Morador de Itabirito, Jorge Senra dos Reis destaca paixão desde
os tempos de Palestra Itália e fala sobre crescimento de torcida

Vinícius Dias

No fim dos anos 1930, Jorge Senra dos Reis trocou Itabirito, na Região Central de Minas Gerais, por Belo Horizonte. Deixar a pacata cidade natal para se aventurar como condutor de bondes na capital, que tinha mais de 200 mil habitantes na época, significava ainda se distanciar das jornadas esportivas do Itabirense Esporte Clube. No novo endereço, a paixão pelo futebol seguiu viva, mas ganhou novas cores. Aos 18 anos, Jorge Senra conheceu o verde e vermelho do Palestra Itália, que a seguir deu lugar ao azul e branco do Cruzeiro.


"Eu morava perto (do estádio Juscelino Kubitschek, onde o Palestra Itália mandava suas partidas), na Augusto de Lima, no Barro Preto. Gosto de futebol e sempre ia ver os treinos", rememora o torcedor celeste, de 94 anos, que atualmente mora em Itabirito. "Os jogadores, quando saíam do campo, passavam a mão (cumprimentando) em minha cabeça... Falei: 'que povo camarada'", acrescenta, citando um dos motivos que, há quase oito décadas, despertaram a paixão pelo clube.

Jorge Senra: apaixonado pelo Cruzeiro
(Créditos: Vinícius Dias/Blog Toque Di Letra)

A trajetória de vida do torcedor conserva vários pontos em comum com a história da Raposa. Ambos deram seus primeiros passos em 1921: em 02 de janeiro, foi fundado o então Palestra Itália; em 04 de junho, nasceu o itabiritense. Adulto, Jorge trocou Itabirito por Belo Horizonte; e o Palestra virou Cruzeiro e se popularizou. "No início, era preciso olhar ao redor para falar que era cruzeirense. Em Itabirito devia ter uma meia dúzia. Depois, a torcida foi crescendo, crescendo", diz.

Três capítulos memoráveis

Em meio à profusão de recordações, Jorge Senra enumera três capítulos especiais: as conquistas da Libertadores, as vitórias nos clássicos ante o Atlético e o título da Taça Brasil de 1966, contra o Santos, com direito a triunfo por 6 a 2 no Mineirão. "Cruzeiro ganhou deles aqui, ganhou lá (no Pacaembu) e foi campeão. Em um lance, Pelé foi expulso... ele não queria sair de campo, e nós em cima dando vaia nele", relata. "Fico emocionado, qualquer coisa do Cruzeiro me emociona. Eu gosto mesmo", afirma, com uma réplica da mascote celeste em mãos.

Pai e filho rememoram títulos celestes
(Créditos: Vinícius Dias/Blog Toque Di Letra)

As histórias são compartilhadas com o filho mais velho, Jorge Antônio de Carvalho Reis, de 57 anos. "Só alegria. Foi graças a meu pai que passei a torcer para o Cruzeiro. Desde criancinha eu vejo o time jogar, vi ganhar daquele Santos", afirma. Jorge Antônio, que tinha sete anos na época em que Dirceu Lopes, Tostão e companhia conquistaram o país, também se enche de orgulho ao recordar conquistas recentes, como o bicampeonato brasileiro em 2013 e 2014.

Ídolos e nomes marcantes

Com o passar dos anos, Jorge Senra trocou a arquibancada do Mineirão, sucessor do estádio JK na linha do tempo azul, pela TV. Hoje, na sala de casa, cumpre com relativa facilidade a tarefa de escalar equipes históricas. Mas qual seria o time ideal, afinal? Raul; Pedro Paulo, Procópio, Perfumo e Vanderlei; Piazza, Zé Carlos, Dirceu Lopes e Tostão; Niginho e Joãozinho. "Ainda tem o Fábio, que é formidável, Nelinho, que também foi um ótimo lateral", pondera. Entre os presidentes, o primeiro citado é Felício Brandi, que comandou o clube entre 1961 e 1982.

Heloisa ao lado do esposo e do filho
(Créditos: Vinícius Dias/Blog Toque Di Letra)

O nome de Tostão, por sinal, logo faz o olhar de Senra procurar a esposa Heloisa Elza de Carvalho Reis, de 83 anos. "Quando nos casamos, ela era atleticana", afirma. "Atleticana, mas gostava do Tostão", confirma Heloisa. Jorge retoma a palavra para citar um caso dos anos 1960. "Uma vez, ela ouviu o presidente do Atlético falar mal do Tostão e, depois disso, virou cruzeirense". A paixão atualmente inclui até menções a Santo Antônio em lances em que o rival oferece perigo à meta celeste. "Quando eu peço, (a bola) não entra", afirma. O marido sorri.

3 comentários:

  1. Deus abençoe a todos da família,muita saúde e feliz 2016. Saudações CRUZEIRENSES

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  2. Muito bacana ver isso! Parabéns! Eu era muito pequeno mas me lembro, embora vagamente daquele triunfo contra o poderoso Santos de Pelé. Lembrou meu pai, apaixonado pelo Cruzeiro, e eu também, claro.

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  3. Bela matéria. O senhor Senra é um grande cruzeirense, e nós nos orgulhamos do senhor.

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