Visitas de ídolos às salas de aula e excursões ao Mineirão e à Toca I
marcaram a rotina de educadora nos anos 1960, em Belo Horizonte

Vinícius Dias

"Existe um grande clube na cidade, que mora dentro do meu coração", destaca o hino do Cruzeiro. No caso de Maria Inês Bastos Rodrigues, no entanto, os laços com o clube celeste, que comemora 98 anos nesta quarta-feira, foram além do que pregam os versos: ao longo das mais de quatro décadas como educadora, a carantiguense vestiu a camisa para ensinar a milhares de alunos a paixão pela Raposa em Belo Horizonte. "Minha vida inteira foi muito ligada ao Cruzeiro. É difícil uma mulher ter tanta afinidade assim", reconhece, aos 75 anos, ao Blog Toque Di Letra.


Tudo começou na década de 1960, quando a então professora da Escola Municipal Emídio Berutto, no bairro Santa Inês, entrou em contato com a relações públicas do clube, Inês Helena. "A escola era relativamente grande, mas carente de várias coisas. Eu queria fazer alguma coisa por aquelas crianças. Tivemos a ideia de pedir a cada torcedor que fosse assistir ao treino apronto, o último antes dos jogos, uns dez centavos. Ficávamos duas, três professoras no portão. Alguns jogadores até deixavam uma contribuição ao entrar. O dinheiro ia para a merenda", lembra.

Maria Inês ao lado de Dirceu e Tostão
(Créditos: Arquivo Pessoal/Maria Inês Bastos)

A seguir, em parceria com o Cruzeiro, Maria Inês elaboraria um projeto decisivo para o crescimento da torcida celeste. "De uma conversa com a Inês Helena sobre a possibilidade de alguns jogadores irem à escola, surgiu a ideia das visitas. Felício Brandi (presidente) e Furletti (vice de futebol) autorizaram. A minha foi a primeira. Dirceu Lopes, Piazza e Tostão levaram materiais escolares para a meninada. Você via meninos que eram atleticanos virando cruzeirenses. Outros diziam: 'ah, não, esse kit foi Tostão quem me deu. Eu não vou usar, quero guardar'", rememora.

Participação ativa orgulha filhos

Lembranças que emocionam Leonardo Bastos Rodrigues, sexto dos sete filhos da educadora - "todos cruzeirenses", exalta a mãe. "Tenho muito orgulho de ela ter ajudado de alguma forma o Cruzeiro a crescer em Minas Gerais. Até então, o clássico das multidões do futebol mineiro era América x Atlético", destaca. Aos 40 anos, o jornalista exalta a parceria entre o clube e as escolas. "Falo que ela foi peça importante nesse projeto, porque não adiantaria nada ter uma brilhante ideia como essa se as supervisoras e diretoras da época não permitissem esse trabalho", acrescenta.

Educadora ao lado do filho Leonardo Bastos
(Créditos: Arquivo Pessoal/Leonardo Bastos)

Trajetória que no ano passado rendeu a Maria Inês uma homenagem do clube, em parceria com a Associação Paulo de Tarso, em comemoração ao Dia do Idoso. A cruzeirense teve a oportunidade de fazer um tour pelo Mineirão na companhia do ídolo Raul Plassmann. "Quando você chega a certa idade, você não tem mais esperança de algo te emocionar. Mas, desde o dia em que fui convidada, passei noites e noites sem dormir. Primeiro, Raul nos esperando. Depois, entrar em campo com os jogadores. Quando eu ia esperar que, aos 75 anos, acontecesse isso comigo?", pontua.

Paixão até nos exercícios em sala

Além das visitas dos craques celestes às salas de aula dos bairros Santa Inês, nos tempos de professora, e Jaraguá, onde foi supervisora e diretora da antiga Escola Estadual Presidente Kennedy, e das constantes excursões para o Mineirão e Toca da Raposa I, a educadora fez questão de levar a paixão pelo Cruzeiro literalmente ao dia a dia de seus alunos. "Dava para eles resolverem problemas como 'o Cruzeiro ganhou do Atlético, somou tantos pontos na tabela. O Atlético perdeu. Qual é a diferença agora?' Sempre o Cruzeiro ganhava", recorda, deixando aflorar o bom-humor.

Dirceu e Alexandre, primeiro de sete filhos
(Créditos: Arquivo Pessoal/Maria Inês Bastos)

Tamanha dedicação fez com que Maria Inês conquistasse o carinho de figuras como Denise, esposa do então atacante Roberto Batata. Ao lado dela, em 1974, a torcedora viveu um dia marcante. "Eu estava grávida da minha última filha. A bolsa arrebentou quando eu estava saindo para Cruzeiro x América, no Mineirão. No fim das contas, minha irmã contou para o meu marido. Não fui. Mas, na outra semana, era Cruzeiro x Atlético. Denise passou aqui e lá estava eu gritando, pulando. Amamentei na hora de sair e minha irmã ficou com o neném", revela. Tão combatida, jamais vencida!

Um comentário:

  1. Parabéns pela historia de vida de uma torcedora fanática do Cruzeirão Cabuloso!!! E hj podemos dizer que somos a maior torcida do estado, e o maior clube de minas gerais, deixando o outro lado morrendo de raiva kkkkkk Deus abençoe a vc e toda a familia!!!

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