Equilíbrio à mineira

Vinícius Dias

Em um duelo repleto de alternativas, declarações e atitudes polêmicas, e raça, que se sobrepôs à pouca qualidade técnica, Cruzeiro e Atlético/MG protagonizaram, no 50º embate pelo Campeonato Brasileiro, um dos mais emocionantes confrontos da história do clássico belorizontino. Ao fim, um empate por 2 a 2.

Tendo o objetivo primário bem delineado: anular os pontos fortes do rival, para, na sequência, partir no contra-ataque, a Raposa, que abusava das faltas - foram 20, contra dez do rival - dominou a etapa inicial. Wallyson, após investida de Éverton, abriu o placar. Já nos acréscimos, Léo Silva, com categoria, empatou.

Na volta a BH, clássico equilibrado
(Créditos: Washington Alves/Vipcomm)

No segundo tempo, mais emoção. O Atlético, afoito, deixava a desejar no último passe - errou 25 vezes, dez a mais que a equipe celeste. Até que Ronaldinho Gaúcho, num lampejo do R10, que encantou o mundo com a camisa do Barcelona, marcou após extraordinária jogada individual. Com nove atletas em campo, o alvinegro estava, pela primeira vez, à frente do marcador.

O líder Atlético estava a alguns minutos de derrotar o clube estrelado, de virada - o que não ocorre desde a segunda fase do Brasileirão de 99 -, quando, após aproveitar passe de Walter Montillo, Matheus deu números finais ao confronto.

Em noite iluminada de Ronaldinho e Montillo: 2 a 2.
E, enfim, um clássico com 'alma clássica' em Minas.

Clássico é clássico!

Vinícius Dias

No domingo, 26 de agosto, Cruzeiro e Atlético/MG se enfrentam na Arena Independência, 17 anos após o último confronto no Horto. O duelo, válido pela 19ª rodada, será o 50º na história do Campeonato Brasileiro. Até o momento, equilíbrio total. Foram 17 vitórias para cada clube, e outros 15 empates.

O embate promete. O Atlético, que, a despeito do placar final, terminará o turno na liderança, pode, caso vencer, superar o Grêmio - que anotou 43 pontos no turno final em 2010 - e cravar o melhor desempenho em uma metade do Brasileiro. A turma de Bernard, Ronaldinho e Jô, pode chegar a marca dos 45 pontos.

A Raposa, por sua vez, promete apagar os rastros negativos da vexatória goleada diante do Coritiba na última rodada. De quebra, pode avançar na tabela e terminar o turno a somente quatro pontos do G4. No entanto, precisará superar a instabilidade. Até aqui, os azuis somaram (apenas) 14 pontos em seus domínios.

Ao soar o apito inicial, as forças se igualam.
E clássico é clássico!!! Qual é o seu palpite?

As lições do estadual

Vinícius Dias

Onze vitórias, dois empates e uma derrota. Os números do líder Atlético nas primeiras 14 rodadas da série A impressionam. Aproveitamento que supera o do Cruzeiro de 2003, campeão com pontuação recorde, e que a essa altura tinha 68,9%. O Corinthians, atual vencedor, já contabilizava duas derrotas e 73,3% em igual período. O Galo de Cuca alcança 83,3% dos pontos que disputa.

O crescimento é exponencial. A zaga, artilheira, é segura demais. E conta com decisivo apoio dos volantes, em ótimo momento. Ronaldinho Gaúcho, que parece ter retomado a vontade de jogar futebol, é o esteio de Jô, que se movimenta muito, e do jovem Bernard, principal figura do Brasileirão até o momento.

Exemplo tático

Seja no 4-2-3-1 habitual, que resgata a antiga ideia dos pontas, ou no 4-3-1-2, em que Bernard (ou Gaúcho) faz companhia à Jô, o esquema de Cuca tem funcionado muito bem. Ainda melhor que no título estadual, conquistado de forma invicta após 36 anos. E ganha força extra do ótimo início, que faz do alvinegro o time de melhor defesa e ataque mais eficaz do certame. O cansado ego atleticano tem se alimentado do bom futebol em doses protéicas.

