A dois anos da Copa, número de estrangeiros em equipes da
Série A bateu recorde; argentinos e atacantes são cobiçados

Vinícius Dias

A caminho de organizar a próxima Copa do Mundo, em 2014, o Brasil tem dado indícios de que se tornou porto seguro para os atletas estrangeiros. Após a queda no último ano, o contingente de gringos atuando em clubes da Série A registrou aumento de quase 30% em 2012. São estrelas como Seedorf, Forlán, Montillo e D´Alessandro. No acumulado das últimas cinco temporadas, totalizaram 134. É o que apontou um levantamento realizado pelo Blog Toque Di Letra. 

Após queda, número recorde em 2012
(Arte: Vinícius Dias/Toque Di Letra)

Embora esteja desde 1988 no mercado do futebol, o empresário Roberto Tibúrcio mostra-se surpreso com as movimentações. "Particularmente, eu esperava que fôssemos viver isso daqui a uns 20 anos. Porém, o país deu uma crescida econômica meteórica, que fez com que os bons jogadores quisessem retornar. Outro fator foi a luta pelos direitos de televisão, que fez com que as cotas aumentassem", analisa.

No período, o Atlético/MG e os rivais Grêmio e Inter lideraram o ranking das equipes importadoras: 12 atletas cada. No topo da disputa entre estados, empate: São Paulo e Rio de Janeiro receberam 34 estrangeiros cada. Vêm na sequência Rio Grande do Sul, que, motivado pela proximidade com os principais países do Mercosul, importou 24, e Minas Gerais, com 23.

Homens-gol: o sonho dos brasileiros
(Arte: Vinícius Dias/Toque Di Letra)

Na opinião de Leonardo Bertozzi, jornalista dos canais ESPN, a motivação para a contratação em massa de sul-americanos por equipes brasileiras é econômica. "A questão é, sobretudo, financeira e explica até a trajetória brasileira na (Taça) Libertadores. O Campeonato Brasileiro hoje é superior tecnicamente aos pares sul-americanos, muito em função desse poder de investimento das equipes", analisa.

COBIÇADOS - Os atacantes são o principal artigo tipo importação. 32% dos negócios fechados nos últimos cinco temporadas envolveram avantes gringos. Logo a seguir, aparecem os armadores, que representaram 29%. Os goleiros, produto de menor cobiça no exterior, significaram apenas 6% do montante de transferências.

Argentinos lideram as 'importações'
(Arte: Vinícius Dias/Toque Di Letra)

Na disputa entre países, os argentinos venceram com enorme vantagem. Em média, um a cada três gringos que chega ao Brasil nasceu no país de ídolos como Diego Maradona e Messi. Colômbia, Paraguai, Uruguai e Chile completam o top 5 da lista e, somados, responderam por 45% do total de estrangeiros em solo brasileiro.

Jogo de marketing?

Apenas em 2012, foram 19 as investidas de equipes da série A em atletas que jamais haviam atuado em terras tupiniquins. Quinze deles, todavia, já haviam marcado presença nas seleções de seus respectivos países. Para Bertozzi, o futebol brasileiro se transformou num atrativo. "O Brasil vai se consolidando como um destino viável à estrelas internacionais, ainda que fora do auge", diz.

Porém, o comentarista faz um alerta. "Muitas vezes ainda se contrata pela grife. É preciso que (os clubes) compreendam em que momento estão os jogadores procurados", diz. E questiona a vinda do chinês Chen Zhizhao, que ainda não atuou pelo Corinthians. "Sem acréscimo técnico, não vejo sentido no golpe de marketing... Que repercussão terá o Corinthians com um chinês no elenco, se ele não é capaz de entrar em campo", questiona Leonardo Bertozzi.

Radar celeste

Vinícius Dias

O Cruzeiro decepciona. Celso Roth não convence. O sonho do presidente Gilvan de Pinho Tavares - anunciar Vanderlei Luxemburgo em 2013 - pode ganhar outros rumos já na próxima semana. Felipão, recém demitido pelo Palmeiras, está no mercado. Há gente na cúpula celeste que defenda seu retorno.

Lar, doce lar?

No próximo Domingo, diante do Vasco/RJ, a Raposa cumpre o primeiro dos seis jogos referentes à punição imposta pelo STJD no último dia 5. A nova 'casa' cruzeirense será Varginha, localizada a 306 quilômetros da capital. No estádio Dilzon Melo, capacidade para 15.471 pessoas. Preços entre R$ 30 e R$ 50. Em carta, divulgada na terça, o presidente pediu o apoio dos torcedores azuis.

É falta neles!

Ao melhor estilo Celso Roth o clube celeste figura na liderança do ranking de 'faltosos' do Campeonato Brasileiro. São 557 infrações assinaladas em 24 partidas. Média superior a 23 faltas por duelo. Na disputa individual, Wellington Paulista e Charles se destacam. Somados, já cometeram 125 e integram o top 4.

Pitacos do Brasileirão

Vinícius Dias

Com gols de Wellington Nem (dois) e Samuel, o Fluminense/RJ derrotou o claudicante Santos/SP e assumiu a liderança do Brasileirão. Pela primeira vez, o tricolor carioca figura na ponta. Logo quando perdeu Fred e Deco. Elenco testado e aprovado por Abel. Melhor ataque (37 gols marcados) e defesa (15 sofridos) da competição. Diego Cavallieri, em excelente forma, decisivo até aqui.

