Foguetório nas manhãs seguintes às vitórias do time alvinegro
é tradição pelas mãos de Pedro Viana, há 30 anos, em Itabirito

Vinícius Dias

Dia 25 de julho de 2013. Logo às 6h, dois foguetes estouram no céu de Itabirito, no interior de Minas Gerais. Os 'tiros de canhão', comuns há 30 anos nos dias seguintes às vitórias do Atlético, ganharam sabor especial naquela quinta-feira. Depois de vencer o Olimpia, do Paraguai, por 2 a 0, aquele era o primeiro dia do Galo como dono da América. O estouro dos foguetes, orientado pelo badalar do sino da Igreja de São Sebastião, na área central da cidade, já é parte da rotina do funcionário público Pedro Celestino Viana, de 66 anos.

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"Junto com os meus dois filhos, que também são atleticanos, eu criei um dispositivo que está adaptado na laje. Quando o Atlético ganha, no dia seguinte o foguete explode na primeira badalada", diz Viana. Com sabor especial, os triunfos diante de equipes como Cruzeiro e Flamengo valem comemoração reforçada. "Por vitória, eu solto um. Porém, nesses jogos especiais, é um foguete por gol".

Pedro destaca a paixão pelo Atlético
(Créditos: Vinícius Dias/Toque Di Letra)

Segundo Pedro, a influência vem de um ex-vizinho, que residiu no bairro Bela Vista nos anos 1970. "Ele já era senhor de idade e, à época, criou essa história dos foguetes e soltava às 6h", rememora. "E depois que ele faleceu, o sobrinho deu continuidade. Porém o foguete era fraco, daquele três por um. Eu me lembrava da dinamite que o meu pai explodiu após a vitória do Brasil, em 1958, e pensava que deveria ser um tiro de canhão", explica o atleticano.

Foguete em extinção

No início, revela, ele teve dificuldades na busca pelo tão desejado modelo. "Esse foguete era utilizado em procissões religiosas. Depois, o fabricante parou de fabricar e os foguetes sumiram. Mas, por coincidência, um dia eu fui buscar pão e encontrei. Tinham quatro. Comprei todos eles e passei a insistir com o dono da padaria". O sucesso daquela iniciativa logo levou o foguete às prateleiras dos supermercados. "Hoje eles vendem muito dele aqui na cidade", diz Viana.

Equipamentos estão instalados na laje
(Créditos: Vinícius Dias/Toque Di Letra)

A tradição, porém, é cercada de curiosidades. "Há uns dez anos, tive um problema particular. O Atlético venceu, não soltei o foguete", conta. "Nas ruas, meus irmãos, a minha irmã e todos os que eram próximos a mim foram questionados. Isso me deu força e, daí adiante, eu não parei". O hábito valeu a 'cornetada' do padre gremista da paróquia que frequenta. "Ele me chamou a atenção, brincando, pelos três foguetes após a vitória sobre o Grêmio", recorda.

Do pai para os filhos

A paixão alvinegra, Pedro exibe nos nomes dos filhos. E comprova o lema afixado na parede de casa: enquanto nascer uma criança, o Atlético será imortal. "Meu filho mais velho nasceu quando Reinaldo, meu ídolo, estava em seu auge. No segundo pus Romero, nome do lateral. A terceira veio mulher, porém ganhou o nome de Renata, homenagem ao Renato, outro ex-lateral", explica. Somente a filha mais nova, Rosiani, não carrega uma referência no nome.

Na parede da sala, quadro exibe lema
(Créditos: Vinícius Dias/Toque Di Letra)

Tão forte quanto pelo Atlético é sua paixão pelo rádio. "Eu sempre ia aos estádios, porém, por causa da violência nas arquibancadas, parei", afirma. "Hoje, compro o pay-per-view, mas o problema é o seguinte: assistir aos jogos sem ouvir o Caixa, da Itatiaia, não tem futebol. Na final da Copa Libertadores, quando ele chorou, a família aqui em casa chorou junto", acrescenta, emocionado.

Por um 2014 positivo

Ainda decepcionado com a perda do Mundial, que afirma ter pressentido, Pedro atribui a R10 o papel de ídolo e revela que as projeções para 2014 são as melhores possíveis. Nem mesmo a saída de Cuca tira seu ânimo. "Analisando friamente, era hora de mudar. Queria o Levir, mas confio no Autuori", fala. Uma certeza ele tem: se o Atlético vencer hoje, amanhã o foguete estoura às 6h.

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