Profissionais criticaram calendário e destacaram alternativas
para atenuar desgaste; lesões musculares são as mais comuns
Vinícius Dias
Departamento médico cheio e o treinador com
dificuldades para escalar o chamado time ideal têm sido cenas comuns no dia a
dia de boa parte das equipes brasileiras. Em meio à difícil rotina, torcedores se desdobram na busca por explicações, seja nas ruas, nas redes sociais ou
nos estádios. Mas, enquanto os reflexos das ausências ficam mais claros a cada
ponto perdido, os debates sobre as razões da recorrência de lesões dificilmente
terminam em consenso.
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Dois especialistas ouvidos pelo Blog Toque Di Letra, no entanto, foram
unânimes em citar o calendário como vilão. "Um atleta precisa de 48 a 72
horas para poder se recuperar de maneira plena após os esforços de alta
intensidade. No Brasil, há jogos dentro desse período", pondera Matheus
Fontes, fisiologista que tem passagens por seleções de base, Botafogo e
Cruzeiro. "Com o acúmulo de jogos, não há recuperação total. Isso afeta
nível de força, estrutura muscular", acrescenta.
Matheus orienta atividade no Botafogo (Créditos: Botafogo F.R./Twitter/Divulgação) |
Pós-graduado em treinamento esportivo, Leandro do
Carmo é crítico do processo de elaboração do calendário do futebol no Brasil.
"Lá fora, são considerados o clima e as condições do país. Aqui, os
dirigentes não têm conhecimentos de treinamento esportivo e acabam tomando
decisões que vão gerar consequências para os jogadores", analisa.
"Outros esportes já perceberam que não dá certo. De que adianta ter
retorno financeiro, mas começar a ter o desempenho prejudicado?".
Trabalho
de prevenção
Além da reestruturação do calendário, o
especialista trata a realização de avaliações e trabalhos específicos na
pré-temporada e durante os torneios como pontos decisivos do processo de
prevenção de lesões. "É essencial que o preparador físico atue com um
trabalho para aumentar a força e a estabilidade das articulações para que
depois elas possam suportar maior carga", justifica Leandro, assinalando
também a importância de se pensar estratégias de recuperação pós-jogos.
Contato entre atletas durante partida (Créditos: Washington Alves/Light Press) |
Pesquisa feita por ortopedistas ligados ao Departamento de Ortopedia e Traumatologia da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) apontou as lesões musculares como
diagnóstico mais comum, respondendo por cerca de 40% dos casos. A principal
razão desse tipo de lesão, como explica o fisiologista Matheus Fontes, é a
sobrecarga. "É uma relação que não está sendo bem equilibrada entre a
carga de trabalho, os estímulos físicos e o tempo de recuperação".
Rodízio reduz
desgaste
Em meio ao cenário de aumento do número de jogos,
devido à criação da Primeira Liga nesta temporada, Matheus enxerga poucas
alternativas para minimizar o desgaste. "A saída é, realmente, a comissão
técnica entender que é preciso fazer rodízio de atletas e controle efetivo de
treinamentos", diz, minimizando as críticas ao sistema de rodízio. "A
torcida não gosta, a imprensa critica, mas, se não for assim, os atletas não
terão condição de jogar", assegura.
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