O Cruzeiro e o clássico dos seis erros no Mineirão

Douglas Zimmer*

Salve, China Azul!

No último domingo, no Mineirão, o Cruzeiro enfrentou o primeiro teste um pouco mais complicado neste início de temporada. Depois de vencer as duas primeiras rodadas, a Raposa perdeu os primeiros dois pontos ao empatar com o Atlético naquele que eu gostaria de chamar de jogo dos seis erros.


O primeiro erro, mas não o mais importante, não teve a participação direta dos protagonistas da partida. Desde o começo do jogo, a arbitragem se mostrou um tanto quanto confusa. Marcações duvidosas, algumas jogadas negligenciadas e, no segundo tempo, boa parte do tempo tomado para uma substituição inusitada. A meu ver, nosso adversário teve um lance de penalidade máxima não marcada logo no início do confronto e, ainda no primeiro tempo, o auxiliar não confirmou um gol do Cruzeiro onde houve disputa por espaço seguida de esperteza do zagueiro atleticano. 

Clássico mineiro terminou empatado
(Créditos: Vinnicius Silva/Cruzeiro E.C.)

No que diz respeito ao Maior de Minas, alguns detalhes não saíram bem como o planejado ou como o esperado. Destaco três situações principais que impediram o terceiro triunfo seguido no estadual. Confesso que achei que a equipe aceitou com muita facilidade a marcação adversária, especialmente no primeiro tempo. A falta de agressividade para se impor diante da torcida estabelece o nosso erro de número dois na partida. Claro que ainda é muito cedo para criticar de maneira cruel o início de trabalho do grupo, mas fica o alerta para as próximas ocasiões.

Mais um erro do time de Mano...

O terceiro erro, ainda relacionado ao time e sua postura, foi a falta de criatividade. Muitas jogadas previsíveis e pouco repertório para buscar desmontar o já citado sistema defensivo do oponente. A grande parte das jogadas começava pelo meio e acabava caindo no lado esquerdo com Egídio, que, não encontrando ajuda, mandava um chuveirinho improdutivo para a área, normalmente nas mãos do goleiro. Outra vez, concordo que seja demasiadamente cedo para análises muito aprofundadas, entretanto este defeito também foi visto por diversas oportunidades no ano passado.

Dupla de zaga celeste falhou no dérbi
(Créditos: Vinnicius Silva/Cruzeiro E.C.)

O último erro do Cruzeiro, o quarto da nossa análise, talvez seja o mais pontual, mas o mais decisivo para o placar final. A falta de comunicação, de tempo de bola, o excesso de confiança, ou dê àquela jogada o nome que quiser, não só deu ao outro time a oportunidade - aproveitada - de empatar o jogo como chamou o adversário de volta ao jogo. A presepada de Léo e Dedé, que têm crédito com a torcida e com esse que vos fala, foi determinante para o resultado da partida. Uma infelicidade, talvez. Que se trabalhe para que isso não se repita.

...e os vários erros dos dirigentes

Os dois últimos erros partiram de quem deveria primar pela qualidade do espetáculo. Marcar um clássico da importância de Cruzeiro x Atlético com times ainda buscando se encontrar, às 11h, em janeiro, não é justo nem com jogadores nem com torcedores. Muitos dos erros citados acima talvez não tivessem ocorrido em outras circunstâncias. O que é certo é que nenhum dos problemas teria acontecido se o principal e último erro desta lista não tivesse sido cometido: o jogo em si, dado o contexto que o estado de Minas Gerais vive, jamais poderia ter sido realizado nessa data.

Atacante Fred fez o gol do Cruzeiro
(Créditos: Vinnicius Silva/Cruzeiro E.C.)

Problemas com TV, calendário, divergências entre diretorias, poderiam e, sem dúvidas, seriam resolvidos depois. O luto e a dor dos afetados direta ou indiretamente pela tragédia em Brumadinho será eterna. Não vejo motivos para a FMF não ter adiado toda a rodada logo após a notícia do desastre. Por um fim de semana, o futebol deveria ceder seu espaço para que toda a atenção possível fosse dispensada em tentar minimizar os efeitos da devastação que testemunhamos. Deixar a discussão para o sábado serviu apenas para criar um clima ruim entre clubes, imprensa e federação.

Questionamentos sobre assuntos única e exclusivamente ligados ao futebol, como a comemoração do gol do Cruzeiro, são um claro exemplo  de que não havia o menor clima para a partida. Não condeno de forma alguma Fred e seus companheiros. Gol é motivo de festa, sim. Mas acontece que, no momento, não temos nada para comemorar e tínhamos - e temos - coisas muito mais importantes para nos preocupar.

