Pelo tri e pelo hexa: o Cruzeiro que sabe sofrer

Douglas Zimmer*

Salve, China Azul!

Na vida, precisamos saber gerenciar os sentimentos que permeiam nosso dia a dia. Entre todas nossas reações aos fatores externos, acredito que duas coisas sejam fundamentais para que tenhamos uma vida equilibrada e que progrida em todos os fatores: saber amar e saber sofrer. Saber amar é entregar ao próximo aquilo que temos de melhor. É identificar no outro alguma necessidade e dar algo de si para que essa lacuna seja preenchida. Por outro lado, saber sofrer é a capacidade de, diante de situações complexas, delicadas, tristes, enfim, negativas, conseguir absorver algum ensinamento, por menor que seja, para que, com ele, nos tornemos seres humanos melhores ou mais preparados para o futuro. E, nos tornando melhores, a tendência é de que sejamos ainda melhores no amor. Ou seja, é um ciclo que precisa ser considerado com carinho por todos.


Mas o que isso tem a ver com o Cruzeiro? Tudo. O clube estrelado inicia setembro vivo nas duas competições de mata-matas, depois de jogos alucinantes e uma belíssima carga de sofrimento, devidamente dosada e ministrada no time e no torcedor. É fato que a Raposa e todos que fazem parte de seu universo vêm aprendendo, ano a ano, a fina arte de saber sofrer. No bom sentido, claro. A vida do cruzeirense é marcada mais por momentos felizes do que por angústias. No entanto, nas horas difíceis, em que o imponderável ameaça dar as caras, a sorte não colabora, quando a bola mais fácil do ano não entra, torcida e time têm demonstrado frieza e coragem para absorver o sofrimento e transformá-lo em força.

Sonho do tri da América segue vivo
(Créditos: Vinnicius Silva/Cruzeiro E.C.)

Nas duas últimas disputas eliminatórias, passamos por um turbilhão de sensações: da euforia à preocupação, ao temor de perder uma vaga quase certa, até finalmente podermos sentir o alívio pelo confronto vencido. Nos dois casos, com todo o respeito aos adversários, o sofrimento foi, até certo ponto, desnecessário. Com duas vitórias nos duelos de ida na casa dos rivais, voltamos para Belo Horizonte com a incumbência de manter o ritmo, impor nosso jogo e garantir a vaga com tranquilidade. Não foi assim que aconteceu. Contra o Santos, uma disputa que ia se encaminhando calma e tranquila só acabou depois que o drama dos pênaltis nos foi favorável.

Com paciência e a classificação

Pela Libertadores, após o magnífico 2 a 0 diante de um Maracanã lotado, mais uma vez estivemos perto de colocar a classificação para a fase seguinte em risco. Em primeiro lugar, o excelente placar conquistado no Rio de Janeiro poderia ter sido ainda melhor, se não fossem as chances claríssimas desperdiçadas no fim da partida, quando o rubro-negro buscava um gol desesperadamente. No jogo de volta, outra vez a falta de pontaria no ataque acabou dando um gás inesperado aos cariocas, que venceram o jogo, mas não levaram a vaga. O lado bom disso tudo é que, em ambos os casos, em nenhum momento o time e a torcida perderam a cabeça.

Raposa agora encara o Boca Juniors
(Créditos: Vinnicius Silva/Cruzeiro E.C.)

Mesmo sabendo que as coisas poderiam ocorrer de forma mais tranquila, é visível que os placares dos jogos de volta não refletiram a produção e a disposição da equipe. E essa tranquilidade para não entrar em colapso foi fundamental para sair vitorioso. Soubemos sofrer! Soubemos aguentar duas noites não muito boas, mas que, no fim, foram de alívio e de fazer planos para continuar em busca de títulos. Que estes dois exemplos tão recentes nos sirvam de lição. O futebol, na maioria das vezes, não tolera erros. O Cruzeiro vem acertando mais do que errando, é verdade, mas é preciso ter muito cuidado para que não aceitemos com naturalidade as falhas em confrontos que tendem a ficar cada vez mais difíceis.

Estamos aprendendo a sofrer, sim. Mas não nos esqueçamos de amar. Saber amar continua sendo muito mais agradável e não maltrata tanto assim nossos corações. Rumo ao tri e ao hexa.

Força, Cruzeiro!

*Gaúcho, apaixonado pelo Cruzeiro desde junho de 1986.
@pqnofx, dono da camisa 10 da seção Fala, Cruzeirense!

Um comentário:

  1. Porquê o Mano não aproveita o resto do Campeonato Brasileiro para testar valores da base ? O time está em uma posição confortável, quase sem risco de rebaixamento.
    É a hora de dar oportunidade aos garotos. Quem sabe algum craque não desponta ? Quem sabe algum jogador mediano não é vendido por milhões de euros ? Se eles não jogarem agora, vão jogar quando ?
    Vamos puxar pela memória - qual foi o último jogador da base que virou titular incontestável do Cruzeiro ? O Murilo estava bem ano passado, mas com a volta do Dedé sumiu. Quem mais ? Sinceramente, não me lembro de ninguém nos últimos dez anos.

    Milhões e milhões de reais são gastos e o retorno tem sido pífio. Não aparecem craques e não são feitos bons negócios. Tem algo errado no processo.


    Mas um jogo contra o Inter é sempre uma boa oportunidade. Vamos lá, Mano. Coragem !

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