípio, no entanto, nem tudo foram flores no Verdão. "Os primeiros dias de trabalho foram difíceis. É complicado se reerguer depois de tudo o que aconteceu, entrar na Arena Condá e lembrar da festa que era feita lá e dos amigos que não estão mais aqui", comentou, em março, o zagueiro Fabrício Bruno. Formado nas categorias de base do Cruzeiro, o defensor, de 21 anos, está emprestado pelo clube celeste aos catarinenses até o fim da temporada. A situação é semelhante à de Douglas Grolli. Pelo mesmo período, o Atlético cedeu o meia-atacante Dodô.

Vagner Mancini: 58% de aproveitamento
(Créditos: Sirli Freitas/Flickr/Chapecoense)

As comparações com o elenco do ano passado foram um dos desafios superados. "No começo, houve. Infelizmente, o fato de a Chapecoense ter perdido um time inteiro, parte da diretoria e da comissão técnica fez com que a torcida sentisse muito", avalia Vagner Mancini. "Eles queriam performance rapidamente e, felizmente, isso também aconteceu. O que nos deixa muito seguros de que estamos fazendo um excelente trabalho, todos aqueles que aqui estão, porque não é fácil", argumenta o treinador, que, hoje, vê o time abraçado e alavancado pelas arquibancadas.

Libertadores e volta a Medellín

Além do título estadual, conquistado três dias antes de o Verdão completar 44 anos, o primeiro semestre de reconstrução foi marcado por grandes momentos, como a boa campanha na Libertadores e os encontros com o Atlético Nacional, de Medellín, cidade para a qual a delegação se deslocava no momento da tragédia. "A gente conseguiu montar um time competitivo. Fizemos uma Libertadores muito boa, ganhamos a vaga às oitavas de final dentro de campo", pondera o comandante, citando a punição aplicada pela Conmebol, decisão da qual o clube recorrerá.

Verdão encarou o Atlético, em Medellín
(Créditos: Sirli Freitas/Flickr/Chapecoense)

O bom desempenho de uma equipe montada há cerca de cinco meses surpreende até mesmo a quem acompanha o dia a dia do futebol catarinense. "O grupo entrosou muito rápido. Eu não esperava. Ninguém esperava, aliás. Todo mundo teria que ter um pouco de paciência", recorda Rui Guimarães, comentarista da Rádio Guarujá, de Florianópolis. "(Um dos segredos) foi o comprometimento do grupo em função da tragédia. Chapecó é uma cidade muito acolhedora. Tem 200 mil habitantes, mas é uma família", completa. Família unida pelo verde da esperança.

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