Força, Cruzeiro!

*Gaúcho, apaixonado pelo Cruzeiro desde junho de 1986.
@pqnofx, dono da camisa 10 da seção Fala, Cruzeirense!

Perrella convoca Conselho para debater finanças

Vinícius Dias

A situação financeira do Cruzeiro entrará em pauta no Conselho Deliberativo no dia 11 de fevereiro. A pedido do presidente do clube, Wagner Pires de Sá, o presidente Zezé Perrella convocou uma reunião extraordinária, que acontecerá na sede social do Barro Preto. O Blog Toque Di Letra teve acesso à correspondência que será encaminhada pelo senador aos conselheiros beneméritos, natos e associados conselheiros. 

Senador presidirá reunião no dia 11
(Créditos: Zezé Perrella/Twitter/Divulgação)

A pauta do encontro inclui apresentação do planejamento financeiro; deliberação e aprovação para realização de operações financeiras e bancárias, com autorização para concessão de garantia real de patrimônio associativo para obtenção de empréstimos; além de deliberação sobre plano de pagamento de passivos diversos do clube celeste e autorização para utilização dos recursos obtidos no mercado financeiro.

Cruzeiro encaminha venda de Gabriel Brazão

Vinícius Dias*

Considerado um dos principais goleiros sub-20 do futebol mundial, Gabriel Brazão deve deixar o Cruzeiro antes mesmo de fazer sua estreia como profissional. O arqueiro, de 18 anos, é alvo da Internazionale, da Itália. Na contagem regressiva para o fechamento da janela local, nesta quinta-feira, os italianos sinalizaram uma proposta de € 2,5 milhões a € 3 milhões ao clube celeste, que detém 70% dos direitos econômicos.

Goleiro está com a seleção sub-20
(Créditos: Vinnicius Silva/Cruzeiro E.C.)

Conforme o Blog Toque Di Letra apurou, a Raposa tenta uma composição para manter até 30%. As negociações são intermediadas pelo agente italiano Gabriele Giuffrida, em parceria com Daniele Monti. Influente em Milão, Gabriele esteve envolvido recentemente nas tratativas que levaram o belga Nainggolan, ex-Roma, à própria Internazionale, além do uruguaio Laxalt e do polonês Piatek, ambos ex-Genoa, ao arquirrival Milan.

Reunião para discutir empréstimo

Com a compra encaminhada, o agente se reuniu nessa segunda-feira com o presidente do Chievo, clube cotado para receber o goleiro por empréstimo na chegada à Itália. Nos bastidores, empresários com bom trânsito na Europa avaliam que, confirmado o valor, a Internazionale fará "um grande negócio de ocasião". No mercado, a avaliação inicial era de que seria necessário investir pelo menos € 7 milhões para tirar Brazão do Cruzeiro.

*Atualizada às 21h10

1 minuto de exemplo, 90 de falta de bom senso

Vinícius Dias

Domingo de sol em Belo Horizonte. Como em Brumadinho. Na capital, 22 jogadores dos dois maiores clubes de Minas Gerais em ação, em dia para ninguém comemorar, na 3ª rodada do estadual. A cerca de 60 quilômetros dali, dezenas de vítimas e centenas de desaparecidos, em meio a mais uma tragédia do capitalismo que, se um dia sustenta, no outro agoniza e destrói famílias. Mas a bola rola porque o futebol, imerso em sua realidade paralela, ignora tudo o que acontece fora de campo.


Também porque falta bom senso. Desde a marcação do principal jogo e, portanto, produto da primeira fase para um domingo, às 11h, na segunda semana da temporada, à manutenção após a catástrofe. Mesmo quando o estadual, meio de sobrevivência de grande parte dos clubes do interior, tem contrato com a TV até 2021, mas aporte garantido apenas até o próximo dia 21 de abril. Quanto vale uma vida ceifada? Quanto vale o não adiamento do clássico e de outras cinco partidas estado afora?

União entre rivais: o grande exemplo
(Créditos: Vinnicius Silva/Cruzeiro E.C.)

É excelente que, acima da histórica rivalidade, cruzeirenses e atleticanos tenham se mobilizado por doações no estádio. Ainda melhor é compreender que solidariedade não deve - ou não deveria - estar condicionada a futebol. Se a tragédia na Boate Kiss, em janeiro de 2013, levou a Federação Gaúcha a cancelar uma rodada do estadual, exatos seis anos depois o jogo seguiu, literalmente, na realidade paralela da bola. Nas Minas ontem Gerais, hoje de lama. Quanto vale o futebol sem eco na cidadania?