Wellington Nem comemora, Flu lidera
(Créditos: Nelson Perez/Fluminense F.C.)

Somente uma vitória nas últimas seis rodadas. O sinal amarelo já está (ou deveria estar) ligado na Cidade do Galo. O time não funciona como antes. Jô, em má fase, não convence. André, agora no Santos, voltou a marcar seus gols. Já são cinco, em sete partidas. Cuca aposta em Leonardo. Vai dar samba?

De novo... longe!

Filme repetido: Cruzeiro derrotado em casa. Decepcionou o torcedor pela quarta vez na Arena Independência. Dona da 5ª melhor campanha como visitante, a equipe azul ocupa a modesta 12ª posição quando mandante. Distante do G4 e, novamente, dos fãs de Beagá. O mau comportamento nas arquibancadas diante do Atlético, significou multa de R$ 64 mil e seis jogos de suspensão.

Raposa no topo

O cartão amarelo aplicado a Éverton diante do Botafogo/RJ, na última 4ª, rendeu aos celestes a liderança neste quesito no Brasileirão. Foi o 71º da Raposa. Grêmio, que tem 70, e Atlético/MG, 69, estão logo na sequência. No individual, Kléber, do Tricolor, mantém a dianteira. Soma dez amarelos nas 16 partidas que disputou.


Há nove temporadas na Turquia, Alex desfila a velha classe
e ainda ativa sonhos de cruzeirenses, palmeirenses e coxas

Vinícius Dias

Trilhando as veredas da arte prima transformada em futebol, o curitibano Alexsandro de Souza deu forma à sua notável história no esporte bretão. Nos dezoito anos de carreira, defendeu seis clubes e conquistou quatorze títulos. E, de quebra, arrebatou inúmeros fãs. Cruzeirenses, palmeirenses, coxas-brancas.

Alex festeja: cena comum na Turquia
(Créditos: Site Oficial Alex 10/Reprodução)

Capitão e principal nome do Fenerbahçe, da Turquia, o craque relembra a infância simples, o início no futsal, os bons e maus momentos da vitoriosa carreira, a ausência na Copa do Mundo de 2002 - que, assegura, não lhe traz mágoa. Alex ainda deu palpites sobre o atual comando da seleção e sobre o futebol brasileiro.

A infância de grande parte dos principais desportistas brasileiros é permeada por obstáculos. A sua não foge muito à regra. Em quê as dificuldades vivenciadas no passado contribuíram para o seu êxito como jogador?

Tive as dificuldades naturais de uma família que tinha três filhos, morava na periferia de Curitiba e, financeiramente, era complicado manter um filho jogando futebol. Eu tive os pais perfeitos para um futuro atleta. Eles envolviam-se pouco, não davam palpites e só me apoiavam.

O seu começo, assim como o de craques como Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo e Robinho, foi no futsal. A seu ver, em quê essa formação inicial, nos salões, contribuiu ao notável rendimento nos gramados mundo afora?

O futsal contribuiu comigo em todos os sentidos. Tecnicamente, eu não preciso nem falar. Os conceitos básicos do futebol, como controle e passe, foram desenvolvidos ali nas quadras. Mas a ajuda extrapolou isso. Deram-me condições de estudar, de poder seguir desempenhando minhas atividades no Coritiba, e se preocuparam muito em me educar para viver em sociedade.

Acredito que todos os clubes tenham um papel social importante, mas, infelizmente, poucos fazem isso.

Entre tantas idas e vindas, a carreira de um atleta profissional tem seus pontos altos e baixos. Hoje, aos 34 anos, qual você considera ter sido o momento mais "difícil" de sua trajetória? Como agiu para superá-lo?

O momento mais difícil da minha carreira foi entre abril de 2001 e setembro de 2002. Foi o período em que fui para a Justiça contra o Parma e a Parmalat. Vivi mais dentro de tribunais do que propriamente dentro de campo. Mas, em setembro de 2002, consegui quebrar esse vínculo, e a situação voltou para dentro de campo.

Aí, foi somente focar e trabalhar e as coisas entraram nos eixos. Agi acreditando em meus princípios. Quando fui para a Justiça, sabia que poderia até perder tecnicamente, poderia perder minha carreira. Mas a minha dignidade ninguém compra. Seguindo esse princípio de que a verdade estava a meu lado, segui em frente. Mas confesso que foi super complicado e poucos me ajudaram.

Após marcar presença no período de preparação para o Mundial de 2002, você assistiu o torneio à 'distância'. A ausência na lista final daquela Copa ainda lhe traz mágoas? Você se considera um atleta injustiçado?

Não me considero injustiçado. Sempre me considerei em condições de ter disputado aquela Copa, mas o Felipão, em cima das análises dele, me preteriu e eu sempre respeitei a posição. Mágoas, eu não tenho. Mas tenho várias perguntas que, infelizmente, nunca terão respostas.

Desde a conquista da Copa América, em 2007, a Seleção Brasileira tem acumulado fracassos. Como você analisa o atual momento do futebol brasileiro? Acredita que Mano Menezes seja o melhor nome para comandá-lo em 2014?

Não entro no mérito do Mano Menezes. Se outro treinador estivesse lá, seja ele quem for, seria questionado da mesma forma. É chegado um momento de o Brasil se preocupar com a formação dos jogadores. Não podemos ter essa perda de essência a cada ano, e acharmos que a coisa caminha bem. Material humano nós temos, e dos bons. Os conceitos em baixo, na preparação, é que temos que rever. Ainda temos os melhores jogadores. Mas não temos a melhor preparação.

