Gestão é o mote do discurso do advogado, que cita Flamengo como
exemplo e garante: 'Penso no Cruzeiro muito mais descentralizado'

Vinícius Dias

Aos 34 anos, acumulando experiências no departamento jurídico e nas superintendências de gestão estratégica, negócios internacionais e futebol, Sérgio Santos Rodrigues concorrerá à presidência do Cruzeiro nas eleições deste ano. Indicado por Zezé Perrella, o advogado encabeça a chapa Tríplice Coroa com um discurso baseado em gestão e defendendo que o clube seja tratado como empresa. "Envolve eu ter metas, ter um planejamento estratégico, um organograma muito bem definido, orçamento separado por áreas", argumenta ao Blog Toque Di Letra.

Sérgio Rodrigues revela propostas
(Créditos: Ricardo Barbosa/ALMG)

Com o nome lançado apenas três meses depois de deixar a diretoria de Gilvan de Pinho Tavares, o pré-candidato descarta o rótulo de opositor, mas reconhece que há divergência de ideias. "Penso em um Cruzeiro muito mais descentralizado", exemplifica, propondo a criação de um Conselho Consultivo de ex-presidentes. O advogado também responde a questões sobre finanças, participação do senador Zezé Perella em um eventual mandato presidencial e destaca projetos referentes à criação de uma fundação social, equipe sub-23 e futebol feminino no clube celeste.

Desde que assumiu a cabeça de chapa, há duas semanas, o mote de seu discurso tem sido o termo gestão. No último ano, você fez um curso no Real Madrid. Apesar das diferenças econômicas, o que pode ser importado do futebol europeu nesta área? No Brasil, quais são, atualmente, suas referências?

Uma, certamente, é o modelo de profissionalização. A diferença de um Real Madrid, por exemplo, é isso. É você tratar o time como empresa, e não como uma associação sem fins lucrativos. Quando eu falo tratar como empresa é isso: envolve eu ter metas, ter um planejamento estratégico, um organograma muito bem definido, orçamento separado por áreas. Então, não é porque a realidade econômica é diferente que os métodos de gestão não possam ser utilizados aqui. Do Brasil, certamente, o maior exemplo é o Flamengo.

Você tem afirmado que não se vê como oposição, embora ressalte a divergência de ideias em relação ao grupo atual, de situação. Quais são essas ideias? A quatro meses do pleito, elas eliminam qualquer possibilidade de composição?

A divergência de ideias, primeiro, é exatamente essa. Eu penso em um Cruzeiro muito mais descentralizado e administrado como empresa do que em um Cruzeiro em que menos pessoas tomam decisões... Segundo, não é que diminui (a possibilidade de composição). Nós sempre estamos abertos ao diálogo. O próprio presidente Gilvan falou em uma entrevista que nós conversamos no sábado (dia 10) e, de fato, nós conversamos. Só que eu acho que passa por as ideias serem convergentes. Já conhecemos as ideias de várias pessoas. Então, quando a gente for falar sobre nome para uma eventual composição, tem que saber se esse nome está no perfil que se enquadra com a gente.

Hoje, a decisão dos rumos do Cruzeiro está restrita a cerca de 500 conselheiros. Como você avalia a participação do torcedor, que já é realidade em alguns clubes brasileiros? Seria uma alternativa para alavancar o programa de sócios-torcedores, cujos números tiveram queda nesta temporada?

Acho que a gente tem que saber analisar isso bem, porque muitos dos clubes que têm esse voto do sócio-torcedor não são clubes sociais, são só clubes de futebol... eu sei que há clubes sociais que têm isso também. Mas é um modelo que tem que ser bem desenhado, sob pena de a gente monetizar uma eleição. Quais requisitos serão colocados? Senão, corro o risco de chegar alguém que tem muito dinheiro, compra 20 mil sócios-torcedores em um momento pré-eleição e coloca o pessoal para votar. Não sei até que ponto, em um clube como o Cruzeiro, isso é bom.