Campeão ou não, o Atlético entendeu a lição do estadual.
É simples: acreditar nos defeitos, duvidar das qualidades.

Torcedores do ouro!

Vinícius Dias

É ouro? Parabéns! Assim, nós brasileiros tratamos o esporte nacional. Um triste retrato. Reducionista demais para quem acaba de bater a marca de 100 medalhas na história das disputas. Os vizinhos Estados Unidos, por exemplo, têm mais de 90 apenas em 2012. Claro, investimentos em novos valores e sucesso, são grandezas - quase - proporcionais. E o Brasil investe menos.

Porém, como questionar dirigentes se mal conhecemos os atletas? Se nos lembramos de judô a cada quatro anos? Se conhecemos o taekwondo no dia em que destacamos o insucesso (ou sucesso?) do operário Diogo Silva? E se questionamos a qualidade do tri-medalhista Emanuel, do vôlei de praia? Ê, Brasil! Que questiona Cielo, ouro em Pequim, pelo bronze em Londres. Qual futuro queremos?

À caça dos porquês

Ótimos talentos nos decepcionaram, óbvio. Mas o que há de anormal? O futebol, enormemente celebrado e pentacampeão do planeta, jamais nos brindou com o ouro olímpico. Enquanto - os incógnitos - Sarah Menezes e Arthur Zanetti puseram no peito a medalha inédita em suas competições. Ainda podem vir mais. A participação em Londres tende a ser a melhor da história tupiniquim.

O comportamento dos torcedores como anfitriões no Rio, em 2016, preocupa. Imagine-os vaiando seus compatriotas. Ou pior, pense na possibilidade de serem deselegantes com os adversários. Não, não é possível. O brasileiro vai respeitar e entender, sobretudo, que o participante olímpico é, por si, um vencedor.

Tomara, entenda! Pois a mentalidade, hoje, é deplorável.
No tom de: glórias cabem ao país e fracasso aos atletas.

Torcedores de (ou do?) ouro!

O time do artilheiro Damião

Vinícius Dias

Poucas seleções olímpicas se assemelham tanto ao time principal como a brasileira. Titulares na disputa de Londres'12, Neymar, Thiago Silva, Hulk, Leandro Damião, Sandro e Marcelo estiveram nas últimas convocações do técnico Mano Menezes e devem marcar presença na Copa do Mundo Fifa de 2014.

A base está, de fato, pronta. O Brasil desembarcou em solo inglês como favorito. E não precisou fascinar para fazer jus ao posto. Em cinco jogos, 100% de aproveitamento. Quinze gols anotados e cinco sofridos. Objetivo alcançado. 24 anos após perder de virada para a União Soviética, volta a disputar o Ouro.

O título inédito do Brasil pode vir na manhã deste Sábado. Diante da boa seleção mexicana, em Wembley. Na terra dos inventores do esporte. Que viu a sonhada renovação, iniciada por Dunga, ganhar cara de título sob a batuta de Mano.

Mr. Menezes. Que comanda a seleção de Neymar.
Mas faz dela o time do artilheiro Leandro Damião!


Após diversos testes e improvisações no setor, considerado
carente, cúpula estrelada retomou negociações com Kléber

Vinícius Dias

A lateral-esquerda do Cruzeiro é uma incógnita. Apenas nas cinco últimas partidas, Diego Renan, Marcelo Oliveira e Éverton foram testados. Gilson, contratado no início da temporada, deixou a equipe na última sexta-feira, rumo ao Vitória/BA. Por Emiliano Papa, titular do Vélez Sarsfield, não teve negócio.

Mas as tentativas prosseguem. Embora a cúpula negue, o Blog Toque Di Letra apurou que a Raposa voltou à carga para contar com o experiente Kléber, do Internacional/RS. Contundido, o ex-ala da Seleção não joga há mais de um mês, e participou de apenas duas partidas neste Campeonato Brasileiro.