O abraço entre rivais no minuto de silêncio foi um exemplo.
Muito distante de outros 90 minutos de falta de bom senso.

Brumadinho: Mineirão receberá doações no dérbi

Vinícius Dias

Se dentro de campo Cruzeiro e Atlético escreverão neste domingo mais um capítulo da histórica rivalidade, fora dele os torcedores terão a oportunidade de se unir em um ato de solidariedade. O Mineirão contará com três pontos de recebimento de donativos para as vítimas da tragédia de Brumadinho, que já deixou nove mortos e centenas de desaparecidos.

Iniciativa acontecerá no clássico
(Créditos: Agência i7/Mineirão)

A iniciativa no Gigante da Pampulha ocorrerá de 8h a 12h. Serão posicionadas carretas nas esplanadas Norte e Sul, além da via de integração do Mineirinho - para doações de atleticanos. Entre os pedidos estão água mineral, alimentos não-perecíveis e prontos para consumo - como biscoitos, leite e suco de caixinha -, produtos de higiene pessoal e fraldas.

Vamos, Galo! É hora do primeiro grande teste!

Alisson Millo*

Duas partidas, duas escalações totalmente diferentes e dois resultados completamente opostos neste início de temporada. Começou assim o Campeonato Mineiro do Atlético. E é com essa preparação que vamos encarar o clássico de domingo: um time titular que começou muito bem e um time C que demonstrou com todas as letras por que aqueles jogadores, com raras exceções, são as últimas opções do técnico Levir Culpi.


Mas foco no time que enfrentará o rival. Com permanência assegurada pelo presidente, Luan foi a pauta deste início de ano: vai, não vai, quer ficar, quer ir, ficou balançado, troca por Clayton, troca por Romero. O mais importante é que o meia-atacante deu três assistências na estreia e foi ovacionado pela torcida. Quem também mostrou sua qualidade foi nosso vovô garoto do ataque. Artilheiro de 2018, apesar da má fase na reta final, Ricardo Oliveira provou que o faro de gol o acompanhou no ano-novo.

Time titular estreou com o pé direito
(Créditos: Bruno Cantini/Atlético-MG)

Réver voltou e trouxe aquela velha qualidade na saída de bola. A seu lado, o recém-chegado Igor Rabello fez uma estreia segura e, ainda que não tenha sido muito testado pelo ataque do Boa Esporte, foi bem. Mais à frente, a situação de Elias ganha contornos de novela mexicana, mas, em campo, o camisa 7 começou bem, fazendo gol e tendo boa atuação. Caso o desfecho desse drama criado pelos agentes do volante seja positivo para nós, um treinador experiente como Levir deve conseguir aproveitar o melhor do atleta, que é comprovadamente um referencial técnico.

Chará continua sem convencer

Quem não empolgou foi Chará. O meia-ponta-atacante terminou mal o ano passado e começou 2019 da mesma forma. A maior compra da história do Atlético não anda fazendo jus às enormes cifras investidas em seu futebol e, mantendo essa toada, deve perder a vaga entre os titulares. Quem fez o suficiente para tomar a vaga do colombiano? Na verdade, ninguém, mas fica a corneta pelo alto custo diante do futebol apresentado.

Equatoriano ainda não emplacou
(Créditos: Bruno Cantini/Atlético-MG)

Contra o Tombense ninguém se destacou - não positivamente, pelo menos. Não é terra arrasada, nem de longe, mas alguns ali não parecem ter salvação. O que fica de positivo é o uso de jogadores que normalmente têm poucos minutos em campo. Estadual é justamente para isso, ainda mais com um calendário tão apertado quanto promete ser em 2019.

O primeiro grande teste passa pelo bom adversário de domingo. O histórico joga a nosso favor, mas os números vão fazer pouca diferença no clássico. Retrospecto não vale três pontos. Entrega, bom desempenho e, claro, gols ganham jogos. E o time já se mostrou capaz de fazer os três. O que nós esperamos é que faça de novo neste domingo.

*Jornalista. Corneteiro confesso e atleticano desde 1994.
@amillo01 no Twitter, capitão da seção Fala, Atleticano!

Primeira Liga pode virar fórum nacional de clubes

Vinícius Dias

Fora do calendário de 2019, a Primeira Liga deverá ter seus rumos definidos em março, quando os dirigentes serão convocados para reunião. À espera do encontro, ganha força nos bastidores a possibilidade de a entidade fundada no eixo Sul-Minas-Rio se transformar em um fórum nacional de debates entre os clubes. Conforme o Blog Toque Di Letra apurou, a alternativa desperta o interesse até mesmo de não filiados, especialmente da Série B, que têm mantido contatos com o presidente Marcus Salum.

