Primeiros passos aliam atuações por equipes rivais, decepção
como goleiro e futebol conciliado com dia a dia em escritório
Vinícius Dias
A
morte de Maria Faustina, em 1948, simbolizou para Telê Silva um golpe mais duro
do que aqueles que se acostumara a encarar diante de beques rivais. Logo aos 17
anos, o promissor meia-direita teria de se despedir da tia responsável por
criá-lo e de sua terra natal. Quase 70 anos após esse episódio e uma década
depois da despedida do próprio Telê - consagrado com o sobrenome Santana -, a
saudade se mistura à curiosidade. O Blog
Toque Di Letra recapitula os primeiros passos do 'Fio de Esperança' nos
gramados. Antes da fama e ao olhar da Itabirito dos anos 1940, recém-elevada à
condição de cidade.
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A
narrativa inicia debaixo das traves - acredita-se, em 1942. Influenciado pelo
pai Zico Lopes, ex-goleiro do América, Telê decidiu tentar a sorte na posição.
Por volta dos 10, 11 anos, lá estava ele em ação pelo Itabirense Football Club.
"Mas após sofrer 13 gols em um jogo, ele nunca mais quis ser
goleiro", comenta o herdeiro Renê Santana. A passagem sem sucesso pelo gol
reforçou a ideia de se aventurar na linha. "As peladas, que antes
aconteciam na rua, ele passou a jogar no Itabirense". Foi essa a rotina do
meia-direita pelos menos até os 12 anos.
Telê ao lado de companheiros de equipe (Créditos: Arquivo Pessoal/Renê Santana) |
A
seguir, sob os cuidados dos tios Maria e Eurico, Telê teve sua primeira
experiência profissional, em uma cooperativa da Usina Queiroz Júnior, no bairro
Esperança. Simultaneamente, reforçava o time do Usina Esperança Futebol Clube
- anos antes, o clube havia revelado o meia Paulo Florêncio, que disputou a
Copa América de 1942. "Ele trabalhava e também jogava. Inclusive, no
restante da carreira, Telê foi um dos poucos jogadores que tinham carteira
assinada. Isso aconteceu por causa de Itabirito", assegura Renê Santana.
O bom filho a casa torna
A volta ao Itabirense aconteceu menos de dois anos depois, seguindo os mesmos
moldes. Telê conciliava os treinos e jogos pela equipe do coração com a rotina
de auxiliar de escritório. O estabelecimento, neste caso, era uma fábrica de
calçados ligada a um diretor tricolor. A combinação consta em seu primeiro
registro junto à Liga Amadorista local, datado de 1947. Talento precoce, ele
ainda era menor no período e, por isso, coube ao tio Eurico Silva a assinatura.
Primeiro registro do atleta na Liga local (Créditos: Arquivo/Itabirense Esporte Clube) |
O
rendimento do garoto chamou a atenção do União Sport Club, principal rival à
época. Aproveitando um período sem jogos do Itabirense, o União firmou acordo
para tê-lo em um duelo decisivo. No dia, o preterido foi o atacante Edmundo.
"O técnico avisou a ele que colocaria Telê para jogar a pedido de uns
dirigentes", conta Renê Santana, que soube do fato anos depois por meio do
ex-companheiro do pai. "Ele joga um pouco e eu tiro. Você entra e joga seu
jogo", disse o técnico. A promessa, porém, não foi cumprida. Telê, de 16 anos, foi o melhor em campo. Com isso, Edmundo permaneceu no banco.
Luto e adeus a Itabirito
Aquele
foi um dos últimos capítulos na cidade. Com a perda da tia Maria, Telê se mudou
aos 17 anos para São João del-Rei, onde moravam seus pais. Depois, aprovado em
teste no Fluminense, foi para o Rio. Apesar da distância física, as chuteiras
de couro fabricadas em Itabirito - preferência do meia-direita - e as amizades
alimentavam os laços. "Restava a nós a alegria de ficar ao pé do rádio
para ouvir as transmissões das partidas do Fluminense", diz o ex-vizinho
Luiz Corradi Júnior, hoje com 86 anos, que deixava de lado a paixão pelo
Botafogo para torcer por Telê. "Quando ele marcava um gol, a gente
vibrava".
Estátua na região central de Itabirito (Créditos: Vinícius Dias/Blog Toque Di Letra) |
Há
nove anos, uma estátua em tamanho real do ex-jogador e treinador é um dos principais
pontos turísticos da cidade. A expectativa é de que, em breve, um memorial em
homenagem ao ídolo itabiritense seja instalado na região central. "Para
mim, representará uma grande conquista", confirma Renê, diretor-executivo do instituto que leva o nome do pai. "Terá todo o acervo, com imagens, objetos, camisas
e textos", detalha.
Deve agradecer muito, e muito, a São João Del Rei, cidade onde sua família se manteve, e especialmente ao América desta cidade, onde jogou com todos os seus irmãos, e foi descoberto, juntamente com o grande Edson,que formou a dupla de zaga com Castilho e Pinheiro
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