Ao longo de duas gerações, ítalo-brasileiros escreveram história
singular em Minas Gerais e abriram caminho no futebol italiano

Vinícius Dias

Com seus 207 gols, Leonízio é o terceiro principal artilheiro da história do Cruzeiro. João é quem mais balançou as redes em um mesmo jogo pelo clube: dez. Ottavio defendeu a seleção italiana nos anos 1930. Orlando se consagrou como treinador. Fernando fez carreira na Lazio e no América. Benito é o segundo estrangeiro que mais vezes atuou pelo Atlético. Pelos nomes, parecem registros aleatórios. Quando analisados os sobrenomes, porém, as seis trajetórias apresentam um ponto em comum: o DNA de campeão da família Fantoni.


Os primeiros versos da relação dessa família ítalo-brasileira com o futebol foram escritos há quase nove décadas, quando os irmãos centroavantes João e Leonídio - mais conhecidos como Ninão e Niginho -, além do primo meio-campista Ottavio - tratado como Nininho -, vestiram a camiseta do recém-fundado Palestra Itália. O sucesso do trio nos gramados de Minas Gerais despertou o interesse do futebol italiano, palco de uma das ligas mais poderosas do mundo naquele período.

Niginho ao centro: artilheiro celeste
(Créditos: Site Oficial do Cruzeiro/Arquivo)

Ninão e Nininho foram os primeiros a trocar o Brasil pela 'terra da bota', onde ganharam os apelidos de Fantoni I e Fantoni II. O acerto, facilitado pelo fato de os dois atletas terem ascendência italiana, foi finalizado em 1930. "Um diretor (da Lazio) veio para cá, assistiu a um jogo do Palestra Itália e ficou encantado. Com isso, fez a proposta. Eles (Ninão e Nininho) aceitaram, mas pediram garantias. Eram 40 contos de réis. Após dois ou três dias, fizeram o depósito", narra Benito Fantoni Júnior, neto de Ninão, ao Blog Toque Di Letra.

Transações milionárias

Tiago de Melo Gomes, pós-doutor em História na Universidade de Turim, analisa as cifras envolvidas na transação. "Foi, sim, um valor considerável. 40 contos de reis equivaliam, na época, a cerca de US$ 4 milhões. A título de comparação, um senador brasileiro tinha salário mensal de três contos. Um Dodge Vletor, carro muito procurado na época, custava cinco contos. Eles poderiam comprar oito de uma vez". Dois anos depois, foi a vez de Niginho, irmão de Ninão e primo de Nininho, acertar com a Lazio. Em solo italiano, o goleador se tornou Fantoni III.

Morte de Nininho provocou comoção
(Créditos: Reprodução/LazioWiki.org)

Os três trilharam caminhos bem diferentes em Roma. Niginho confirmou o faro de gol balançando as redes por três vezes em um clássico diante do Milan. Ninão fez 63 gols com a camisa da equipe. Nininho logo se tornou titular da Lazio e chegou a defender a Squadra Azzurra nas Eliminatórias para a Copa de 1934, mas teve fim trágico. Em janeiro de 1935, fraturou o nariz em partida diante do Torino. O quadro se agravou e, duas semanas depois, ele morreu devido a uma septicemia. Uma multidão foi às ruas de Roma para se despedir de Fantoni II.

Homenagem no nome

No mesmo ano, temendo a convocação para a invasão italiana à Abissínia, atual Etiópia, Ninão e Niginho deixaram a Itália. O primeiro trouxe consigo um herdeiro, cujo nome remonta a um episódio curioso. À época, um dos quatro filhos do primeiro-ministro Benito Mussolini era dirigente da Lazio e prometeu pagar as despesas do parto caso Ninão fizesse um gol contra a Juventus, em Turim. Gol feito, promessa cumprida. "E para homenagear o Mussolini, meu pai me batizou como Benito Romano, nascido em Roma, e Fantoni, sobrenome da família", revela.