Londrina conquistou título em 2017
(Créditos: Gustavo Oliveira/LEC)

Na nova composição, além dos atuais 19 membros - nove deles da Série A e sete da própria Série B -, a entidade passaria a representar os interesses de um bloco de clubes da divisão de acesso. "Tenho sido procurado por muitos clubes da Série B para a gente fazer reuniões setoriais", confirma Marcus Salum. À frente da Primeira Liga desde o fim de 2017, o presidente do América é considerado uma das principais lideranças da Série B, tendo encabeçado as negociações com a TV em 2015.

Sub-23 e volta em 2020 em pauta

Entre os filiados da elite, um dos principais entusiastas da Primeira Liga como fórum de debates é o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan Júnior. O dirigente tem defendido o formato desde o surgimento da entidade, em 2015. Internamente, são cogitadas pelo menos mais duas alternativas: o retorno da Copa ao calendário a partir de 2020, no período de pré-temporada, e a transformação em torneio sub-23 ou de base. Também não está descartada a possibilidade de extinção, caso não haja consenso.

Cruzeiro monta estratégia para blindar Popó

Vinícius Dias*

Autor de 127 gols e 43 assistências em 163 partidas com a camisa do Cruzeiro. É com esses números impressionantes que Vinícius Popó, de 17 anos, inicia sua caminhada no sub-20. Tratado como uma das principais revelações recentes da base celeste, o atacante conta com uma estratégia especial de blindagem, conforme apurou o Blog Toque Di Letra. O pacote inclui desde contrato longo até plano visando à transição do artilheiro do elenco na Copa São Paulo de Futebol Júnior.


Vinícius Popó chegou à Toca da Raposa I em 2014, no sub-14. Após a renovação, sacramentada em agosto passado, o atacante tem vínculo com o Cruzeiro até julho de 2023. O acordo inclui reajuste salarial a cada temporada no clube, que detém 80% de seus direitos econômicos. "Popó é um menino muito bom, cabeça boa, foi destaque em todas as categorias. A gente tem uma expectativa muito boa para ele, um bom plano de carreira", confirma o diretor geral da base celeste, Quintiliano Lemos.

Joia tem média de 0,78 gol por jogo
(Créditos: Gustavo Aleixo/Cruzeiro E.C.)

O paulista, que já havia balançado as redes mais de 70 vezes quando assinou seu primeiro contrato profissional, aos 16 anos, atualmente tem multa rescisória estimada em R$ 300 milhões. Além das altas cifras, um dos trunfos da Raposa é a boa relação com o staff encabeçado por Luiz Rocha - também representante do volante Lucas Silva - e Paulo Rocca. "Luiz tem uma parceria muito boa com o clube. É um cara que respeita bastante o Cruzeiro. Nós também o respeitamos bastante", completa o dirigente.

Transição planejada nos bastidores

Goleador do pré-infantil ao junior, chegou a hora de ir para a Toca II? "Popó é um atleta em formação, precisa se desenvolver mais em alguns aspectos físicos, técnicos, táticos, de leitura de jogo. Ele tem o um contra um nato, se posiciona bem, finaliza bem. Não podemos queimar etapas. Mas já temos, internamente, todo o processo de transição pensado", detalha Quintiliano. "Quando o Mano achar a possibilidade, ele vai participar do grupo, saber como é o profissional, mas também servindo à base", revela.

*Atualizada às 12h32

Cemil encerra patrocínios a Cruzeiro e América

Vinícius Dias

Uma das principais patrocinadoras do futebol mineiro nas últimas quatro temporadas, a Cemil não deverá ter sua marca estampada na camisa de nenhum dos clubes de Belo Horizonte em 2019. Ausente da nova coleção do América, lançada na última quinta-feira, a empresa de Patos de Minas também ficou fora da estreia do Cruzeiro no estadual, nesse sábado, diante do Guarani. Conforme o Blog Toque Di Letra apurou, inicialmente, os contratos encerrados no ano passado não serão renovados.

Empresa estampou camisas na Série A
(Créditos: Cruzeiro/América/Twitter/Divulgação)

Parceira do Cruzeiro desde 2015, a empresa do ramo de laticínios chegou a abrir conversas sobre a possibilidade de prorrogação. Após dois títulos da Copa do Brasil e mais uma vez na Libertadores, no entanto, a diretoria celeste tem trabalhado com a expectativa de forte valorização das propriedades da camisa. A Cemil investiu cerca de R$ 2,7 milhões no acordo para ocupar a omoplata nas últimas duas temporadas - R$ 1,35 milhão por ano, cifras que o clube pretende reajustar em pelo menos 60%.