Isso, acredito que tenha que ser revisto e, a meu modo de olhar, podemos agregar situações boas dos europeus. Mas não podemos achar que tudo que eles fazem será bom para nós. Têm situações que só servem para eles, existem biótipos que só servem para eles, equivalências que só valem para eles. Temos, ou tínhamos, nossa escola e forma de olhar futebol. Agregar, eu concordo, mas copiar e mudar, acredito que atrapalha.

À distância, qual a sua opinião sobre o aumento do contingente de estrelas internacionais na série A? O Brasil passa a ser visto como mercado promissor, ou como reduto para atletas decadentes e em fim de carreira?

Não vejo nenhum jogador em decadência no futebol brasileiro. Vejo, ao contrário, jogadores com uma história bonita internacionalmente, colaborando com os mais jovens, dando uma troca, e oferecendo uma boa mescla. Temos vários exemplos de atletas com mais de 34 anos que deram uma boa contribuição quando estiveram no Brasil. Mas temos que pegar caso a caso, nunca podemos generalizar.

O caso do Juninho: voltou ao clube do qual saiu para a França, e está fazendo aquilo que se esperava dele. O Seedorf é novidade, está se adaptando a uma realidade nova e diferente. O Zé Roberto voltou e está ajudando o Grêmio. Gilberto Silva, idem. O Ronaldo (Gaúcho), que só tem 32 anos, se encontrou em BH e voltou a jogar um bom futebol. O Deco não tinha relação com o futebol brasileiro, mas tem jogado bem no Fluminense.

Continuamos formando bons nomes. Não sei se temos a condição de tê-los jogando aí (no Brasil) por muito tempo. Ao mesmo tempo, bons nomes, já com alguma história no futebol, voltam e complementam essas revelações. O mais importante é a condição física, mental e o desejo desses jogadores que retornam ao Brasil. Se jogam até os 34-35 anos ou mais, é porque possuem qualidade reconhecida.

Atual líder do Brasileiro, o Atlético/MG tem, até aqui, desempenho superior ao do Cruzeiro, campeão em 2003. Como vê o sucesso do clube alvinegro? Em sua avaliação, o campeonato nacional, hoje, é mais fácil? 

Vários aspectos fazem do Atlético merecedor dessa posição. O desempenho deles está sendo fantástico. Desenvolveram um Centro de Treinamento dando totais condições de trabalho ao grupo, mantiveram um grupo montado pelo Maluf e pelo Cuca. O Maluf trabalha muito bem para manter um ambiente focado em futebol. Ofereceram ao Ronaldo (Gaúcho) a condição de ele desejar e buscar algo mais em termos de conquista no Brasil.

Tem colocado jogadores formados em casa com muita qualidade, tem um desejo enorme de conquista, já que a última foi (o Campeonato Brasileiro) em 1971, e uma torcida participativa. Aquela goleada (6 a 1 para o rival Cruzeiro) sofrida na última rodada do Brasileiro passado fez com que esse grupo criasse uma situação de estar atento a tudo, e a todos os momentos. Futebol é coisa muito séria, precisa ser planejado. E isso, o Atlético, como clube, tem demonstrado. Merece essa posição. Ninguém deu nada a eles. Eles estão buscando.

Nas dezoito temporadas como jogador profissional, você defendeu apenas seis clubes. Costumeiramente, é um atleta que cumpre os contratos. Pelo atual vínculo com o Fenerbahçe, 2012/2013 será a sua última temporada na Turquia. Você já pensa no futuro? A volta para o Brasil é, hoje, uma possibilidade maior, menor ou igual à de renovação?

Já está definida em minha cabeça. No momento correto, todos saberão o que farei.

Bate-pronto:

• Palmeiras/2000 ou Cruzeiro/2003?

Cruzeiro.

• Luxemburgo ou Felipão?

Luxemburgo.

Equilíbrio à mineira

Vinícius Dias

Em um duelo repleto de alternativas, declarações e atitudes polêmicas, e raça, que se sobrepôs à pouca qualidade técnica, Cruzeiro e Atlético/MG protagonizaram, no 50º embate pelo Campeonato Brasileiro, um dos mais emocionantes confrontos da história do clássico belorizontino. Ao fim, um empate por 2 a 2.

Tendo o objetivo primário bem delineado: anular os pontos fortes do rival, para, na sequência, partir no contra-ataque, a Raposa, que abusava das faltas - foram 20, contra dez do rival - dominou a etapa inicial. Wallyson, após investida de Éverton, abriu o placar. Já nos acréscimos, Léo Silva, com categoria, empatou.

Na volta a BH, clássico equilibrado
(Créditos: Washington Alves/Vipcomm)

No segundo tempo, mais emoção. O Atlético, afoito, deixava a desejar no último passe - errou 25 vezes, dez a mais que a equipe celeste. Até que Ronaldinho Gaúcho, num lampejo do R10, que encantou o mundo com a camisa do Barcelona, marcou após extraordinária jogada individual. Com nove atletas em campo, o alvinegro estava, pela primeira vez, à frente do marcador.

O líder Atlético estava a alguns minutos de derrotar o clube estrelado, de virada - o que não ocorre desde a segunda fase do Brasileirão de 99 -, quando, após aproveitar passe de Walter Montillo, Matheus deu números finais ao confronto.

