Alisson Millo*
Publicada em 10/01/2020, às 11h25
Rafael Dudamel é o novo treinador do Atlético. O venezuelano chega credenciado por um trabalho expressivo na seleção de seu país. Não, ele não conquistou nenhum título à frente dos vinotintos, mas passou pelas categorias de base e solidificou o futuro, o que rendeu frutos que ele mesmo vinha colhendo. A Venezuela não é país mais tradicional no futebol sul-americano, que dirá no mundo, mas Dudamel é um dos principais - senão o principal - responsáveis pela guinada da seleção nos últimos anos.
Publicada em 10/01/2020, às 11h25
Rafael Dudamel é o novo treinador do Atlético. O venezuelano chega credenciado por um trabalho expressivo na seleção de seu país. Não, ele não conquistou nenhum título à frente dos vinotintos, mas passou pelas categorias de base e solidificou o futuro, o que rendeu frutos que ele mesmo vinha colhendo. A Venezuela não é país mais tradicional no futebol sul-americano, que dirá no mundo, mas Dudamel é um dos principais - senão o principal - responsáveis pela guinada da seleção nos últimos anos.
Apesar
disso, o treinador vivia em pé de guerra com a federação local. O motivo é o
amadorismo com que o futebol é tratado no país, chegando a ter que jogar com uniforme
improvisado depois de a fornecedora não entregar os oficiais. Dudamel aparenta
ser um cara com garra, com fome de crescer na carreira e levar seus comandados
ao topo consigo. E foi justamente isso que o afastou do bom trabalho atual e de
um salário confortável - especialmente para os padrões econômicos da Venezuela.
Venezuelano foi recepcionado com festa (Créditos: Bruno Cantini/Agência Galo/Atlético) |
Mas o
assunto aqui não é futebol venezuelano, muito menos economia internacional: é
Atlético. Com essas características, como podemos projetar o trabalho no Galo?
Primeiramente, um futebol defensivamente sólido. Na seleção, as referências são
Soteldo, o criativo, e Rondón, o camisa 9 de área, artilheiro. O restante do
time é composto por carregadores de piano, que se desdobram para marcar, fechar
espaços e armar o contra-ataque, se apoiando na qualidade da dupla citada. Ou
seja, o Galo Doido consagrado em 2013 dificilmente fará parte do repertório em
2020.
Por um time com o DNA do Galo
Outro
fator muito claro no trabalho do treinador é a aposta nas novas gerações.
Lembremos: na Venezuela, Dudamel moldou os jogadores que, na sequência, ele
mesmo usaria na seleção principal. A ascensão de Marquinhos, Cleiton e Bruninho
pode ser uma prévia do novo trabalho. Muito criticado por ter uma base que não
revela ninguém, o Galo pode, finalmente, colher os frutos do investimento nos
jovens talentos.
Dudamel deixou seleção em prol do Galo (Créditos: Bruno Cantini/Agência Galo/Atlético) |
Outro
diferencial é que Dudamel parece ter sangue nas veias e não se contentar com
amadorismo. À frente do Atlético, o treinador deve impulsionar a diretoria a
seu padrão de exigência em vez de se acomodar com o cenário atual. E esse
sangue nos olhos também serve para o time. À beira do campo, o venezuelano é
bem enérgico - circula por aí, inclusive, um vídeo dele dando 'tapinhas' no
rosto de um atleta para motivá-lo. Ao longo desta temporada, claramente faltou
alguém para incendiar os jogadores e acabar com o marasmo irritante que vimos
em várias partidas.
A
expectativa não é de que o treinador chegue para ser uma espécie de Midas, até
porque ele precisa de um grupo à disposição para poder trabalhar. Mas é um
indicativo de mudanças. É a isso que precisamos nos agarrar, afinal é o que
temos. A maior alegria do atleticano em 2019 foi o rebaixamento do rival,
retrato do péssimo ano que tivemos. Temos muito a melhorar dentro e fora de
campo nesta temporada. Uma injeção de ânimo está chegando, mas que não fique só
em injeções esporádicas.
*Jornalista. Corneteiro confesso e atleticano desde 1994.
@amillo01 no Twitter, capitão da seção Fala, Atleticano!
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