Após eliminações na Sul-Americana, Brasil completa dois anos
sem alcançar decisões nas competições de âmbito continental

Tiago de Melo

As eliminações de Chapecoense e Atlético/PR na Copa Sul-Americana, na noite da última quarta-feira, marcaram o fim da participação brasileira no torneio. Mais do que isso: os resultados garantiram que o país complete dois anos consecutivos sem sequer chegar a uma decisão de competição continental. Apenas para se ter uma ideia, desde que a América do Sul passou a ter mais de um torneio continental entre clubes, isso só havia acontecido uma única vez: em 1989-1990.


Quanto à Sul-Americana, há alguns fatores atenuantes, como o escasso interesse dos clubes brasileiros pela competição. Porém, é um argumento apenas parcialmente verdadeiro e bem mais válido para as fases iniciais do que para as fases agudas. Historicamente, à medida que se aproximam as fases decisivas, os clubes brasileiros começam a prestar mais atenção ao torneio latino-americano.

Chape: vitória e queda diante do River
(Créditos: Francieli Constante/Chapecoense)

Também há o fato de que o esdrúxulo critério criado pela CBF para definir os representantes brasileiros faz com que tenhamos, basicamente, clubes da segunda metade da tabela da Série A no torneio. Mas, outra vez, é um argumento com validade parcial: a Argentina enviou para a Sul-Americana figurantes no torneio local, como Huracán, Arsenal e Tigre. Mas nem por isso está fora das semifinais. Pelo contrário.

Do protagonismo à queda

Em suma, justificativas do tipo jamais serão suficientes. Afinal, nos anos anteriores, existiam as mesmas questões, mas elas não impediram o país de ser protagonista no continente. Chegamos a um dado invejável: entre 1992 e 2013, somente três vezes (1996, 2001 e 2004) não houve pelo menos um clube brasileiro na decisão da Libertadores. Muito rapidamente mudamos para um cenário em que alcançar uma semifinal se tornou difícil para nossos clubes. O que houve?

Sonho do tri celeste ficou pelo caminho
(Créditos: Anibal Greco/Light Press)

Nos últimos anos, os clubes brasileiros perderam uma chance de ouro. As cotas de TV tiveram grande aumento, dando a nossas agremiações poder aquisitivo infinitamente maior que o dos vizinhos. Contudo, em boa parte dos casos, os altos orçamentos foram mal aproveitados, e o resultado foi que diversos clubes passaram a pagar salários astronômicos para ter os mesmos nomes. Virou regra ver atletas e treinadores sem destaque ou mercado nos grandes clubes europeus recebendo faturando R$ 500, 600 ou até 700 mil reais mensais.

Mais receitas, mais gastos

O resultado foi paradoxal: o aumento das verbas causou o endividamento de vários grandes clubes do Brasil, sem que fosse notada uma melhoria técnica correspondente. Fato é que a conta chegou e diversos clubes se viram endividados, com folha salarial alta e elenco comum. Foi necessário cortar custos, investir em jovens, investir em treinadores fora do circuito dos medalhões e peneirar jogadores mais baratos. Em outras palavras, a enorme vantagem orçamentária dos clubes brasileiros sobre os vizinhos diminuiu bruscamente.

Inter bateu o Galo e caiu na sequência
(Créditos: Bruno Cantini/Flickr/Atlético-MG)

Nesse cenário, as forças se equilibraram. E passaram a pesar na balança fatores como o desconhecimento em relação aos rivais sul-americanos, a instabilidade emocional derivada do fato de tratarmos esses duelos como guerras, e não futebol, e a tradição de alguns clubes do continente, mais acostumados a esse formato de torneio. O resultado foi surpreendente e impensável há alguns anos: o Brasil foi figurante nos torneios de clubes sul-americanos em 2014 e 2015.

Um comentário:

  1. Brasil paga valores astronômicos a técnicos e jogadores medianos sem pensar nas consequências. Deveriam investir esses valores na capacitação dos técnicos de base, enviá-los para cursos na Europa. Só assim teríamos uma base mais forte e não precisaríamos gastar tanto com atletas prontos

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