Se você me perguntar se eu sou a favor ou contra, eu te respondo tranquilamente: não tenho posição definida. Gostaria, como sempre faço nesse modelo de profissionalização que a gente propõe, de estudar como está sendo feito em outros clubes: quais clubes exatamente estão fazendo, em quais moldes, para saber os resultados. Há clube em que o sócio-torcedor tem que estar cinco anos adimplente para votar, outros têm mais sócios, menos sócios. Enfim, acho que é um modelo que deve ser analisado com mais calma. Eu não seria fechado a ele, mas, ao mesmo tempo, não prometo que faria.

Diversos aliados seus têm exaltado o projeto da chamada Fundação Cruzeiro. Na prática, como funcionaria? Quais os benefícios para o clube? Você esteve na administração de 2009 ao início de 2017. Em algum momento, chegou a apresentá-lo à presidência?

Sim, cheguei a apresentar. Logo que eu voltei de Madrid, no ano passado, fiquei encantado com a Fundação Real Madrid. Estudei mais, vi como trabalham as fundações Barcelona, Inter de Milão, Manchester United. O mote delas é devolver para a sociedade o que a sociedade dá para o clube de futebol. A do Real Madrid, por exemplo, investe muito mais fora do que dentro da Europa. Só na África, eles atendem 48 mil crianças. Eu sei que é de uma magnitude muito maior, mas, no Brasil, a gente tem uma carência disso. Além de, obviamente, ter essa forma de praticar uma responsabilidade social, fortalece a marca.

Então, se eu trabalho a marca Cruzeiro por meio da fundação em regiões mais carentes, além de estar fazendo o bem, demonstra que o clube tem essa preocupação em retornar para a sociedade o que ela dá para o Cruzeiro. Isso vai decorrer de diversos projetos. Podem juntar a parte educacional com o futebol. No projeto que a gente fez, está incluído um pouco de projeto paralímpico, que eu acho maravilhoso de a gente investir. Está crescendo bastante, existe lei de incentivo para isso. Enfim, a fundação é uma instituição que dá para ser gerida com 100% de recursos próprios e que eu tenho certeza de que, além de fazer o bem, vai demonstrar que a mentalidade do Cruzeiro é outra: pensa para frente e pensa na sociedade.

De 2011 a 2016, período que contempla o último ano do Zezé e os cinco primeiros do Gilvan, o Cruzeiro teve seis exercícios deficitários seguidos. Quais são os caminhos para ter elenco competitivo, mas mantendo as finanças equilibradas? Ou sua prioridade, a princípio, seria a busca por superávit?

É possível manter os dois. Não é busca por superávit, é busca por equalização. Por isso que eu digo que o Flamengo é um exemplo. Hoje, você vê o Flamengo com Éverton Ribeiro, Guerrero, Diego, Conca, enfim, jogadores com salários altos, de alto quilate, e que eu tenho certeza de que são contratados dentro de um orçamento. A gente só precisa equilibrar isso. Tem que parar de contratar por contratar, de contratar porque eu acho que é bom. A gente tem que contratar aquilo que vai se encaixar dentro do perfil técnico, mas que também seja capaz de encaixar no orçamento. Por exemplo, nada impede que o Cruzeiro, hoje, traga o Éverton Ribeiro. Mas, para trazê-lo, eu teria que tirar jogadores.

Às vezes, nós temos um plantel muito grande. Hoje, trabalha-se, fala-se em grupo profissional com 33, 34 jogadores. Acho que é possível tirar alguns, e nós vamos somar praticamente o salário do Éverton Ribeiro. É só ter mais cuidado na forma de contratar. Em vez de oito com quantidade, contratar com qualidade. Assim, é possível atingir tanto o equilíbrio econômico quanto as grandes contratações... O objetivo de um time de futebol não é ter lucro, é ganhar títulos. Mas a gente quer casar os dois e vários exemplos no mundo demonstram que isso é possível ser feito com gestão profissional. Certamente, se eu vier a ser presidente do Cruzeiro, a partir de 1° de janeiro, a gente já vem para ser campeão mineiro, depois campeão brasileiro, Copa do Brasil. Mas sempre tentando equilibrar a parte financeira.