Espaço à disposição no Coelho

No caso do América, as partes sequer iniciaram negociações visando à renovação. Nesse cenário, a cúpula alviverde já tem prospectado parceiros para o espaço, apresentado como disponível em conversas com o mercado - entre 2017 e 2018, o contrato firmado com a empresa patense rendeu cerca de R$ 600 mil. Sonho antigo nos bastidores da Cemil, a retomada da parceria com o Atlético, que esteve no rol de clubes patrocinados em 2015, também não deverá ser concretizado nesta temporada.

Guarani x Cruzeiro: futebol entre negócio e social

Vinícius Dias

Quando o apito do árbitro trilou, 22 jogadores começaram a correr atrás da bola pela primeira vez na temporada. Com quintais e lajes virando arquibancada para quem não pôde ir ao estádio, muros virando fachadas para expor as bandeiras e a paixão das torcidas. De uma que sonha com o tri da América - e, em boa parte, despreza o estadual - e de outra, adversária nesse sábado, mas com grandes chances de se transformar em aliada depois de abril, quando seu clube não terá mais calendário.


Foi exatamente esse o cenário de Divinópolis, no duelo entre Cruzeiro e Guarani. Será também das visitas do rival Atlético e dos demais gigantes brasileiros ao interior de seus estados. Porque, hoje, o objetivo do interior é sobreviver - em Minas Gerais, faturando 14 vezes menos que Galo e Raposa - nos torneios que enchem os cofres da capital. Mas o estadual é, também, o momento de o futebol cumprir seu papel social. De os ídolos, que no passado iam às escolas, irem pelo menos às cidades dos fãs.

Lajes e casas cheias em Divinópolis
(Créditos: Bruno Haddad/Cruzeiro E.C.)

Pergunte ao garoto de oito anos que mora longe da capital o que ele prefere assistir pela TV. É possível que a resposta seja o futebol europeu, com uma constelação de nomes que o videogame o ajudou a decorar em campo, e não um jogo do clube pelo qual seu pai torce. Estadual significa aproximação, mas o sucesso passa por repensá-la. Mais datas para os menores, menos datas para os maiores e um calendário mais racional e menos produtor de crises para os clubes que, na prática, o sustentam.

O grande erro do estadual não é existir somente no Brasil.
Isso pode ser solução. Erro é pensá-lo como no século XX.

Você se foi? Não importa! O Cruzeiro é maior!

Douglas Zimmer*

Quando uma criança sonha em ser jogador(a) de futebol profissional, o que ela mais deseja caso o sonho se torne realidade? Fama? Dinheiro? Ganhar a vida com aquilo que mais ama? Títulos? Reconhecimento? Ser ídolo de uma grande torcida? Defender a seleção do seu país? Acho que, entre outras coisas, todas essas perguntas podem ser respondidas com um sonoro 'sim'. Mas, para algumas crianças que crescem e atingem o tão desejado status, todos esses privilégios não são o suficiente.


Antes de tudo, para mim, não há comparação entre jogadores de futebol e as profissões tradicionais. O esporte mais praticado do mundo, apesar de assim parecer, não é só negócio. O futebol nosso de cada dia mexe com emoção, paixão, nos tira o sono, nos faz sonhar, mas, acima de tudo, envolve amor. O amor por seu clube, sua seleção, pelo time do bairro, enfim, tudo o que esteja relacionado ao esporte. Em contrapartida, apesar desses sentimentos, muitas vezes somos expostos a situações indigestas que transformam o que era uma bela história em ressentimentos e mágoas.

Camisa 10 deixou o clube celeste
(Créditos: Vinnicius Silva/Cruzeiro E.C.)

Não cabe a mim julgar os motivos que levaram um dos principais nomes de nossa história recente a sair da Toca da Raposa II pela porta dos fundos. Certamente uma proposta de aumento salarial tão expressiva mexe com quase todo mundo. Às vezes, o profissional vê a oportunidade de atingir um patamar nunca antes imaginado e esquece rapidamente tudo o que foi construído de forma recíproca, honesta, suada e vitoriosa ao lado de outrem - no caso, milhões de cruzeirenses. Quando as cifras saltam aos olhos, tudo perde a importância e palavras viram apenas palavras.

Três despedidas e algumas lições

Vida que segue, evidentemente. Jogador nenhum é maior que o Cruzeiro. No fim, o que fica é sempre a imensa torcida, que jamais abandonará suas cores e aprenderá, dia após dia, a não venerar qualquer um que a encante com belas jogadas, gols importantes e palavras vazias. Vida que segue, inclusive, com as saídas de Sóbis e Mancuello. O primeiro, mesmo longe de ser unanimidade, sempre deixou seu máximo dentro de campo. O segundo, apesar de massivamente criticado pelo torcedor, inclusive este que vos fala, também deixou o clube sem arranhar sua imagem.