Em noite iluminada de Ronaldinho e Montillo: 2 a 2.
E, enfim, um clássico com 'alma clássica' em Minas.

Clássico é clássico!

Vinícius Dias

No domingo, 26 de agosto, Cruzeiro e Atlético/MG se enfrentam na Arena Independência, 17 anos após o último confronto no Horto. O duelo, válido pela 19ª rodada, será o 50º na história do Campeonato Brasileiro. Até o momento, equilíbrio total. Foram 17 vitórias para cada clube, e outros 15 empates.

O embate promete. O Atlético, que, a despeito do placar final, terminará o turno na liderança, pode, caso vencer, superar o Grêmio - que anotou 43 pontos no turno final em 2010 - e cravar o melhor desempenho em uma metade do Brasileiro. A turma de Bernard, Ronaldinho e Jô, pode chegar a marca dos 45 pontos.

A Raposa, por sua vez, promete apagar os rastros negativos da vexatória goleada diante do Coritiba na última rodada. De quebra, pode avançar na tabela e terminar o turno a somente quatro pontos do G4. No entanto, precisará superar a instabilidade. Até aqui, os azuis somaram (apenas) 14 pontos em seus domínios.

Ao soar o apito inicial, as forças se igualam.
E clássico é clássico!!! Qual é o seu palpite?

As lições do estadual

Vinícius Dias

Onze vitórias, dois empates e uma derrota. Os números do líder Atlético nas primeiras 14 rodadas da série A impressionam. Aproveitamento que supera o do Cruzeiro de 2003, campeão com pontuação recorde, e que a essa altura tinha 68,9%. O Corinthians, atual vencedor, já contabilizava duas derrotas e 73,3% em igual período. O Galo de Cuca alcança 83,3% dos pontos que disputa.

O crescimento é exponencial. A zaga, artilheira, é segura demais. E conta com decisivo apoio dos volantes, em ótimo momento. Ronaldinho Gaúcho, que parece ter retomado a vontade de jogar futebol, é o esteio de Jô, que se movimenta muito, e do jovem Bernard, principal figura do Brasileirão até o momento.

Exemplo tático

Seja no 4-2-3-1 habitual, que resgata a antiga ideia dos pontas, ou no 4-3-1-2, em que Bernard (ou Gaúcho) faz companhia à Jô, o esquema de Cuca tem funcionado muito bem. Ainda melhor que no título estadual, conquistado de forma invicta após 36 anos. E ganha força extra do ótimo início, que faz do alvinegro o time de melhor defesa e ataque mais eficaz do certame. O cansado ego atleticano tem se alimentado do bom futebol em doses protéicas.

Campeão ou não, o Atlético entendeu a lição do estadual.
É simples: acreditar nos defeitos, duvidar das qualidades.

Torcedores do ouro!

Vinícius Dias

É ouro? Parabéns! Assim, nós brasileiros tratamos o esporte nacional. Um triste retrato. Reducionista demais para quem acaba de bater a marca de 100 medalhas na história das disputas. Os vizinhos Estados Unidos, por exemplo, têm mais de 90 apenas em 2012. Claro, investimentos em novos valores e sucesso, são grandezas - quase - proporcionais. E o Brasil investe menos.

Porém, como questionar dirigentes se mal conhecemos os atletas? Se nos lembramos de judô a cada quatro anos? Se conhecemos o taekwondo no dia em que destacamos o insucesso (ou sucesso?) do operário Diogo Silva? E se questionamos a qualidade do tri-medalhista Emanuel, do vôlei de praia? Ê, Brasil! Que questiona Cielo, ouro em Pequim, pelo bronze em Londres. Qual futuro queremos?

À caça dos porquês

Ótimos talentos nos decepcionaram, óbvio. Mas o que há de anormal? O futebol, enormemente celebrado e pentacampeão do planeta, jamais nos brindou com o ouro olímpico. Enquanto - os incógnitos - Sarah Menezes e Arthur Zanetti puseram no peito a medalha inédita em suas competições. Ainda podem vir mais. A participação em Londres tende a ser a melhor da história tupiniquim.

O comportamento dos torcedores como anfitriões no Rio, em 2016, preocupa. Imagine-os vaiando seus compatriotas. Ou pior, pense na possibilidade de serem deselegantes com os adversários. Não, não é possível. O brasileiro vai respeitar e entender, sobretudo, que o participante olímpico é, por si, um vencedor.

Tomara, entenda! Pois a mentalidade, hoje, é deplorável.
No tom de: glórias cabem ao país e fracasso aos atletas.

Torcedores de (ou do?) ouro!

O time do artilheiro Damião

Vinícius Dias

Poucas seleções olímpicas se assemelham tanto ao time principal como a brasileira. Titulares na disputa de Londres'12, Neymar, Thiago Silva, Hulk, Leandro Damião, Sandro e Marcelo estiveram nas últimas convocações do técnico Mano Menezes e devem marcar presença na Copa do Mundo Fifa de 2014.

A base está, de fato, pronta. O Brasil desembarcou em solo inglês como favorito. E não precisou fascinar para fazer jus ao posto. Em cinco jogos, 100% de aproveitamento. Quinze gols anotados e cinco sofridos. Objetivo alcançado. 24 anos após perder de virada para a União Soviética, volta a disputar o Ouro.

O título inédito do Brasil pode vir na manhã deste Sábado. Diante da boa seleção mexicana, em Wembley. Na terra dos inventores do esporte. Que viu a sonhada renovação, iniciada por Dunga, ganhar cara de título sob a batuta de Mano.