Benito Fantoni, em destaque, no Atlético
(Créditos: Arquivo Pessoal/Nilson Batista Cardoso)

Ainda na infância, Benito viu o tio Orlando dar os primeiros passos com a camiseta do Palestra. No fim dos anos 1940, o atacante cruzou o Atlântico, tornando-se Fantoni IV na Lazio. Foi como treinador, no entanto, que se consagrou. Primeiro, na Venezuela, sendo pentacampeão por três equipes diferentes. A seguir, no Brasil, comandou times como Corinthians, Bahia, Grêmio, Cruzeiro e América. Segundo levantamento feito pelo historiador Carlos Paiva, Orlando dirigiu o Coelho em 93 partidas e foi o responsável por montar o elenco de 1973, que fez a melhor campanha da história do clube na Série A: sétimo lugar.

Trajetória no América

Em campo, o primeiro Fantoni a vestir a camisa alviverde foi Niginho - em amistoso realizado em 1942. Mas foi seu sobrinho Fernando, primogênito de Ninão, que se tornou ídolo. De 1957 a 1961, o defensor disputou 182 jogos pelo América, de acordo com os cálculos de Carlos Paiva. Fantoni V, como ficou conhecido na passagem pela Lazio, foi um dos destaques do Coelho no título do Campeonato Mineiro de 1957, conquistado após nove temporadas de jejum.

Benito Júnior ao lado do pai, de 84 anos
(Créditos: Vinícius Dias/Blog Toque Di Letra)

A exemplo do irmão, Benito optou pelo setor defensivo. O sexto Fantoni pôs fim à conexão familiar com a Lazio, iniciando a carreira profissional na Venezuela. Em Minas Gerais, seu primeiro clube profissional foi o Atlético, onde conquistou os estaduais de 1956 e 1958. "Fui o único (da família a vestir a camisa alvinegra)", conta o italiano. Em 1959, Benito se transferiu para o Cruzeiro, sendo mais duas vezes campeão mineiro e encerrando a saga Fantoni nos gramados.

Ex-atletas 'em família'

Fora deles, contudo, a história ganhou novos capítulos. Após pendurar as chuteiras, o filho de Ninão comandou o infantil do Atlético e foi auxiliar de treinadores como Yustrich e Carlos Alberto Silva na equipe profissional do Cruzeiro. "A integração com os companheiros era muito boa", afirma, com saudosismo, ao Blog. Casado com a mineira Vivien Lea, Benito é cunhado do ex-zagueiro William Assis, seu companheiro nos tempos de Atlético, e concunhado do treinador Procópio Cardozo.


De promessas a atletas consolidados, o Blog Toque Di Letra
indica quatro alternativas de reforços no mercado argentino

Tiago de Melo

Em um passado recente, o mercado sul-americano era muito acessível às equipes brasileiras. Dezenas de atletas de países vizinhos aportaram por aqui. O histórico inclui jogadores de alto nível, outros medianos e, ainda, completos fiascos. Mas o cenário mudou. Com o dólar - moeda usada nas transações esportivas desses países - em alta, os atletas sul-americanos tornaram-se mais caros. Contratar medalhões gringos, portanto, é tarefa particularmente custosa atualmente.


Estratégia bem comum entre clubes brasileiros nos últimos anos, apostar em grifes, mesmo que decadentes - a exemplo de Lisandro López, Jesús Dátolo e Ernesto Farías -, pagando altos salários, se tornou um péssimo negócio. Agora, a nota dominante é tentar descobrir jogadores com valor de mercado mais baixo e que possam, na sequência, trazer bom retorno técnico e financeiro.

A coluna "La Pelota", do Blog, vasculhou o mercado argentino e, abaixo, apresenta as características de quatro potenciais reforços para os clubes brasileiros - em especial, os mineiros.