Mancuello se transferiu para o México
(Créditos: Washington Alves/Light Press/Cruzeiro)

Espero que todos tenham aprendido um pouco com essas histórias, que, particularmente, me surpreenderam. Quanto a mim, vou procurar idolatrar quem demonstrar absoluto respeito com a instituição Cruzeiro Esporte Clube. Quanto às demais partes envolvidas, torço para que não cometam os mesmos erros daqui para frente. Não cabe bem a um profissional que um dia foi criança, sonhou em ser jogador de futebol, ser ídolo de um grande clube, negar a idolatria de tantas crianças que viam nele um exemplo. Vida que segue. Vidas que se separam. E o Cruzeiro segue maior.

*Gaúcho, apaixonado pelo Cruzeiro desde junho de 1986.
@pqnofx, dono da camisa 10 da seção Fala, Cruzeirense!

Guia do interior: medalhões e apostas do Mineiro

Vinícius Dias

Apostar as fichas em medalhões com passagens por clubes da Série A e até pela seleção brasileira? Abrir espaço para talentos revelados por América, Atlético e Cruzeiro? Ou dar oportunidades para os pratas da casa? Com planejamentos e realidades distintas, os nove clubes do interior compartilham um sonho no Campeonato Mineiro: pôr fim à sequência de 13 anos de conquistas da capital. De Poços de Caldas a Tombos, passando por Juiz de Fora, a bola rola a partir deste sábado no estadual.


Campeão do interior em 2018, o Tupi será comandado por Ailton Ferraz. O elenco conta com o retorno do meia Leandro Brasília e ganhou reforços como Aislan, zagueiro ex-São Paulo e Vasco, e Hugo Ragelli, atacante ex-Cruzeiro. Vice-campeão do módulo II, o rival Tupynambás está de volta à elite. O volante Leandro Salino, tricampeão grego pelo Olympiakos, é o grande nome. O treinador Felipe Surian ainda terá à disposição os experientes Glaysson, goleiro de 39 anos, e Ademilson, atacante de 44 anos.

Ademilson vai defender o Tupynambás
(Créditos: Patrocínio Photo Studio/Tupynambás)

Surpresa de 2018, o Patrocinense será comandado por Wellington Fajardo e aposta no retorno de destaques do elenco que chegou às quartas de final, como o lateral-direito Angelo, o zagueiro Diego Borges e o volante Bruno Moreno. O Tombense investiu pesado. Entre os reforços estão dois nomes de padrão Série A: o goleiro Felipe, revelado pelo Santos, e o experiente lateral-esquerdo e meia Juan, ex-Flamengo, que defenderam o CSA/AL na campanha do acesso. O treinador será Ricardo Drubscky.

Alvirrubros terão perfis distintos

Maior campeão entre os clubes do interior, o Villa Nova sonha alto. Fred Pacheco terá à disposição o volante Roger Bernardo e o lateral-esquerdo Eron, ex-Atlético, o atacante Elias, ex-Botafogo, além de quatro ex-cruzeirenses: o goleiro Georgemy, o zagueiro Arthur, o volante Eurico e o meia Luiz Fernando. Campeão do módulo II, o Guarani manteve o meia-atacante Leomir, um dos destaques do acesso. Entre os reforços à disposição de Gian Rodrigues está o meia Ewerthon Maradona, ex-Caldense e URT.

Roger Bernardo: reforço do Villa Nova
(Créditos: AV Assessoria de Imprensa/Divulgação)

O Boa Esporte, comandado por Tuca Guimarães, terá o goleiro Renan Rocha, ex-Athletico/PR, e o volante Edenilson, de volta ao Brasil após oito anos na Europa. A URT, de Sidney Moraes, conta com o retorno do meia Cascata, um dos pilares da campanha de 2017, além do lateral-direito Alan Silva, ex-Democrata, e do zagueiro Gladstone, ex-Cruzeiro. A Caldense aposta na volta do zagueiro Robinho, que se junta ao goleiro Osmar, um dos destaques do elenco de 2018. O treinador será Ito Roque.