No entanto, o clube gaúcho não vai facilitar a transferência, e já contra-ataca nos bastidores. "Motivada" pela oferta celeste, a diretoria Colorada deverá propor a prorrogação do contrato atual, que se encerra em 31 de janeiro de 2013.

Histórico vencedor

Eleito o melhor lateral-esquerdo do país, em 2007, Kléber tem no currículo 21 partidas pela Seleção Brasileira, e três conquistas: a Copa América de 2007, a Copa das Confederações/2009, e o Superclássico de las Américas, disputado em 2011.

Marcelo Bechler: à moda mineira

Com passagens por vários veículos mineiros, Marcelo Bechler
tem se destacado como comentarista esportivo em São Paulo

Vinícius Dias

Jornalista formado em 2008 pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), o belorizontino Marcelo Machado Bechler é, hoje, um dos expoentes da imprensa paulista. Para ele, "não existe opinião sem informação".

Bechler exibe talento em São Paulo
(Créditos: Facebook/Reprodução)

Trabalhou nas rádios Inconfidência e Globo-CBN (MG), e na TV Horizonte. Foi colaborador do Jornal Hoje em Dia e da Rádio Jovem Pan, São Paulo. Atualmente, é comentarista do Sistema Globo de Rádio, em SP, e escreve no Blog do Bechler.

Quando você optou pela carreira de jornalista? Algum familiar ou profissional de sucesso lhe influenciou no gosto pela comunicação esportiva? 

Optei muito cedo, ainda com 12 anos. Gostava muito de futebol e decidi trabalhar com isso. Cheguei a ter dúvida entre jornalismo e educação física, mas como sempre gostei de escrever, gostava de história e geografia, optei naturalmente pelo jornalismo.

Como você analisa o sucesso do rádio esportivo brasileiro, mesmo diante da constante modernização das transmissões televisivas no país?

O rádio também se moderniza. Interação com o público, mais dinamismo. Na verdade, esporte é sempre consumido e rádio não é um meio caro. Existe já estrutura montada há muito tempo e ela é aproveitada. É um meio que tem grande alcance e segue vendendo publicidade.

49 anos depois do Santos de Pelé, em 1963, o Corinthians vence a Libertadores de maneira invicta. Sem grandes estrelas, fez valer a força do conjunto. O que isso significa, no momento em que, cada vez mais, os conjuntos brasileiros têm contratado atletas de fama internacional?

O próprio Corinthians contrata. Ronaldo, Adriano, Alex (que o clube pagou 7 milhões de euros). A questão é o time montado pelo Tite. Nunca privilegiou as estrelas e ganhou um brasileiro e uma Libertadores. Mostra como trabalho bem feito, a médio e longo prazo, traz resultado. Mais importante que a grife é o trabalho. Apesar do Corinthians ser hoje o clube mais rico do Brasil, tinha Edenilson, Ralf, Castan, Paulinho, William, Edenilson...todos jogadores que foram garimpados de equipes menores. Serve de lição para clubes com menor investimento e que precisam ser competitivas.

Campeã do Mundo, em 2010, e das Eurocopas, em 2008 e 2012, a Seleção Espanhola se mantém na liderança do ranking da Fifa. Para você, o que faz desse um conjunto vencedor? É o favorito ao título em 2014?

A Espanha tem uma ótima geração e isso faz diferença. Mas o principal foi entender o próprio jogo. Perceberam suas qualidades e tentam explorá-las ao máximo. Sabem de seus defeitos e tentam se proteger deles. Não tem centroavante? Joga sem centroavante. Não precisa ser refém de um esquema. Não é um time perfeito, mas é um time que minimiza erros como nenhuma outra seleção consegue fazer. E já virou escola. O time olímpico (apesar do fracasso) tinha 2 jogadores do Barcelona e mesmo assim jogava como o time catalão e a seleção espanhola. Já independe das peças, há uma filosofia.