Mr. Menezes. Que comanda a seleção de Neymar.
Mas faz dela o time do artilheiro Leandro Damião!


Após diversos testes e improvisações no setor, considerado
carente, cúpula estrelada retomou negociações com Kléber

Vinícius Dias

A lateral-esquerda do Cruzeiro é uma incógnita. Apenas nas cinco últimas partidas, Diego Renan, Marcelo Oliveira e Éverton foram testados. Gilson, contratado no início da temporada, deixou a equipe na última sexta-feira, rumo ao Vitória/BA. Por Emiliano Papa, titular do Vélez Sarsfield, não teve negócio.

Mas as tentativas prosseguem. Embora a cúpula negue, o Blog Toque Di Letra apurou que a Raposa voltou à carga para contar com o experiente Kléber, do Internacional/RS. Contundido, o ex-ala da Seleção não joga há mais de um mês, e participou de apenas duas partidas neste Campeonato Brasileiro.

No entanto, o clube gaúcho não vai facilitar a transferência, e já contra-ataca nos bastidores. "Motivada" pela oferta celeste, a diretoria Colorada deverá propor a prorrogação do contrato atual, que se encerra em 31 de janeiro de 2013.

Histórico vencedor

Eleito o melhor lateral-esquerdo do país, em 2007, Kléber tem no currículo 21 partidas pela Seleção Brasileira, e três conquistas: a Copa América de 2007, a Copa das Confederações/2009, e o Superclássico de las Américas, disputado em 2011.

Marcelo Bechler: à moda mineira

Com passagens por vários veículos mineiros, Marcelo Bechler
tem se destacado como comentarista esportivo em São Paulo

Vinícius Dias

Jornalista formado em 2008 pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), o belorizontino Marcelo Machado Bechler é, hoje, um dos expoentes da imprensa paulista. Para ele, "não existe opinião sem informação".

Bechler exibe talento em São Paulo
(Créditos: Facebook/Reprodução)

Trabalhou nas rádios Inconfidência e Globo-CBN (MG), e na TV Horizonte. Foi colaborador do Jornal Hoje em Dia e da Rádio Jovem Pan, São Paulo. Atualmente, é comentarista do Sistema Globo de Rádio, em SP, e escreve no Blog do Bechler.

Quando você optou pela carreira de jornalista? Algum familiar ou profissional de sucesso lhe influenciou no gosto pela comunicação esportiva? 

Optei muito cedo, ainda com 12 anos. Gostava muito de futebol e decidi trabalhar com isso. Cheguei a ter dúvida entre jornalismo e educação física, mas como sempre gostei de escrever, gostava de história e geografia, optei naturalmente pelo jornalismo.

Como você analisa o sucesso do rádio esportivo brasileiro, mesmo diante da constante modernização das transmissões televisivas no país?

O rádio também se moderniza. Interação com o público, mais dinamismo. Na verdade, esporte é sempre consumido e rádio não é um meio caro. Existe já estrutura montada há muito tempo e ela é aproveitada. É um meio que tem grande alcance e segue vendendo publicidade.

49 anos depois do Santos de Pelé, em 1963, o Corinthians vence a Libertadores de maneira invicta. Sem grandes estrelas, fez valer a força do conjunto. O que isso significa, no momento em que, cada vez mais, os conjuntos brasileiros têm contratado atletas de fama internacional?

O próprio Corinthians contrata. Ronaldo, Adriano, Alex (que o clube pagou 7 milhões de euros). A questão é o time montado pelo Tite. Nunca privilegiou as estrelas e ganhou um brasileiro e uma Libertadores. Mostra como trabalho bem feito, a médio e longo prazo, traz resultado. Mais importante que a grife é o trabalho. Apesar do Corinthians ser hoje o clube mais rico do Brasil, tinha Edenilson, Ralf, Castan, Paulinho, William, Edenilson...todos jogadores que foram garimpados de equipes menores. Serve de lição para clubes com menor investimento e que precisam ser competitivas.

Campeã do Mundo, em 2010, e das Eurocopas, em 2008 e 2012, a Seleção Espanhola se mantém na liderança do ranking da Fifa. Para você, o que faz desse um conjunto vencedor? É o favorito ao título em 2014?

A Espanha tem uma ótima geração e isso faz diferença. Mas o principal foi entender o próprio jogo. Perceberam suas qualidades e tentam explorá-las ao máximo. Sabem de seus defeitos e tentam se proteger deles. Não tem centroavante? Joga sem centroavante. Não precisa ser refém de um esquema. Não é um time perfeito, mas é um time que minimiza erros como nenhuma outra seleção consegue fazer. E já virou escola. O time olímpico (apesar do fracasso) tinha 2 jogadores do Barcelona e mesmo assim jogava como o time catalão e a seleção espanhola. Já independe das peças, há uma filosofia.

Indicado ao Prêmio de Melhor do Mundo em 2011 e cobiçado por grandes clubes europeus, Neymar acertou - há seis meses - sua renovação contratual com o Santos. Para você, é possível que o atacante alce voos mais altos, mesmo permanecendo no Brasil?

Para isso, ele vai precisar de um time. A ideia era compensar o dinheiro que o Santos abriu mão (o recebimento da multa) dando um bom time para Neymar e vendendo as outras peças. Foi o que fez quando vendeu Wesley, André, Zé Eduardo, Alex Sandro, Danilo e Jonathan. Ter um bom time, vender peças periféricas, repor bem, seguir competitivo. O plano era esse. Mas com o time mau, fica mais difícil convencer Neymar a não se seduzir com propostas de outros centros.

