Invicto diante do trio da capital na primeira fase, Trovão Azul
é intruso nas semifinais: 'se deixarem, beliscamos', diz técnico

Vinícius Dias

Em outubro, enquanto Atlético e Cruzeiro se preparavam para a reta final do Brasileiro e o América encaminhava a volta à elite, a URT interrompia o hiato de seis meses no futebol profissional para começar o planejamento para o estadual deste ano. Um semestre depois, o Trovão Azul colhe os frutos. Intruso entre o trio da capital nas semifinais do Mineiro, o time do Alto Paranaíba ainda conquistou o inédito título de campeão do interior. A fim de desvendar os segredos da campanha histórica, o Blog Toque Di Letra ouviu vários personagens ligados à URT.


A montagem do elenco semifinalista, atualmente formado por 28 atletas, teve como um dos pontos-chave a parceria com o agente Bruno Lobato, que chegou a ocupar o posto de diretor de futebol do clube nos últimos meses. "Ele é daqui de Patos de Minas e tem jogadores no exterior e em todo o país. O convidei para participar e ele aceitou", conta Roberto Túlio Miranda, presidente da URT. O primeiro reforço para este ano foi Rodrigo Possebon, meio-campista ex-Manchester United e Santos, contratado no fim de outubro.

Elenco reunido em palestra de Ademir
(Créditos: Arquivo Pessoal/Ademir Fonseca)

A pré-temporada teve início no dia 07 de dezembro, sob o comando de Edson Porto. O trabalho do técnico, no entanto, foi interrompido 19 dias antes da estreia no Mineiro. O motivo apontado à época foi um desacerto financeiro com a direção. Ademir Fonseca, o substituto, foi oficializado no dia seguinte. "No início, tivemos algumas dificuldades. Não conhecíamos a maioria dos atletas e mudamos a metodologia de treinos. Toda mudança traz consequências. Graças a Deus prevaleceu o lado positivo", destaca o técnico, campeão paulista pelo Ituano em 2002.

Fé e união do elenco

Trabalho facilitado pela coesão interna. "Esse grupo é simples, mas muito unido. Não se conquista nada sozinho", ratifica o goleiro e capitão Jakson Follmann, ex-Grêmio. "Eles compraram a ideia do trabalho", exalta Ademir Fonseca. O técnico cita ainda a liderança exercida por Rodrigo Possebon, Daniel Marques e Nadson, três dos jogadores mais renomados do elenco, mas atualmente reservas. "Eles trazem a receita de grupo vencedor e me ajudam muito nos bastidores, no dia a dia".

Momento de fé na concentração do time
(Créditos: Arquivo Pessoal/Paulo Vinícius Macedo)

Para boa parte do elenco, a união é alimentada pela fé. "Independente da religião, nós fazemos, normalmente às terças-feiras, uma reunião na casa de um atleta. Trocamos experiências, lemos a Bíblia e louvamos a Deus. Depois fazemos um lanche", revela o preparador de goleiros Paulo Vinícius Macedo. "As esposas também frequentam, é um momento muito alegre", completa. Na véspera dos jogos, o ritual de fé é repetido pelos atletas na concentração da URT.

O 'paredão' de Patos

Com oito gols sofridos, a URT teve a segunda melhor defesa da primeira fase. Individualmente, destaque para Follmann. "É o melhor momento da minha carreira", diz. Fã de Taffarel, o gaúcho que parou os ataques de Atlético e Cruzeiro é o dono da braçadeira. "Sou novo (24 anos), mas tenho essa liderança de cobrar dos companheiros. Fico feliz em ter essa confiança do professor", festeja. A boa fase atrai elogios do preparador, ex-goleiro do Vasco. "É impressionante a velocidade de reação dele... A seleção poderia ter olhos para ele", diz Paulo Vinícius.

Follmann passou pela seleção sub-19
(Créditos: Bruno Cantini/Flickr/Atlético-MG)

O ataque funcionou apenas dez vezes na primeira fase. Ainda assim, Ademir Fonseca exalta o volume de jogo. "Na estreia, contra o Cruzeiro, criamos pouco. Depois passamos a criar muito. Contra o Villa Nova, por exemplo, criamos muitas oportunidades, porém acabamos fazendo um gol contra. Nossos atacantes não tiveram a felicidade de fazer o gol. Agora no fim o Carlos Magno (artilheiro do time, com três gols) começou a desencantar", analisa. "Mas ainda há tempo de balançar as redes", minimiza o treinador, cujo esquema preferido é o 4-4-2.

Parceria com o rival

A campanha histórica, curiosamente, também passa pela política de boa vizinhança com o Mamoré. Com capacidade superior à do Zama Maciel, o estádio Bernardo Rubinger, que pertence ao rival, foi alugado para o jogo com o Atlético, na 5ª rodada - a URT voltou a bater o alvinegro depois de 15 anos -, e vai receber uma das partidas da semifinal. "A rivalidade deve existir apenas dentro das quatro linhas. Fora delas, tem de haver união", afirma o presidente Roberto Miranda.

Bernardo Rubinger receberá semifinal
(Créditos: Site Oficial da URT/Divulgação)

Da luta contra o rebaixamento até a rodada final em 2015 à classificação para a semifinal após 11 anos, o discurso em Patos é de dever cumprido. "Agora, o que queremos é sonhar. Vamos continuar fazendo nosso jogo humildezinho e, se deixarem, a gente belisca", destaca Ademir Fonseca. A modéstia é justificada pelos números. O clube tem a menor folha salarial entre os classificados: cerca de R$ 200 mil. A vaga no G4, contudo, valeu renda extra para os atletas e comissão técnica. "50% da renda líquida da semifinal será premiação", revela o presidente.

Classificação inédita

O ótimo desempenho abre uma possibilidade inédita: disputar a Série D. Apesar da vaga conquistada, a participação não está garantida. "Estamos tentando parcerias com alguns times. Nós temos esperança de disputar", diz Roberto Miranda. Um dos entraves é o aspecto contratual. Conforme levantamento feito pelo Blog em conjunto com o portal Rede do Futebol, somente o terceiro goleiro Wadson (11/2016) e o atacante Ian (01/2018) têm vínculos além do estadual.

5 comentários:

  1. Na humildade vamos chegar lá !!! Da-lhe URT !!!

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  2. Imprensa de BH sendo obrigada a falar dos times do interior

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    1. Sr. Carlos !! te pergunto !! o que tem haver imprensa fazer matéria com time do interior ? isso te encomoda em que ? não consigo entender essa coisa de brasileiro querer ser melhor que os outros !! somos todos iguais !!! chega de preconceito !! e parabéns pela matéria !! muito boa reportagem !! parabéns !!!!

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  3. Dá lhe URT. Valeu Levou o nome de Patos para todo o Brasil.

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  4. Muito bacana a reportagem! Que a URT continue crescendo e sendo sensação em Minas!

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