Roger Machado e o valor do estadual

Alisson Millo*

4-1-4-1, 4-3-3, 0 a 0. Uma infinidade de números que, na hora H, não resumem dois times e um jogo. Se o Galo não ganhava do rival há dois anos, a vitória veio quando mais valia. Se o Cruzeiro teve 60% de posse de bola na decisão, um gol de Elias foi o suficiente para fazer 22 mil pessoas explodirem de alegria e, por que não, de alívio. No fim das contas, o número que faz a diferença é o 44, de maior campeão mineiro. Enquanto uns dizem que é rural e não vale nada, só quem ganha sabe o valor que tem. E, mais do que para qualquer outro, o título estadual vale demais para Roger.


Pode ser que tenha valido o emprego para o gaúcho, dado o histórico de impaciência da diretoria com treinadores. A conquista é a coroação de um trabalho às vezes criticado, inclusive por este que vos fala, mas ainda no início e com mostras de que pode render bons frutos. Uma qualidade que quase sempre passa batida por olhos menos críticos é a coragem de assumir o erro. Entender onde as falhas aconteceram, ouvir e buscar a solução, mesmo que ela vá contra suas premissas: foi o que Roger fez em várias ocasiões. O trabalho pagou todas as 'apostas' dele - entre aspas porque não se trata de sorte, e sim de treino, preparação.

Roger Machado festeja primeiro título
(Créditos: Bruno Cantini/Flickr/Atlético-MG)

Quando criticamos Rafael Carioca, o camisa 5 foi bancado e o esquema ajustado para fortalecer o meio: deu certo. O volante recuperou o bom futebol e puxou Marcos Rocha e Fábio Santos, que agora têm cobertura e avançam mais seguros. Quando mais precisava, o time deu resultado. A melhora teve o dedo do técnico, que, mesmo após certa demora, identificou e corrigiu o problema que ele mesmo criara. Não por querer prejudicar, mas por estar em início de trabalho e ter que se adaptar às peças disponíveis. No último domingo, uma dessas peças encaixou como luva. Com ritmo de jogo e as características que o clássico pedia, Adilson foi um leão. Jogou tão bem que, mesmo expulso, saiu aplaudido.

Harmonia entre Roger e elenco

É verdade que de nada importaria o dedo do comandante se os jogadores não acreditassem no trabalho. Mas esse problema Roger não enfrenta. No jogo contra a URT, na Arena Independência, por exemplo, todos os gols foram comemorados com um abraço especial no comandante. Detalhe: quatro dias antes, o Atlético havia perdido para o Libertad, em jogo pela Copa Libertadores, e alguns torcedores chegaram a pedir a demissão do treinador. Mas Fred, Robinho, Léo Silva e outros líderes do elenco confiaram e já começam a colher os frutos.

Elias marcou o segundo gol atleticano
(Créditos: Bruno Cantini/Flickr/Atlético-MG)

Agora, estamos todos unidos em torno de Roger Machado, que tem se provado à altura do serviço pesado que é treinar o Atlético. Mineiro conquistado, vaga às oitavas de final da Libertadores assegurada e muito pela frente. Uma certeza: por ter uma conquista, este ano já é melhor do que foi 2016. E uma esperança: que a boa fase continue e, em dezembro, estejamos comemorando ainda mais.

*Jornalista. Corneteiro confesso e atleticano desde 1994.
Goleiro titular e atual capitão da seção Fala, Atleticano!

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