De Corcel a Fusca, Joaquim Lagares, 55 anos, pinta um carro
a cada grande título celeste: 'nesse ano, eu pinto outro', fala
Vinícius Dias
Enquanto milhares de cruzeirenses
deixavam suas casas para celebrar o título brasileiro, após o apito final do
jogo contra o Bahia, em dezembro passado, o funcionário público Joaquim
Lagares, de 55 anos, embebia o pequeno rolo nas tintas de cores azul e branca,
conferindo os detalhes finais ao Fusca modelo 1969. Depois de 30 minutos, já
com a decoração alusiva ao tri, o veículo puxava a fila da carreata que ganhou
as ruas de Serro, no interior de Minas Gerais.
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"Coloquei na garagem e fui
pintando aos poucos. Quando o Cruzeiro foi campeão, o meu filho brincou: pode
terminar, pai. Está pronto!", recorda Joaquim. Segundo ele, contudo, a
intenção era guardar segredo até o dia da comemoração, marcada para 1º de
dezembro. "Sabíamos que éramos campeões, mas não podíamos ficar
aparecendo", conta. A ideia é também evitar decepções como a de 2009, na
Libertadores. "Havia preparado para pintar esse Fusca", explica.
'Eu sou ciumento', fala Joaquim Lagares (Créditos: Arquivo Pessoal/Joaquim Lagares) |
Tão logo saiu às ruas, o veículo fez
sucesso entre os cruzeirenses. "Ele é atração na cidade. Os torcedores
ficam doidos, pedem para tirar foto com as crianças e até para dirigir",
diz. Para esse último pedido, Lagares tem resposta pronta. "Ele fica na
porta da minha casa. Quem passa por aqui para, vê, tira foto. Mas dirigir eu
não deixo. Sou ciumento e, exceto meu filho, apenas eu dirijo", justifica.
'Rivalidade' em casa
A paixão pelo Fusca (e pelo Cruzeiro)
é tamanha que motiva, inclusive, a rivalidade com a esposa, atleticana.
"Minha esposa é atleticana, de família toda atleticana. E em casa, eu
tenho uma relação de rivalidade com ela", destaca. No carro, segundo fala,
ela nunca entrou. "Não pode entrar, de jeito nenhum. Ou vou sozinho ou com
algum cruzeirense. Atleticano não entra no carro", afirma.
Detalhe da pintura do Fusca tricampeão (Créditos: Arquivo Pessoal/Joaquim Lagares) |
Na pintura, Joaquim destacou, além dos
três títulos brasileiros, a Raposa, mascote celeste. "As ideias surgem na
hora. Por exemplo, eu ainda tenho vontade de colocar os títulos da
Libertadores, mas não deu tempo", diz o funcionário público, que, pela
segunda vez, expressou a paixão pelo clube por meio da pintura de um carro.
História desde 2003
"A primeira vez foi em 2003,
quando o Cruzeiro ganhou a Tríplice Coroa. Naquela época era um Corcel, de
1973. Aquele eu pintei em mutirão, esse foi sozinho", recorda. Sem
documento, o veículo terminou no desmanche. Destino diferente do que ele espera
dar ao Fusca. "Esse aí, vou deixar no estaleiro, vou conservar",
destaca.
Corcel (centro): carro do título de 2003 (Créditos: Arquivo Pessoal/Joaquim Lagares) |
Antecipando a confiança no elenco
dirigido por Marcelo Oliveira, ele espera ter de cumprir a promessa.
"Nesse ano, se ganhar algo, vou pintar outro. Pode ser Campeonato Mineiro.
Já tem mais um carro esperando", afirma Joaquim. "Se o jogo for às
16h, terminando às 17h30, às 18h o carro já estará na rua. Eu chamo os
colegas, e em um instante ele está pronto", afirma, planejando a nova
pintura.
Sonho de ir à estrada
Em razão da documentação, que consta
ser verde a cor predominante do carro, agora pintado de azul e branco, ele não
tem utilizado o Fusca fora dos limites da cidade de Serro. Sonho que espera
concretizar em breve. "Tem um rapaz que trabalha na delegacia e ficou de
olhar para mim. Vou tentar conseguir essa documentação, que altera a cor
predominante para azul", afirma. Por ora, não importa em que rua ou praça,
ele segue como atração na cidade.
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