Indicado ao Prêmio de Melhor do Mundo em 2011 e cobiçado por grandes clubes europeus, Neymar acertou - há seis meses - sua renovação contratual com o Santos. Para você, é possível que o atacante alce voos mais altos, mesmo permanecendo no Brasil?

Para isso, ele vai precisar de um time. A ideia era compensar o dinheiro que o Santos abriu mão (o recebimento da multa) dando um bom time para Neymar e vendendo as outras peças. Foi o que fez quando vendeu Wesley, André, Zé Eduardo, Alex Sandro, Danilo e Jonathan. Ter um bom time, vender peças periféricas, repor bem, seguir competitivo. O plano era esse. Mas com o time mau, fica mais difícil convencer Neymar a não se seduzir com propostas de outros centros.

Caso o Santos vencesse a Libertadores de novo em 2012 e Neymar brilhasse nas Olimpíadas, seria possível começar a cogitar em brigar, e não participar, do prêmio de melhor do mundo.

Há algum tempo, o nível da arbitragem nacional tem sido bastante questionado. Você acredita em benefício a determinadas equipes? Vislumbra no uso de tecnologias eletrônicas e/ou profissionalização dos árbitros, medidas eficazes na resolução deste quadro?

A tecnologia para determinar se a bola ultrapassou a linha de gol eu sou favorável. É relativamente simples e fácil de fazer. Outros lances são mais complicados. Lembro em 2008, um lance entre Cruzeiro x Flamengo. Tardelli caiu na área e na hora vi pênalti claro. Pelas imagens da TV minha certeza só aumentou. Dois dias depois, uma outra imagem mostrou que não houve nem choque entre os dois.

Sobre nível de arbitragem, será cada vez mais questionado. Justamente porque as câmeras mostram o que o olho não consegue enxergar. É natural e tende a aumentar.

Como você se posiciona no que se refere à atuação (em algumas ocasiões, violenta) das torcidas organizadas no país? É favorável à extinção?

A extinção pura e simples só dificulta a identificar o infrator. Os hooligans, enquanto permaneciam do seu lado da torcida, eram controláveis. Os problemas começaram quando eles se infiltravam entre os adversários e começavam os tumultos. É importante ter punição severa. Em uma briga de 300 pessoas, como houve esse ano em SP, não podem ter 9 presos. É punir um a cada 30. Se houver punição rígida, os fatos violentos diminuem com certeza.

Um dos principais eventos esportivos dos próximos anos, a Copa do Mundo de 2014 será sediada no país. O que você pensa a respeito? Vê como oportunidade de desenvolvimento, ou chance de mascarar as deficiências?

Era a grande chance de virar o jogo, e nós estamos perdendo. O país nunca viu tanto investimento e no final a conta não vai fechar. Os custos não param de crescer, por ter que acelerar as obras, os cofres já foram desfalcados em mais de 1 bilhão. Poderíamos aproveitar o investimento e mudar a cara das cidades, mas tudo será feito no improviso. Se você tem uma avenida que te leva ao estádio, poderia construir outra, ampliar essa, levar o metrô até lá. O que vamos fazer? Antes do jogo as duas vias em um sentido, depois do jogo as duas vias no sentido contrário. É muito pouco.

Mas há outro fator. A Copa de 2006 foi na Alemanha e a Itália venceu. Uma vez, ouvi Klinsmann dizer "perdemos a Copa, mas ganhamos o país". Por tudo que envolvia o orgulho alemão afetado desde as guerras do século passado. Isso pode acontecer no Brasil. Nos dar mais confiança, mais orgulho, mais patriotismo e menos patriotada. Mais zelo pelo nosso dinheiro, etc. Vamos aguardar.

Bate-pronto:

• Ronaldo ou Romário?

Ronaldo.

• Pelé ou Messi?

Pelé.