1 minuto de exemplo, 90 de falta de bom senso

Vinícius Dias

Domingo de sol em Belo Horizonte. Como em Brumadinho. Na capital, 22 jogadores dos dois maiores clubes de Minas Gerais em ação, em dia para ninguém comemorar, na 3ª rodada do estadual. A cerca de 60 quilômetros dali, dezenas de vítimas e centenas de desaparecidos, em meio a mais uma tragédia do capitalismo que, se um dia sustenta, no outro agoniza e destrói famílias. Mas a bola rola porque o futebol, imerso em sua realidade paralela, ignora tudo o que acontece fora de campo.


Também porque falta bom senso. Desde a marcação do principal jogo e, portanto, produto da primeira fase para um domingo, às 11h, na segunda semana da temporada, à manutenção após a catástrofe. Mesmo quando o estadual, meio de sobrevivência de grande parte dos clubes do interior, tem contrato com a TV até 2021, mas aporte garantido apenas até o próximo dia 21 de abril. Quanto vale uma vida ceifada? Quanto vale o não adiamento do clássico e de outras cinco partidas estado afora?

União entre rivais: o grande exemplo
(Créditos: Vinnicius Silva/Cruzeiro E.C.)

É excelente que, acima da histórica rivalidade, cruzeirenses e atleticanos tenham se mobilizado por doações no estádio. Ainda melhor é compreender que solidariedade não deve - ou não deveria - estar condicionada a futebol. Se a tragédia na Boate Kiss, em janeiro de 2013, levou a Federação Gaúcha a cancelar uma rodada do estadual, exatos seis anos depois o jogo seguiu, literalmente, na realidade paralela da bola. Nas Minas ontem Gerais, hoje de lama. Quanto vale o futebol sem eco na cidadania?

O abraço entre rivais no minuto de silêncio foi um exemplo.
Muito distante de outros 90 minutos de falta de bom senso.

2 comentários:

  1. Perfeito seu comentário. Falta de sensibilidade da FMF. O que houve na Federação Gaúcha faltou na mineira. Nas Minas de Lama o coração insensível dos dirigentes bateu mais forte, infelizmente.

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  2. Futebol profissional, não é como marcar uma "pelada" entre amigos de empresa ou entre casados e solteiros. Existe toda uma logística...
    A tragédia de Brumadinho não ficaria mais amena se o jogo fosse cancelado.
    Sinceramente não consigo associar o jogo de domingo de manhã em BH com o sofrimento das vítimas de Brumadinho.
    Mas respeito quem pensa diferente.

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