Cristian Espinoza: talento do Huracán
(Créditos: Daniel Mendez/Club Huracán)

Cristian Espinoza, de 20 anos, tem um ótimo currículo para quem chegou recentemente ao time profissional. Jogador do Huracán, clube no qual fez todas as categorias de base, foi titular da seleção sub-20 da Argentina no Mundial e no Sul-Americano da categoria nesta temporada. Depois de ser reserva nas campanhas que marcaram o acesso à elite e o título da Copa Argentina no ano passado, se firmou como titular do Globo em 2015 e foi peça-chave na equipe finalista da Sul-Americana.

Retorno técnico e financeiro

No 4-2-3-1 usado pelo técnico Eduardo Dominguez, Espinoza tem feito o lado direito da linha de armadores. Ainda não foi utilizado do lado oposto, onde poderia aproveitar sua explosão para entrar em diagonal e invadir a área adversária. Contribuiu com gols e assistências para a campanha da equipe. É um jogador muito querido pelo torcedor quemera, jovem, com potencial, acostumado a jogar no sistema tático mais comum no Brasil e que pode ser revendido posteriormente ao exterior.

Hector 'Tito' Villalba: jovem e vitorioso
(Créditos: Agência i7/Minas Arena/Divulgação)

Hector 'Tito' Villalba também é um atleta a ser monitorado com atenção. Embora tenha somente 21 anos, possui importantes conquistas em seu currículo. Em 2013, foi campeão argentino pelo San Lorenzo, clube que o revelou, sob o comando de Juan Antonio Pizzi. No último ano, já sob a batuta de Edgardo Bauza, foi titular indiscutível na campanha que deu ao Ciclón seu inédito título de Copa Libertadores. Também foi titular no vice-campeonato nacional deste ano.

Jovem campeão continental

Nos dois anos em que dirigiu o San Lorenzo, Bauza optou pelo 4-2-3-1, sistema incomum na Argentina, mas muito popular no Brasil. Nele, Villalba fazia o lado direito da linha de armadores. Mostrou-se um jogador muito útil, ainda que não seja de marcar gols. Tem a característica de se manter fixo pela direita, voltando para acompanhar o lateral adversário, mas tem boa capacidade ofensiva para criar jogadas, sobretudo quando encara o lateral rival no mano a mano e com espaço suficiente para explorar sua velocidade e habilidade.

Domínguez: ídolo no Rosario Central
(Créditos: Rosario Central/Divulgação)

Nery Domínguez é muito diferente dos citados anteriormente. Já tem 25 anos e, portanto, trata-se de um jogador consolidado. Depois de passar por times amadores de Rosario, chegou ao Central, onde completou seu trabalho de base - é o único clube que defendeu profissionalmente. Meio- campista multifuncional, é ídolo da torcida canalla, mas tem sido cobiçado por outras equipes, principalmente o Querétaro, do México.

Multifuncional e experiente

Graças à sua capacidade de marcar e avançar ao ataque, foi escalado em grande parte da carreira em uma função que, no Brasil, é conhecida como segundo volante. Em outras ocasiões, atuou pelo lado esquerdo, onde foi bem aproveitado pelo técnico Eduardo Coudet no ótimo ano de 2015. Em relação aos outros citados, tem menor potencial de revenda, porém é um atleta pronto e experiente.

Nicolas Delgadillo: promessa do Vélez
(Créditos: Vélez Sarsfield/Divulgação)

Na situação oposta está Nicolás Delgadillo, meia-esquerda do Vélez. Tem apenas 18 anos e ainda busca se firmar no time profissional do clube em cuja base foi formado. Está longe de ser um atleta pronto e precisaria de paciência e de lapidação. Mas já demonstrou que tem potencial. No Brasil, poderia fazer o lado esquerdo em um 4-2-3-1.