Piscininha, amor! Egídio e o hit de Whadi Gama

Vinícius Dias

Sucesso entre os jogadores do Cruzeiro após o vídeo publicado pelo lateral-esquerdo Egídio durante as férias nas Bahamas, o bordão "Piscininha, amor" ganhou uma versão musical nessa segunda-feira. Assinada por Whadilen Menezes Gama, mais conhecido como Whadi Gama, de 17 anos, a composição se transformou em hit nas redes sociais e já conta com mais de 137 mil visualizações no Instagram e 19 mil no Youtube.

Egídio durante férias nas Bahamas
(Créditos: Instagram/Reprodução)

Números que deixam o baiano, que atualmente reside em São Paulo, incrédulo. "Sabia que se chegasse até os jogadores ia estourar. Mas não sabia se ia chegar", justifica ao Blog Toque Di Letra. Torcedor do São Paulo e músico desde os três anos, Whadi teve a ideia tão logo assistiu ao vídeo gravado por Egídio, no qual chama o mar de piscininha, e hoje comemora. "Antes disso, eu tinha 100 seguidores". Agora, já são 14,6 mil.

Troca de mensagens com Fred

Dois dos novos seguidores são o zagueiro Léo e o centroavante Fred. Além de trocar mensagens com o compositor, o camisa 9 fez questão de reproduzir a música em seu perfil no Instagram, nessa segunda-feira, dançando ao lado de jogadores como o próprio Egídio e o volante e capitão Henrique na Toca da Raposa II. O Cruzeiro se prepara para a estreia no Campeonato Mineiro, no próximo sábado, diante do Guarani, em Divinópolis.

Com reajuste, Mineiro pagará R$ 38,5 milhões

Vinícius Dias

Os clubes do módulo I e a FMF receberão, somados, quase R$ 38,5 milhões pelos direitos de transmissão do estadual neste ano. Segundo o Blog Toque Di Letra antecipou no fim de 2016, a renovação para o período de 2017 a 2021 foi fechada com valor inicial de R$ 36 milhões. O contrato prevê reajuste a cada edição com base em índices de mercado, o que representará mais R$ 1,4 milhão na comparação com a última temporada

Estadual terá valores recordes neste ano
(Créditos: Federação Mineira de Futebol/Divulgação)

Donos das maiores fatias, o atual campeão Cruzeiro e o rival Atlético ficarão com mais de R$ 12,7 milhões cada. O América embolsará quase R$ 3 milhões, enquanto cada um dos nove representantes do interior receberá uma cota na faixa dos R$ 900 mil. A primeira parcela será paga antes da rodada de abertura do Campeonato Mineiro, agendada para o próximo sábado, dia 19. A organizadora também terá direito a um percentual.

Garantia de TV apenas até 2019

Mesmo com contrato até 2021, nos bastidores, o tom é de incerteza quanto ao aporte da TV nos próximos anos. Conforme revelado em outubro, uma cláusula abre a possibilidade de rescisão sem multa até 30 dias após o encerramento desta edição. Com isso, a posição definitiva sobre 2020/2021 sairá apenas em maio. No Mineiro, as receitas são alavancadas pelas placas de publicidade, comercializadas pelos próprios clubes.

Olê, Marques! Olê, meu diretor! Vamos, Galo!

Alisson Millo*

Com o desenrolar do trabalho de Gallo em 2018, surgiu a oportunidade para Marques, então diretor das categorias de base, assumir o futebol profissional do Atlético. A reação inicial foi de descrença. Não gostaria de ver meu ídolo de infância colocar em risco seu legado como jogador graças a um possível trabalho ruim como cartola. Mas, justamente pelo passado de sucesso, um voto de confiança valia a pena. E, até o momento, tem valido demais.


A maioria dos jogadores de qualidade, digamos, questionável que o antecessor havia trazido já se foi. As contratações estão sendo pontuais e, aparentemente, dentro do orçamento. A renovação de Léo Silva para se despedir no Campeonato Mineiro é um gesto importante para um ídolo da história do clube e, quem sabe, a história se repita dez anos depois, com o capita fazendo o gol do título na despedida. Olê, Marques! Olê, Marques!

Marques: adeus em campo com gol
(Créditos: Bruno Cantini/Atlético-MG)

No início da semana, foram renovados os contratos de Patric e Lucas Cândido. O lateral, ainda que longe de ser um primor técnico, é aquele caso clássico de um jogador mediano, mas respeitado pela torcida por se doar ao máximo. Outro ponto positivo é a versatilidade, uma vez que joga nos dois lados - e até de atacante, embora quanto menos lembrarmos esses tempos, melhor. O volante é aquele reserva que, quem sabe, ainda realize o enorme potencial que tinha antes das várias lesões graves.