Caso o Santos vencesse a Libertadores de novo em 2012 e Neymar brilhasse nas Olimpíadas, seria possível começar a cogitar em brigar, e não participar, do prêmio de melhor do mundo.

Há algum tempo, o nível da arbitragem nacional tem sido bastante questionado. Você acredita em benefício a determinadas equipes? Vislumbra no uso de tecnologias eletrônicas e/ou profissionalização dos árbitros, medidas eficazes na resolução deste quadro?

A tecnologia para determinar se a bola ultrapassou a linha de gol eu sou favorável. É relativamente simples e fácil de fazer. Outros lances são mais complicados. Lembro em 2008, um lance entre Cruzeiro x Flamengo. Tardelli caiu na área e na hora vi pênalti claro. Pelas imagens da TV minha certeza só aumentou. Dois dias depois, uma outra imagem mostrou que não houve nem choque entre os dois.

Sobre nível de arbitragem, será cada vez mais questionado. Justamente porque as câmeras mostram o que o olho não consegue enxergar. É natural e tende a aumentar.

Como você se posiciona no que se refere à atuação (em algumas ocasiões, violenta) das torcidas organizadas no país? É favorável à extinção?

A extinção pura e simples só dificulta a identificar o infrator. Os hooligans, enquanto permaneciam do seu lado da torcida, eram controláveis. Os problemas começaram quando eles se infiltravam entre os adversários e começavam os tumultos. É importante ter punição severa. Em uma briga de 300 pessoas, como houve esse ano em SP, não podem ter 9 presos. É punir um a cada 30. Se houver punição rígida, os fatos violentos diminuem com certeza.

Um dos principais eventos esportivos dos próximos anos, a Copa do Mundo de 2014 será sediada no país. O que você pensa a respeito? Vê como oportunidade de desenvolvimento, ou chance de mascarar as deficiências?

Era a grande chance de virar o jogo, e nós estamos perdendo. O país nunca viu tanto investimento e no final a conta não vai fechar. Os custos não param de crescer, por ter que acelerar as obras, os cofres já foram desfalcados em mais de 1 bilhão. Poderíamos aproveitar o investimento e mudar a cara das cidades, mas tudo será feito no improviso. Se você tem uma avenida que te leva ao estádio, poderia construir outra, ampliar essa, levar o metrô até lá. O que vamos fazer? Antes do jogo as duas vias em um sentido, depois do jogo as duas vias no sentido contrário. É muito pouco.

Mas há outro fator. A Copa de 2006 foi na Alemanha e a Itália venceu. Uma vez, ouvi Klinsmann dizer "perdemos a Copa, mas ganhamos o país". Por tudo que envolvia o orgulho alemão afetado desde as guerras do século passado. Isso pode acontecer no Brasil. Nos dar mais confiança, mais orgulho, mais patriotismo e menos patriotada. Mais zelo pelo nosso dinheiro, etc. Vamos aguardar.

Bate-pronto:

• Ronaldo ou Romário?

Ronaldo.

• Pelé ou Messi?

Pelé.

Pessoas da convivência de Telê Santana revelam faces do
mineiro que cravou página heroica na história do futebol

Vinícius Dias

Meados da década de 1950. Sobre a mesa, o rádio ligado, já sintonizado nas principais estações cariocas. Ao redor dela, boa prosa, familiares em confraternização. O engenhoso Telê Santana da Silva, meia-direita recém saído de Itabirito, já titular do Fluminense/RJ, era o alvo das atenções. Acompanhar a jornada esportiva, ouvir seu nome, deixava os itabiritenses extasiados. A terra via nascer o ídolo. Os antigos amigos eram alegria em estado puro.
Um dos privilegiados, Luiz Corradi Júnior, hoje aos 83 anos, ainda recorda aqueles tempos. "Quando a família de Dr. Alberto (Woods Soares) o levou para o Rio, restava a nós a alegria de ficar ao pé do rádio para ouvir as transmissões das partidas do Fluminense. Quando ele marcava um gol, a gente vibrava. Apesar de que éramos botafoguenses, nós torcíamos pelo sucesso", fala.

Telê, em Itabirito, ao lado de amigos
(Créditos: Arquivo Pessoal/Silvestre Martins)

Morador vizinho e companheiro de infância do (futuro) mestre do futebol-arte, Corradi se recorda da amizade defensiva. "O Telê era uma pessoa franzina, e eu não gostava que ninguém se aproveitasse dele", ressalta. "Para mim, ele foi um irmão. Conviver com ele era motivo de felicidade", completa.

Abreviada pelo padrão físico, a carreira de Telê como jogador durou pouco mais de dez anos. Todavia, antecedeu a experiência como treinador. Oito clubes e 28 temporadas, que valeram, entre outros títulos, dois Mundiais, duas Libertadores e dois brasileiros. Ele deixou o legado. Nos torcedores, restou a saudade.

Um técnico-pai

Dos seus ex-comandados, gratidão. "Telê Santana não treinava apenas o jogador, treinava o homem. Falava muito da moral, e preparava a cabeça dos jogadores. E era um perfeccionista. Mas, os benefícios que os atletas tinham, eram para torná-los eternamente gratos ao Telê, como centenas são, inclusive eu", diz Dadá Maravilha, Campeão Brasileiro em 1971, sob a batuta do mestre.