Extracampo facilita negócio

O lado negativo do jogador é ser membro de uma geração de jovens do Vélez que tem gerado muitas queixas pelo antiprofissionalismo e falta de compromisso. O lado bom disso é que o Fortín dificilmente criaria grandes dificuldades para sua saída, desde que houvesse compensação financeira. Trata-se de um jogador que pode ser de grande valia e, no futuro, trazer retorno financeiro para um clube 'paciente' o bastante para trabalhar um atleta jovem, talentoso e imaturo.


Meia-atacante do Guangzhou Evergrande elogia condições
de trabalho no país, visto como 'novo eldorado' do futebol

Vinícius Dias

Contratado por € 15 milhões, Ricardo Goulart desembarcou na China com status de craque e a missão de conduzir o Guangzhou Evergrande a seu quinto título nacional consecutivo. Em campo, fez bem mais do que isso. Vice-artilheiro e craque do campeonato do país, o camisa 11 foi, também, goleador e principal nome da equipe na conquista da Liga dos Campeões asiática. Uma temporada dos sonhos, compartilhada com o treinador Luiz Felipe Scolari e com cinco atletas brasileiros. "Todos me ajudaram muito", reconhece Goulart.

Ex-cruzeirense festeja gol na China
(Créditos: Facebook/Reprodução)

O sucesso recente do Guangzhou, fruto do intercâmbio entre brasileiros, chineses e um sul-coreano, ajuda a explicar a afirmação do futebol local, cujo calendário e organização são muito elogiados pelo meia-atacante. "A estrutura de trabalho e física aqui (na China) são muito boas", avalia. E ainda é possível ir além. Nesta quinta-feira, o time de Cantão entrará em campo diante do Barcelona, de Messi e Luis Suárez, sonhando com uma vaga na decisão do Mundial de Clubes. "Estamos preparados para jogar a competição", afirma Ricardo Goulart.

A operação que o levou ao Guangzhou, em janeiro, representou a maior venda da história do Cruzeiro, ratificando a força econômica dos clubes chineses. Após uma temporada no país, em termos de estrutura - estádios, centros de treinamento e afins -, qual é o seu diagnóstico sobre a realidade local?

A estrutura de trabalho e física aqui (na China) são muito boas. O futebol (local) está evoluindo, profissionais de vários países estão chegando, e consequentemente os chineses também têm evoluído. É uma cultura diferente da nossa, mas que, aos poucos, vamos nos adaptando.

Quanto a rotina de trabalho e dinâmica de jogo, quais as principais diferenças que você nota no futebol chinês em comparação com o cenário brasileiro?

O futebol chinês é muito rápido. Eles correm muito! Talvez essa seja a principal diferença. A rotina de trabalho é parecida. Só temos menos jogos e um pouco mais de tempo de folga, como consequência de um calendário mais organizado.

Você atua na equipe que tem o maior número de brasileiros - seis, além do técnico Felipão. Isso, de algum modo, contribuiu para sua rápida adaptação? Como é o convívio de vocês, brasileiros, com os atletas locais?

Todos me ajudaram muito. Desde que cheguei, fui bem recebido por eles e o convívio é muito bom. A gente sempre está um na casa do outro, sai para jantar... Foi muito bom esse respaldo e ajudou a todos.

O mercado chinês, tradicionalmente, não é 'ponte' para Europa ou seleção. Mesmo atuando em bom nível e tendo sido eleito o melhor jogador do campeonato local, você se considera, neste momento, mais distante desses dois sonhos?

Não estou pensando nisso. Penso em fazer o meu trabalho. Hoje, com os diversos meios de comunicação, qualquer um pode acompanhar jogos de futebol em qualquer lugar do mundo. Na China não é diferente. Sabemos que é mais difícil e a competitividade é diferente, mas a Liga da Ásia e o Mundial estão aí para mostrar que o futebol daqui também é bem competitivo.

A última imagem de Felipão para boa parte dos brasileiros é a do fracasso na Copa de 2014. Em cinco meses na China, no entanto, foram dois títulos conquistados. Qual é a sua impressão sobre o método de trabalho dele?

