Há nove temporadas na Turquia, Alex desfila a velha classe
e ainda ativa sonhos de cruzeirenses, palmeirenses e coxas

Vinícius Dias

Trilhando as veredas da arte prima transformada em futebol, o curitibano Alexsandro de Souza deu forma à sua notável história no esporte bretão. Nos dezoito anos de carreira, defendeu seis clubes e conquistou quatorze títulos. E, de quebra, arrebatou inúmeros fãs. Cruzeirenses, palmeirenses, coxas-brancas.

Alex festeja: cena comum na Turquia
(Créditos: Site Oficial Alex 10/Reprodução)

Capitão e principal nome do Fenerbahçe, da Turquia, o craque relembra a infância simples, o início no futsal, os bons e maus momentos da vitoriosa carreira, a ausência na Copa do Mundo de 2002 - que, assegura, não lhe traz mágoa. Alex ainda deu palpites sobre o atual comando da seleção e sobre o futebol brasileiro.

A infância de grande parte dos principais desportistas brasileiros é permeada por obstáculos. A sua não foge muito à regra. Em quê as dificuldades vivenciadas no passado contribuíram para o seu êxito como jogador?

Tive as dificuldades naturais de uma família que tinha três filhos, morava na periferia de Curitiba e, financeiramente, era complicado manter um filho jogando futebol. Eu tive os pais perfeitos para um futuro atleta. Eles envolviam-se pouco, não davam palpites e só me apoiavam.

O seu começo, assim como o de craques como Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo e Robinho, foi no futsal. A seu ver, em quê essa formação inicial, nos salões, contribuiu ao notável rendimento nos gramados mundo afora?

O futsal contribuiu comigo em todos os sentidos. Tecnicamente, eu não preciso nem falar. Os conceitos básicos do futebol, como controle e passe, foram desenvolvidos ali nas quadras. Mas a ajuda extrapolou isso. Deram-me condições de estudar, de poder seguir desempenhando minhas atividades no Coritiba, e se preocuparam muito em me educar para viver em sociedade.

Acredito que todos os clubes tenham um papel social importante, mas, infelizmente, poucos fazem isso.

Entre tantas idas e vindas, a carreira de um atleta profissional tem seus pontos altos e baixos. Hoje, aos 34 anos, qual você considera ter sido o momento mais "difícil" de sua trajetória? Como agiu para superá-lo?

O momento mais difícil da minha carreira foi entre abril de 2001 e setembro de 2002. Foi o período em que fui para a Justiça contra o Parma e a Parmalat. Vivi mais dentro de tribunais do que propriamente dentro de campo. Mas, em setembro de 2002, consegui quebrar esse vínculo, e a situação voltou para dentro de campo.

Aí, foi somente focar e trabalhar e as coisas entraram nos eixos. Agi acreditando em meus princípios. Quando fui para a Justiça, sabia que poderia até perder tecnicamente, poderia perder minha carreira. Mas a minha dignidade ninguém compra. Seguindo esse princípio de que a verdade estava a meu lado, segui em frente. Mas confesso que foi super complicado e poucos me ajudaram.

Após marcar presença no período de preparação para o Mundial de 2002, você assistiu o torneio à 'distância'. A ausência na lista final daquela Copa ainda lhe traz mágoas? Você se considera um atleta injustiçado?

Não me considero injustiçado. Sempre me considerei em condições de ter disputado aquela Copa, mas o Felipão, em cima das análises dele, me preteriu e eu sempre respeitei a posição. Mágoas, eu não tenho. Mas tenho várias perguntas que, infelizmente, nunca terão respostas.

Desde a conquista da Copa América, em 2007, a Seleção Brasileira tem acumulado fracassos. Como você analisa o atual momento do futebol brasileiro? Acredita que Mano Menezes seja o melhor nome para comandá-lo em 2014?

Não entro no mérito do Mano Menezes. Se outro treinador estivesse lá, seja ele quem for, seria questionado da mesma forma. É chegado um momento de o Brasil se preocupar com a formação dos jogadores. Não podemos ter essa perda de essência a cada ano, e acharmos que a coisa caminha bem. Material humano nós temos, e dos bons. Os conceitos em baixo, na preparação, é que temos que rever. Ainda temos os melhores jogadores. Mas não temos a melhor preparação.

Isso, acredito que tenha que ser revisto e, a meu modo de olhar, podemos agregar situações boas dos europeus. Mas não podemos achar que tudo que eles fazem será bom para nós. Têm situações que só servem para eles, existem biótipos que só servem para eles, equivalências que só valem para eles. Temos, ou tínhamos, nossa escola e forma de olhar futebol. Agregar, eu concordo, mas copiar e mudar, acredito que atrapalha.