Homenagem: estátua na terra natal
(Créditos: Vinícius Dias/Toque Di Letra)

Recordista em partidas à frente do alvinegro - somou 434, Telê também demonstrou o lado paizão. "Ele era, acima de tudo, um homem, chefe de família. Gostava que o jogador se preocupasse com a família, com o seu patrimônio, e com o futuro. Se o cara comprasse um carro antes de uma casa, ele dava uma dura. O Telê foi muito útil à carreira de centenas de jogadores", completa.

EXEMPLO - Renê Santana, 55 anos, o único filho homem de Telê que, se estivesse vivo, teria completado 81 anos na última quinta-feira, viu o pai como um exemplo de caráter. "Foi um pai para mim e, dentro do possível, para os jogadores ou quaisquer jovens que conseguia conviver, passar o fundamental. A sua simplicidade, nem o dinheiro, ou a fama transformou", destaca.

O caráter inflexível, marca da personalidade do itabiritense, fez-se visível desde o começo da carreira. Renê se lembra bem. "O Fluminense era seu primeiro clube, jovem treinador. Ao sentir-se traído pelo preparador físico, comunicou à diretoria que não continuaria com ele. Mas o presidente quis que se entendessem. Pois eu estou fora, ele disse. Mesmo sem nenhuma proposta de trabalho, não se dobrou, e ficou desempregado. Fez questão de nos contar", encerra.

Marca na história

O memorial, sonho, não saiu do papel. Mas deixou notável marca. Como parte dos festejos do 84º aniversário de Itabirito, em 2007, a Prefeitura instalou na Travessa Domingos Pereira, Região Central, uma estátua, em tamanho real, do treinador. Trajando agasalho da Seleção Brasileira, Telê ostenta, na mão esquerda, uma bola com escudos das principais equipes que defendeu.

Nilson: goleador e amigo do 'rei'

11º maior artilheiro da história do Atlético, time da paixão,
Nílson recorda os tempos áureos e a amizade com 'rei Dario'

Vinícius Dias

A paixão pelo futebol sempre embalou o sonho do guri. Antes mesmo de ganhar a primeira bola, ele desejava se tornar atleta profissional. "Ao me deitar, eu fazia as minhas orações. Pedia para ser um grande jogador, e esperava que o Grande Pai dissesse amém", lembra. Zizinho, à época no Bangu, do Rio, e o conterrâneo Telê Santana, no Fluminense, eram as referências. Nílson Batista Cardoso recebeu a primeira oportunidade aos 18 anos, no clube do coração.

Hoje, cinco décadas e meia depois, o itabiritense ostenta o posto de 11º maior goleador do quadro do Atlético/MG, com 125 gols anotados em 272 partidas, e se recorda, com saudade, das vivências. "Foram dez anos de uma vida satisfatória. Porém, embora tivesse toda regalia para treinar, eu trabalhava. Não tínhamos essas facilidades nem os patrocínios de hoje", afirma.

Atlético, em 58: Nilson vestia a nove
(Créditos: Arquivo Pessoal/Nilson Cardoso)

O destino, contudo, poderia ter lhe reservado outros caminhos. Antes de atuar pelo clube alvinegro, Nílson tentou a sorte, acompanhado de outros dois amigos, no Flamengo. "Nós ficamos no Rio por uns 45 dias, e foi uma passagem muito boa. Fui craque da rodada por duas vezes. Mas aquela saudade de casa, de jamais ter saído, e da namorada, antecipou o nosso retorno", conta.

Tricampeão mineiro pelo clube (1958, 62 e 63), ele ainda se recorda do primeiro treino no time. "Ao chegar lá, não havia chuteira do tamanho do meu pé. Então, eu recebi uma de número um pouco maior. No treino, me saí bem. Quando terminou, a torcida, lá presente, me carregou do campo até a gerência do clube. Foi preciso que o Kafunga dissesse que eu tinha assinado o contrato para que todos eles fossem embora", diz, em tom de satisfação.

MEMORÁVEIS - Foi em 1958. "Eu estava no Atlético há uns dois meses, mas não pude disputar o Mineiro. Fizemos dois amistosos e marquei seis gols. Três, na vitória (por 3 a 0) sobre o Corinthians/SP. Outros três, no domingo, quando vencemos o Santos/SP, por 5 a 2. Esses gols, ainda no início, e sobre grandes clubes de São Paulo, marcaram a minha carreira", ressalta.

O jogo marcante? Foi em outubro de 1963. Diante do Grêmio, no estádio Independência. "Eles tinham um defensor famoso, que se chamava Jorge Ortunho. Nessa partida, tive uma luxação no ombro direito, logo que subi para cabecear uma bola. Mas recordo que, na sequência, eu driblei dois beques e toquei de lado na saída do goleiro. Nós empatamos, por 1 a 1", recorda.

Em casa, Nilson preserva memórias
(Créditos: Vinícius Dias/Toque Di Letra)

A saída do Atlético, em 1967, rumo ao Campo Grande/RJ, desagradou aos alvinegros. Eles, contudo, não imaginavam que, alguns meses depois, por indicação de Nílson, o clube de beagá traria o jovem Darío, aos 21 anos. "Quando eu cheguei ao Campo Grande, ele era o titular. Lá, nós fizemos amizade e, na sequência, o indiquei ao Atlético, que o trouxe para cá. No ínicio, ele não foi feliz. Mas depois se tornou o Dadá que conhecemos e admiramos", fala

Em atividade...

