Alisson Millo*
Na
segunda-feira, de cabeça quente pela derrota - e ensopada pelo temporal -, em
vez de dormir, cometi o erro de checar as redes sociais. Victor não pôde ser
responsabilizado, Patric e Gabriel não entraram, e Elias não foi mal. Os alvos
de sempre saíram impunes, então pior para Thiago Larghi que teve que carregar a
culpa sozinho. Entre as publicações, o rótulo de 'aprendiz de treinador' e até
pedidos de 'fora, Larghi'.
Claro,
mexeu mal. Tirou Matheus Galdezani e Elias, abriu o time e, em mais um vacilo
da defesa, mais três pontos ficaram para trás. Mas, por muito tempo, senti um
prazer até meio sádico em usar esse espaço para cair matando em treinadores que
passaram pelo Atlético. Sobrou para Levir Culpi e Diego Aguirre, que, pensando
hoje com mais maturidade, fizeram um bom trabalho à frente do Galo,
principalmente Levir.
|
Atlético voltou a perder no Horto (Créditos: Bruno Cantini/Atlético-MG) |
Agora,
pelo menos por enquanto, vou usar o espaço para defender o atual treinador.
'Vendido, cruzeirense disfarçado, Brasileiro é obrigação, etc'. Para não sofrer
com tais argumentos irrefutáveis, já os antecipei para poupar quem pensou em
usá-los. Mas, primeiro, vamos aos erros de Larghi. Não existe defesa e
paciência que justifiquem tantos gols bobos e falhas, principalmente nos
minutos finais e/ou na bola parada. Os pontos perdidos contra Vasco, Palmeiras,
Bahia, Internacional e mais algum que eu possa ter esquecido nos deixariam mais
próximos de São Paulo e Flamengo.
O 'bom e barato' que não se paga
Minha
defesa vai além de resultados. Claro, gostaria de vir aqui a cada 15 dias
celebrar vitórias, elogiar Deus e o mundo, apontar o Atlético como o melhor
time do Brasil. Mas, para um dia chegarmos ou voltarmos a esse patamar, o
primeiro passo precisa ser dado. Uma mudança na mentalidade precisa acontecer.
E não sou eu tentando ditar regras - quem sou eu. É um convite a uma análise um
pouco mais aprofundada.
|
Sucesso de Ricardo Oliveira é exceção (Créditos: Bruno Cantini/Atlético-MG) |
No
começo, a proposta da diretoria era um time bom e barato, austeridade. Quem
me acompanha sabe que não comprei essa ideia - e, provavelmente, você também
não. Mas fato é que veio uma barca de jogadores, quase todos emprestados, a
maioria para o já saturado setor ofensivo. O legado se resume a Ricardo
Oliveira, que nem é unanimidade. Roger Guedes foi muito bem no Brasileirão, mas
viu o Galo mais como vitrine que qualquer outra coisa. Samuel Xavier e Arouca
também já se foram, e Erik segue no elenco - peço perdão por lembrá-lo. Iago
Maidana só agora está sendo testado, então ainda não é possível avaliar o
primeiro reforço para a zaga.
Velho problema sem nova solução
Depois
chegou Juninho e, com ele, aquela atuação desastrosa no Allianz Parque. O
criticado Gabriel foi titular em boa parte da temporada, alternando com o
também jovem Bremer e um fisicamente inconstante Léo Silva. Mesmo aos 39 anos,
nosso capitão ainda é o melhor zagueiro do elenco. E isso diz muito sobre as
outras opções. Mas, desde o ano passado, Bremer era tratado com perspectiva de
venda, Gabriel era irregular e era sabido que não seria possível contar com Léo
Silva em todos os jogos. Quem a diretoria esperava que fosse resolver o
problema? Felipe Santana?
|
Galdezani ganha espaço no elenco (Créditos: Bruno Cantini/Atlético-MG) |
No
início do ano, saíram Marcos Rocha e Carlos César. Chegaram Samuel Xavier e
Emerson, que perderam na bola para Patric: encerrado o assunto lateral-direita.
No lado esquerdo, a reserva de Fábio Santos ficou com Danilo Barcelos, que era
nosso, foi emprestado, retornou por falta de opção e já saiu de novo por ter
ido mal. Atualmente, contamos com os improvisados Juninho e Lucas Cândido, além
de Hulk que, em sua segunda partida como profissional, foi vaiado quando se
lesionou. Há duas semanas, destaquei a mudança de atitude necessária para a
base revelar mais. Mas passava pelos torcedores e, pelo visto, tive pouco
sucesso.
Entre o céu e o inferno, o 5º lugar
No
meio-campo, Adilson e Gustavo Blanco se machucaram e não têm previsão de
retorno. José Welison vem sendo uma grata surpresa, Matheus Galdezani está
progredindo, mas os dois entregues ao DM eram titulares e pilares na solidez
que o time tinha antes da parada para a Copa do Mundo. Mais à frente, Roger
Guedes se foi, Otero também, e Cazares ficou por muito tempo em um limbo sem saber
se sairia ou não.
|
Larghi manteve dois titulares pós-Copa (Créditos: Bruno Cantini/Atlético-MG) |
Do jogo
com o Ceará, o último pré-Copa, à derrota para o Internacional, sobraram Victor
e Ricardo Oliveira. As duas extremidades do time titular. A queda de rendimento
é inegável, mas passa muito pela falta de continuidade. Trocar o comando significaria
ampliar o problema. Basta olhar o mercado. O América acertou na loteria com
Adilson Batista, mas nada garante que o Atlético terá a mesma sorte. Larghi,
que já foi tratado como grande achado, está longe de ser um Telê Santana, mas é
preciso ter calma. O quinto lugar não é a liderança que experimentamos no
início do Brasileirão, mas nem se aproxima dos prognósticos catastróficos de
janeiro.
*Jornalista. Corneteiro confesso e atleticano desde 1994.
@amillo01 no Twitter, capitão da seção Fala, Atleticano!