Tiago de Melo
Um
dos assuntos mais comentados do futebol sul-americano nas últimas semanas foi a
volta de Carlitos Tevez ao Boca Juniors, clube que o criou e onde despontou
como craque. Mas o atacante, apresentado ontem, não é um caso único. O Apache é
um notável membro de uma tendência que se desenha nos clubes argentinos: a de
convencer seus jogadores de peso a retornarem para o clube em que nasceram
futebolisticamente.
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Um
exemplo recente que teve destaque ocorreu no Newell's Old Boys. Em 2011, o
treinador Gerardo Martino deixou a seleção paraguaia, após levar os guaranis às
quartas de final do Mundial de 2010 e de alcançar o vice- campeonato da Copa
América daquele ano. Tinha boas ofertas, incluindo uma para assumir a seleção
da Colômbia, mas preferiu voltar ao clube do coração, o Newell's, onde foi
ídolo como jogador - Martino, ainda hoje, é o atleta com maior número de jogos
na história leprosa.
Tevez: de volta ao Boca nessa terça-feira (Créditos: Club Atlético Boca Juniors/Divulgação) |
A
situação do clube era ruim. Em má fase técnica e financeira, o Newell's corria
sério risco de rebaixamento. Mesmo assim, 'Tata' assumiu o clube, conquistou um
título nacional e chegou às semifinais da Libertadores em 2013, sendo eliminado
pelo Atlético. Fundamentais para essa recuperação leprosa foram Gabriel Heinze
e Maxi Rodríguez, ambos com mais de uma Copa pela seleção da Argentina, além de
passagens por grandes equipes europeias e que foram convencidos por Martino a
encerrar a carreira no clube do coração.
Retornos sem sucesso
Bem
diferentes foram os casos de Mauro Camoranesi e David Trezeguét. Ambos
iniciaram a trajetória em times pequenos da Argentina - Aldosivi e Platense,
respectivamente -, mas construíram suas carreiras no exterior. Como também
possuíam nacionalidades estrangeiras - italiana e francesa, respectivamente -,
se enfrentaram na decisão da Copa de 2006. Depois, retornaram ao país sem
sucesso. Camoranesi passou por Lanús e Racing. Trezeguet defendeu River Plate e
Newell's, antes de encerrar a carreira no futebol indiano.
Diego Milito: caso de amor ao Racing (Créditos: Racing Club/Divulgação) |
Sucesso
teve a história do retorno de Diego Milito ao Racing. Revelado na Academia,
onde foi campeão nacional em 2001, o atacante retornou para ajudar a equipe a
pôr fim à seca de títulos. E conseguiu levar um plantel desacreditado ao título
argentino em 2014. O que significa que possui a façanha de ter estado presente
nas duas taças nacionais levantadas pelo clube desde 1966. Muito menos digna de
nota foi a volta de seu irmão, Gabriel Milito, ao Independiente. Em um time
fraco e dividido, e sofrendo com contínuas lesões, o ex-zagueiro do Barcelona
pouco pôde fazer pelo clube do coração.
O fator River Plate
O
River Plate também tem histórico interessante no quesito, em especial envolvendo a vitoriosa geração revelada no fim do século XX. Na década passada,
Ortega e Gallardo haviam retornado para encerrar a carreira em casa. No início
da temporada foi a vez de Pablo Aimar. Na atual janela de transferências, o
clube apresentou Saviola e Lucho González. Lucho é cria do Huracán, mas já
vestiu a camisa do River. Os demais foram revelados pelo brasileiro Delém na
base do time millonário e burilados por Pékerman nas seleções nacionais de
base.
River apresenta Aimar e Lucho González (Créditos: Club Atlético River Plate/Divulgação) |
O
Boca também tem uma trajetória com os 'retornados', ainda que com outras
características. Normalmente prefere trazer de volta atletas ainda com muito
mercado fora do país e por altas cifras. Exemplos, ainda na década passada,
foram os retornos de Palermo e Riquelme, patrocinados por Mauricio Macri, então
candidato à prefeitura de Buenos Aires. Ele não economizou e trouxe os ídolos
de volta, com altos salários. A dupla foi, definitivamente, eternizada na
história, conquistando a Copa Libertadores de 2007, mas também endividando o
clube.
De Riquelme a Tevez
Coincidência
ou não, Maurício Macri quer se eleger presidente nas eleições deste ano. O
atual mandatário é Daniel Angelici, seu aliado. No início deste ano, os
auriazuis trouxeram Daniel Osvaldo, criado no Huracán, mas que nunca escondeu o
sonho de atuar no Boca, clube do coração. Já haviam repatriado Fernando Gago,
também da seleção. Agora é a vez de Tevez, grande ídolo xeneize. O salário é
alto - fala-se em US$ 450 mil mensais, cifras elevadas mesmo para os padrões
brasileiros, por exemplo -, mas a expectativa também: neste ano, o mínimo que
se espera de Carlitos é o título argentino, já que o Boca está entre os
primeiros.
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