Aos 73 anos, o ex-avante mantém-se ativo no futebol local e participa, aos sábados, de partidas em uma propriedade rural da cidade. "Ainda dou as minhas corridinhas no Centro do Ratinho. Todos os domingos, me reúno com uma rapaziada boa", afirma. Nas palavras de Nílson, a satisfação se evidencia. "Fico muito alegre", destaca.

Vida de empresário

Casado com Marni, pai de três filhos e avô de cinco netos, Nílson Batista Cardoso possui, há cerca de quatro décadas, um depósito de gás e água mineral em Itabirito e destaca-se como empresário de sucesso na Região dos Inconfidentes.


Campeão Mineiro em 1964, itabiritense recorda trajetória
no Siderúrgica, de Sabará, e a partida em que saudou Pelé

Vinícius Dias

Arrastando os chinelos, de barba por fazer e sorriso no rosto, ele atende a porta de casa. Silvestre Martins Fernandes, de 79 anos, foi goleador do Campeonato Mineiro em 1958 e campeão seis anos depois pelo Esporte Clube Siderúrgica, de Sabará. Segundo Anita, única namorada, com quem o ex-meia-direita se casou e teve quatro filhos, ele dorme cedo, não fuma nem bebe. "É um exemplo de honestidade, de amor aos seus filhos e à esposa. Sempre foi ótimo pai", destaca.

"Ele precisava trabalhar, levantar cedo, depois ir para o treino". A fala da companheira de longa data afirma a árdua rotina do atleta. Em meio às objeções, ele alcançou o título mais notável da carreira aos 31 anos. "A conquista do estadual em 1964 foi muito difícil. Contamos com a sorte para superar (por 3 a 1) o América, que, naquela época, tinha ótimos jogadores", recorda.

Titular na Seleção Mineira, em 1965
(Créditos: Arquivo Pessoal/Silvestre Martins)

O mais célebre capítulo da história, porém, só seria escrito um ano depois, no Mineirão. Em 05 de setembro de 1965, o avante foi titular da Seleção Mineira no embate inaugural do palco, diante do River Plate/ARG. Um dia depois de marcar, no treino apronto, o primeiro gol não oficial do Gigante da Pampulha. Gol que lhe rendeu placa entregue por Gil César, engenheiro construtor do estádio.

Silvestre cumprimenta Pelé
(Créditos: Arquivo Pessoal/Silvestre)
Se as lembranças são diversas, uma delas é tratada com carinho singular. É o encontro com o 'Rei Pelé'. Era o quinto dia do mês de abril de 1961. "Foi minha maior emoção. Eu tive a honra e o prazer de cumprimentar o Pelé", lembra Silvestre. No confronto com o Peixe, o itabiritense vestiu a oito do Atlético e se recorda, com detalhes, das palavras de Pelé a um santista. "Marque esse camisa 8. Ele sabe jogar". O brilho dos olhos, nem a derrota por 3 a 1 lhe tirou. Para um saudosista Silvestre, foi a partida mais marcante de toda sua carreira. E, ainda hoje, traz à tona memórias.

PAIXÃO - É amor antigo, sentimento instantâneo. Logo aos 17 anos, enquanto trabalhava na fábrica de tecidos, Silvestre conquistou a garota Anita, de 15, funcionária da fiação. Dois anos após, ele foi para o Rio. A convite do conterrâneo Telê Santana, profissional no Fluminense, jogaria nos juvenis do clube. Porém, enganou-se quem imaginou que a distância enfraqueceria a paixão.

"O amor me motivava a enviar cartas para ele lá. Tinha um senhor na fábrica que levava-as ao correio. O namoro era escondido do meu pai", afirma Anita. Das emoções, ele não se esquece. "Os recados falavam de saudades. Eu estava longe, ela trabalhando. Uma vez, cheguei a chorar", lembra. Amor que motivou a recusa de uma proposta do São Paulo e o retorno a casa.

A caráter, Silvestre exalta carreira
(Créditos: Vinícius Dias/Toque Di Letra)

Mas o sonho de se profissionalizar seguiu vivo. As portas do Siderúrgica foram abertas. O sucesso em Sabará trouxe uma oferta do Cruzeiro, clube da paixão do artilheiro, de pronto rejeitada. Silvestre foi decidido. Ouviu os pedidos da mãe e permaneceu em Sabará. Confessa não ter se arrependido.

"Jogava no Siderúrgica e, ao mesmo tempo, eu trabalhava. Quem fez a proposta foi o Felício Brandi (presidente celeste entre 1961 e 1982). Na época, ele ofereceu massas alimentícias e uma casinha com alpendre, no bairro Floresta. Mas preferi seguir as recomendações da minha mãe. Ela havia falado que eu teria que arrumar emprego. No Cruzeiro, ficaria por conta do futebol. Não me arrependi", conta. "Fiquei no clube em que fiz muitas amizades", encerra.

Artilheiro da alegria...

Silvestre, que acredita ter marcado mais de 50 gols durante sua carreira profissional, ainda arrancou centenas de sorrisos dos telespectadores da cidade. No início dos anos 2000, ele se tornou 'artilheiro da alegria'. Foi contador de piadas, com outros dez colegas, na atração humorística O Barracão - Nós Somos da Farra, exibida diariamente, à tarde, pela TVI, emissora de Itabirito.