À distância, qual a sua opinião sobre o aumento do contingente de estrelas internacionais na série A? O Brasil passa a ser visto como mercado promissor, ou como reduto para atletas decadentes e em fim de carreira?

Não vejo nenhum jogador em decadência no futebol brasileiro. Vejo, ao contrário, jogadores com uma história bonita internacionalmente, colaborando com os mais jovens, dando uma troca, e oferecendo uma boa mescla. Temos vários exemplos de atletas com mais de 34 anos que deram uma boa contribuição quando estiveram no Brasil. Mas temos que pegar caso a caso, nunca podemos generalizar.

O caso do Juninho: voltou ao clube do qual saiu para a França, e está fazendo aquilo que se esperava dele. O Seedorf é novidade, está se adaptando a uma realidade nova e diferente. O Zé Roberto voltou e está ajudando o Grêmio. Gilberto Silva, idem. O Ronaldo (Gaúcho), que só tem 32 anos, se encontrou em BH e voltou a jogar um bom futebol. O Deco não tinha relação com o futebol brasileiro, mas tem jogado bem no Fluminense.

Continuamos formando bons nomes. Não sei se temos a condição de tê-los jogando aí (no Brasil) por muito tempo. Ao mesmo tempo, bons nomes, já com alguma história no futebol, voltam e complementam essas revelações. O mais importante é a condição física, mental e o desejo desses jogadores que retornam ao Brasil. Se jogam até os 34-35 anos ou mais, é porque possuem qualidade reconhecida.

Atual líder do Brasileiro, o Atlético/MG tem, até aqui, desempenho superior ao do Cruzeiro, campeão em 2003. Como vê o sucesso do clube alvinegro? Em sua avaliação, o campeonato nacional, hoje, é mais fácil? 

Vários aspectos fazem do Atlético merecedor dessa posição. O desempenho deles está sendo fantástico. Desenvolveram um Centro de Treinamento dando totais condições de trabalho ao grupo, mantiveram um grupo montado pelo Maluf e pelo Cuca. O Maluf trabalha muito bem para manter um ambiente focado em futebol. Ofereceram ao Ronaldo (Gaúcho) a condição de ele desejar e buscar algo mais em termos de conquista no Brasil.

Tem colocado jogadores formados em casa com muita qualidade, tem um desejo enorme de conquista, já que a última foi (o Campeonato Brasileiro) em 1971, e uma torcida participativa. Aquela goleada (6 a 1 para o rival Cruzeiro) sofrida na última rodada do Brasileiro passado fez com que esse grupo criasse uma situação de estar atento a tudo, e a todos os momentos. Futebol é coisa muito séria, precisa ser planejado. E isso, o Atlético, como clube, tem demonstrado. Merece essa posição. Ninguém deu nada a eles. Eles estão buscando.

Nas dezoito temporadas como jogador profissional, você defendeu apenas seis clubes. Costumeiramente, é um atleta que cumpre os contratos. Pelo atual vínculo com o Fenerbahçe, 2012/2013 será a sua última temporada na Turquia. Você já pensa no futuro? A volta para o Brasil é, hoje, uma possibilidade maior, menor ou igual à de renovação?

Já está definida em minha cabeça. No momento correto, todos saberão o que farei.

Bate-pronto:

• Palmeiras/2000 ou Cruzeiro/2003?

Cruzeiro.

• Luxemburgo ou Felipão?

Luxemburgo.

11 comentários:

  1. bela entrevista ! espero que ele volte .. o Talento Azul !

    ResponderExcluir
  2. Tomara q o Talento Azul volte para o cruzeiro, seria otimo ver ele e Montillo atuando juntos no Mineirao. Parabens pela otima entrevista.

    ResponderExcluir
  3. Parabéns pela entrevista, esse é um IDOLO de verdade...Espero ansiosamente que ele volte para o Cruzeiro!

    ResponderExcluir
  4. Alex precisa voltar ao Cruzeiro urgente!!!

    ResponderExcluir
  5. Mas não tanto quanto nós amamos você Alex.

    Fenerbahçe Fans

    ResponderExcluir
  6. Vem pro Coxa, com certeza. O seu clube do coração. Saudações alviverdes

    ResponderExcluir
  7. In Turkey, much like her idol world it an idol. Please do not ask us to him,really fun to watch him.. I love you Alex.. Please do not go in Turkey and Fenerbahce.

    ResponderExcluir
  8. claroq ele vem ao coxa.....alex não é bobo, tem história na cidade e no clube. Imagina ano que vcm - Alex, Tcheco e david...affff....campeões brasileiros.......

    ResponderExcluir
  9. i love Alex. Alex é um personagem muito bem da personalidade humana e um jogador muito bom....

    ResponderExcluir