A partir de 2019, uma das exigências para disputar a Libertadores será a manutenção de um time feminino. No Dia Internacional da Mulher, Zezé Perrella prometeu grande investimento na modalidade. Agora como candidato do grupo político dele, como você visualiza a implementação no Cruzeiro?

Certamente, faremos. Vamos cumprir isso que o Zezé falou, até porque é um projeto muito bacana, é um esporte que vem crescendo muito no mundo. Acho que o ideal é a gente sempre buscar parceiros para não ter que realocar os recursos do futebol profissional ali. Mas, se isso não for possível, a gente tem que buscar (alternativas). Acredito que tenha lei incentivada para isso. Temos que buscar fazer com que o time seja sustentável. Essa é a ideia.

É muito complicado no desporto de alto rendimento, igual a gente tem o nosso futebol profissional, eu deixar de contratar um bom jogador para manter o futebol feminino, a princípio. Acho que, mais para frente, quando o futebol feminino também for mais rentável, pode ser possível. Mas, hoje, o ideal é que a gente tenha parceiros que consigam bancar isso.

Neste ano, o Atlético disputará o Campeonato Mineiro da Segunda Divisão com time sub-23. Clubes como Inter e Grêmio têm projetos semelhantes, a Primeira Liga pode adotar esse recorte em 2018. No Cruzeiro, vários recém-promovidos estão emprestados. Esse pode ser um meio de o próprio clube lapidar os atletas?

Vejo com excelentes olhos. Não é nem com bons, não. O Atlético/PR, que é uma referência de base, também tem. Nos clubes europeus, é mais que uma realidade você ter o sub-23 disputando as segundas divisões de campeonatos. Lá não tem o regional, às vezes até participam do nacional. O Atlético/PR, por exemplo, às vezes empresta o sub-23 para algum clube jogar o Paulista. Não tenho dúvidas de que pode ser uma coisa excelente para nós. Temos que ver a viabilidade de fazer isso na Toca I, na Toca II. Mas é um projeto que faz parte dos nossos planos.

Voltando à chapa Tríplice Coroa, sua relação com Zezé Perrella, que lançou sua candidatura em mensagem aos conselheiros, vai além do Cruzeiro. Você é amigo e advogado dele. Caso seja eleito presidente, como você planeja administrar o clube em relação à participação do senador ou total autonomia nas decisões?

Na verdade, não é só do senador. Nós somos um grupo. Esse grupo também tem o Alvimar Perrella, tem o Giovanni Baroni, que é o atual vice-presidente da chapa, temos que escolher quem vai ser o outro. Então, essa participação de todos vai ser efetiva. Não vai existir interferência de um, dois ou três. A gente sempre discute as boas coisas para o Cruzeiro, e é inegável o que Alvimar e Zezé já fizeram de bom para o clube. Mas, mais do que isso, até lancei como proposta, nós queremos fazer um Conselho Consultivo de ex-presidentes.

Eu também quero ouvir o doutor Gilvan, quero ouvir o doutor (José Francisco) Lemos, César Masci, já convidei o Rafael Brandi para fazer parte em nome do pai dele (Felício). Acho importante ouvir todos aqueles que construíram a história do Cruzeiro para que eles possam nos ajudar com a experiência que têm. Então, não vai ser, porque eu sou indicado pelo Zezé, o Zezé vai tomar decisões. Dentro das decisões de composição no nosso grupo, o grupo inteiro vai tomar. Dentro de decisões boas para o Cruzeiro, eu quero ouvir todos os ex-presidentes.

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