Reforços: quantidade e qualidade

Chegaram Guga, Igor Rabello, Réver, Jair e Vinícius. O ex-zagueiro do Botafogo fez um bom Brasileirão em 2018 e ainda mandou Gabriel para o time carioca, então todos saíram ganhando. O eterno 'Capitão América' volta credenciado por boa passagem no Flamengo e, mesmo não sendo aquele zagueiro do auge em 2013, agrega. Jair foi um dos, se não o único, destaque positivo da campanha do Sport e chega para somar na disputada volância do Atlético. Vinícius é um meia marcado por polêmicas, mas tem bola. Guga vem credenciado pelo excelente 2018 e, em caso de saída de Emerson, deve assumir a titularidade com folga ao longo do ano.

Galo reeditará zaga 'Torres Gêmeas'
(Créditos: Bruno Cantini/Atlético-MG)

Quanto a Maicon Bolt, que deve ser o próximo nome da lista de reforços,  admito, não me lembro do ex-Fluminense. Mas, com um apelido desses, o mínimo que se espera é velocidade, característica carente no setor ofensivo da equipe comandada por Levir Culpi.

Talvez o grande teste para a 'gestão Marques' seja Óscar Romero. O meia-atacante joga no multimilionário mercado chinês e, mantendo o padrão, é quase irreal pensá-lo por aqui. Mas um bom diretor pode conseguir. Não que o futuro dele dependa da concretização do negócio, mas o sucesso certamente será um atestado de qualidade. A nós, cabe torcer para que, caso tudo corra bem, o jogador mostre qualidade dentro de campo e corresponda aos esforços que tem sido feitos. Como Marques sempre fez. Olê, meu diretor!

*Jornalista. Corneteiro confesso e atleticano desde 1994.
@amillo01 no Twitter, capitão da seção Fala, Atleticano!

Toca I terá gramado da Arena do Athletico/PR

Vinícius Dias

Considerada um dos principais celeiros de talentos do futebol brasileiro, a Toca da Raposa I receberá melhorias em sua estrutura. Conforme o Blog Toque Di Letra apurou, a primeira novidade será a troca do gramado do campo de grama sintética. O CT passará a contar com a tecnologia HD, semelhante à utilizada pelo Athletico/PR na Arena da Baixada, primeiro estádio de grama sintética da América do Sul.

Cruzeiro fará melhorias no CT da base
(Créditos: Gustavo Aleixo/Cruzeiro E.C.)

O início das obras está programado para a próxima terça-feira, dia 15 de janeiro, com investimento de cerca de R$ 1 milhão. "A formação dos atletas presume o próprio investimento em infraestrutura do CT deles. Nós estamos fazendo investimentos não só no time profissional como também na base, de forma intensiva, com objetivo de revelar grandes atletas", confirma Guilherme Cruz, superintendente de futebol de base do Cruzeiro.

Campos de grama natural na mira

Nos bastidores, o clube celeste também alinhava um projeto de troca do gramado dos três campos de grama natural. Pioneira, a Toca I foi o primeiro CT projetado para concentração de uma equipe de futebol no Brasil. Inaugurada em 1963, foi utilizada pela seleção na preparação para as Copas de 1982 e 1986, além de sediar as atividades do futebol profissional do Cruzeiro até a inauguração da Toca II, em 2002.

Ex-Cruzeiro, Vicintin abre fundo de investimento

Vinícius Dias

Vice-presidente de futebol do Cruzeiro entre agosto de 2015 e outubro de 2017, na gestão Gilvan de Pinho Tavares, Bruno Vicintin está de volta ao futebol. O ex-dirigente celeste abriu recentemente a Dunkirk Esportes. A empresa, que atua como fundo de investimento, já conta com 50 agenciados no Brasil e no exterior, incluindo atletas de futebol feminino.

Vicintin volta ao futebol como investidor
(Créditos: Washington Alves/Light Press)

Com foco em jovens, a empresa tem sido procurada por vários dirigentes brasileiros. "Apesar de eu ter sido dirigente do Cruzeiro por seis anos, não há restrição a fazer negócios com nenhum clube", assegura Vicintin ao Blog Toque Di Letra. América e Criciúma são dois dos clubes que já conversaram com a Dunkirk sobre possíveis investimentos.

Apoio na 3ª divisão de Portugal

No exterior, o fundo auxiliará o Alverca, de Portugal. Adquirido por Ricardo Vicintin - pai de Bruno, que não terá cargo na diretoria -, o clube investiu em revelações do futebol mineiro, como o zagueiro Ronaldo e o volante Tom, ex-Cruzeiro, e o atacante Flávio, ex-Atlético. A Dunkirk, no entanto, tem apenas o lateral-direito Breno, ex-Athletico/PR, no elenco.