Tiago de Melo
Há algumas semanas, de férias na Itália, tive a
oportunidade de assistir a duas partidas da liga local de dentro do estádio. O
que me moveu não foi apenas a paixão pelo futebol. Também queria uma amostra de
como é a experiência de vivenciar in-loco uma partida de um importante
campeonato europeu. E, claro, ver em que medida essa experiência seria
diferente de assistir a uma partida no Brasil.
A primeira das partidas foi entre o Torino e o
Verona, no Olímpico de Turim. A partida ocorreu numa chuvosa noite de quarta-feira,
de modo que as arquibancadas não receberam um grande público. Dentro de campo,
a partida tampouco encantou, e o nível técnico foi semelhante ao de inúmeras
partidas que vemos no Brasil. Deve-se dar o desconto devido ao fato de a
temporada estar no início, mas se poderia esperar mais de equipes que não estão
mal colocadas em uma importante liga européia - no momento, o Verona é o quinto
colocado, e o Torino o décimo.
Torino e Verona: empate por 2 a 2 (Créditos: Arquivo Pessoal/Tiago de Melo) |
O que realmente impressiona é a organização. O
sistema de transporte público de Turim é muito bom, a chegada ao estádio foi
tranquila, retirei minha credencial de jornalista e ocupei o espaço a mim
designado em apenas alguns minutos. O estádio Olímpico não tem nada de
excepcional, estando no nível de vários estádios brasileiros, claramente abaixo
das arenas da Copa, mas é muito bem cuidado e o gramado é excelente.
Jornalista ou torcedor?
Chamou a atenção o comportamento dos jornalistas.
Os profissionais na tribuna da imprensa se comportavam como torcedores, de
forma explícita. Do meu lado, por diversas vezes um radialista fechava seu
microfone para xingar o árbitro com todos os palavrões imagináveis. E, a
despeito dos inúmeros avisos de que era proibido fumar, o tabaco corria solto.
E não poucos consumiam bebidas alcoólicas.
Juventus levou a melhor em dérbi (Créditos: Arquivo Pessoal/Tiago de Melo) |
A segunda partida foi o clássico local, entre
Torino e Juventus, no mesmo estádio. Havia uma maratona na cidade, os ônibus
tinham seu itinerário modificado, e a chegada ao Olímpico não foi tão
eficiente. Mas a partir do momento em que se chegava aos arredores do estádio,
tudo ficava simples. Poucos minutos se passaram entre eu terminar um sanduíche
de pernil em uma barraca do lado de fora até o momento em que sentei no lugar designado.
Quis sentir o clima das arquibancadas e não utilizei minha credencial, sem ter
nenhum problema para comprar meu ingresso com alguns dias de antecedência.
Respeito
aos lugares
Nas arquibancadas o clima era de clássico, mas o comportamento dos torcedores não era essencialmente distinto do que vemos no Brasil, exceto por alguns detalhes, como o respeito aos lugares marcados. A torcida do Torino fez valer o mando de campo, e ocupou algo como três quartos das arquibancadas, fazendo uma bonita festa grená. Menos numerosa, a torcida da Juve parecia também menos animada. Talvez porque o clássico seja mais importante para o Toro, que há tempos deixou de ser protagonista no futebol local.
Torcida do Toro animou o estádio (Créditos: Arquivo Pessoal/Tiago de Melo) |
Dentro de campo as coisas correram melhores que
na partida anterior, mas nem tanto assim. Ainda que desfalcada (Pirlo, por
exemplo, não jogou), a Juventus tinha jogadores de qualidade suficiente para se
impor ao medíocre Torino, tais como Buffon, Tevez e Pogba. Mas territorialmente
a partida foi equilibrada, e a vitória da Juve pela contagem mínima se deveu
basicamente à melhor qualidade individual dos jogadores e à ineficácia dos
locais em criar qualquer situação de perigo.
Melhor? Nem
tanto...
A curta experiência me levou a duas conclusões. A
primeira é de que por vezes o futebol europeu é superestimado por aqui. Há mais
dinheiro e jogadores de alto nível, mas ficou a impressão de que a maioria dos clubes de lá não se destacaria por aqui. Os confrontos
de gigantes que vemos na Liga dos Campeões estão muito mais para exceção do que
para regra por lá.
Mas também ficou um certo gosto amargo, ao
constatar que várias das vantagens do futebol europeu só não existem aqui por
pura incompetência nossa. Venda antecipada de ingressos pela internet com
lugares marcados, transporte público eficiente, acesso fácil ao interior do
estádio, arquibancadas limpas, gramados bem cuidados, nada disso demanda cofres
abarrotados de dinheiro. Poderíamos ter tudo isso com uma organização decente.
Mas definitivamente não temos.
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