Vinícius
Dias
A
mensagem da presidente Dilma Rousseff, aliada às manifestações de craques como
Sorín e Alex, e ao apoio do "rival" Alexandre Kalil deram a certeza
de que o enredo da estreia celeste na Libertadores ultrapassou as quatro
linhas. Bem mais que a boa atuação do Real Garcilaso e o fato de o Cruzeiro ter
sucumbido à altitude, o racismo traduzido a cada vez que a bola encontrava os
pés do volante Tinga ganhou o mundo.
Ainda
no século passado, o sul-africano Nelson Mandela, ícone da luta contra o
preconceito racial, afirmava depositar as últimas esperanças nos esportes.
"Eles têm poder para mudar o mundo. Poder para unir as pessoas como poucas
coisas conseguem", afirmou. De fato, sob a bandeira da inclusão, o futebol
- em especial - confirma a cada dia sua capacidade de congregar povos e classes
sociais.
Por isso, hoje o Brasil inteiro está #FechadoComOTinga
— Dilma Rousseff (@dilmabr) 13 fevereiro 2014
No
Brasil, onde se tornou marca da identidade nacional, o esporte tem
representado, mesmo além dos 90 minutos, uma rara oportunidade de ascensão
social, um raro círculo em que o diferente tem vez (e voz) para tentar a
própria sorte. Os signos, assim representados, se confundem com a trajetória do
gaúcho Paulo César Fonseca do Nascimento.
No
currículo, os títulos
Duas
Copas do Brasil, duas Taças Libertadores e um título brasileiro. As várias
batalhas superadas e as gotas de suor derramadas nos gramados credenciam Tinga
a ser o grato exemplo do homem, de família humilde, que transformou obstáculos
em degraus para o sucesso.
Tinga: volante foi vítima de racismo (Créditos: Washington Alves/Vipcomm) |
Na
contramão, as cenas de racismo levam à indignação. O preconceito, que agora
vitima o meia cruzeirense, ora mirou Vagner Love, Roberto Carlos, Robinho,
Júlio Baptista, Dedé. E, de forma velada, acomete dezenas de cidadãos a cada
minuto, nos mais longínquos cenários. O comportamento asqueroso, herdado dos
anais da escravidão, torna o diferente indigno de respeito.
Desrespeito à história!
Que,
além de punido, o exemplo peruano seja combatido. O desrespeito a Tinga foi
ainda um golpe - duro, diga-se - contra a história do Brasil. De Pelé, Dida,
Lêonidas da Silva e tantos Paulos, Cézares, negros que nem mesmo na tentativa
de bradar por piedade contaram com o olhar generoso da história, a serviço dos
vitoriosos.
Que a
noite de derrota na altitude tenha, na linha do tempo, a marca da vitória da
atitude na batalha diante do preconceito. Caso contrário, Tinga terá motivo
para manter a triste proposta de trocar seus diversos títulos pelo "simples" direito (que já deveria ter) de ser respeitado
enquanto faz seu trabalho.
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