Muito boa. Ele chegou aqui muito bem, colocou sua forma de trabalhar, foi muito bem recebido e os resultados (além do Campeonato Chinês, o Guangzhou conquistou a Liga dos Campeões da Ásia sob o comando do técnico) vieram.

Vocês terão a oportunidade de disputar o Mundial de Clubes neste mês. O caminho até a final passa pelo duelo com o Barcelona, por exemplo. O Guangzhou chegará ao torneio como azarão? Ou vocês se veem prontos para buscar o título?

Estamos preparados para jogar a competição. Não podemos pensar em título ou em Barcelona, mas sim temos de ir passo a passo. Esse é o nosso pensamento e assim vamos buscar nossos objetivos.

(Nota da redação: esta entrevista foi realizada no dia 11 de dezembro, antevéspera da estreia do Guangzhou no Mundial).


Profissionais ligados ao pais asiático revelam metas e aspectos
do dia a dia do 'novo eldorado' da bola ao Blog Toque Di Letra

Vinícius Dias

Concluída na madrugada de 13 de janeiro, a transação que tirou Ricardo Goulart do Cruzeiro representou a maior venda da história do clube. Na mesma semana, Diego Tardelli deixou o Atlético, movimentando números milionários. 11 meses mais tarde, na reabertura da janela, Mano Menezes não resistiu à oferta tentadora e acertou a saída, deixando R$ 7 milhões nos cofres celestes. Os três tiveram um mesmo destino: a China, 'novo eldorado' da bola. Um contexto em que investimentos, sonhos, futebol e política caminham quase lado a lado.


Conforme avalia o advogado desportivo Luciano Brustolini, a ascensão do esporte passa pela aspiração do líder comunista Xi Jinping, que preside a China há dois anos. "Ele é um entusiasta do futebol e tem como projeto pessoal desenvolvimento dos clubes chineses e fortalecimento do futebol local". Em um cenário dominado pelos clubes-empresa, o governo marca presença também como investidor. "O (Shandong) Luneng, (clube) bem conhecido no Brasil, é financiado pela maior empresa estatal de energia elétrica da China", exemplifica.

Tardelli: estrela do Shandong Luneng
(Créditos: Shandong Luneng/Divulgação)

Ao mesmo tempo em que potencializa o aspecto econômico, contudo, a participação dessas empresas torna a estrutura mais frágil. "Apesar dos crescentes investimentos, os clubes chineses ainda não são sólidos. Não são clubes centenários, que possuem história", diz Brustolini. "A saída de uma dessas empresas pode significar a falência de um clube, como quase ocorreu com o Shangai Shenhua, que contratou Anelka, Drogba, e depois teve sérios problemas financeiros", completa.

Chineses de olho no Brasil

Com status de referência, o Brasil é um dos maiores fornecedores de mão de obra especializada. Conforme levantamento feito pelo portal Rede do Futebol, 41 brasileiros atuaram na China na temporada passada. Atletas como Robinho, Ricardo Goulart e Diego Tardelli dividem os gramados com compatriotas menos badalados, como Eleílson Farias, zagueiro do Jiangsu Sainty, e Everton Ramos, atacante do Nanchang Bayi. Ainda há técnicos, fisioterapeutas e preparadores físicos na lista.

Paulo Henrique, ex-Atlético, na China
(Créditos: Shangai Greenland/Divulgação)

Para o atacante Paulo Henrique, que defendeu o Liaoning Whowin neste semestre, a legião brasileira tem papel decisivo na China. "O futebol arte vem do Brasil... Portanto, para o futebol chinês crescer, era necessária a presença de jogadores e treinadores brasileiros", afirma. O jogador, que desembarcou no país em junho de 2014, diz que o aspecto financeiro foi vital para a escolha. "Com o investimento que vem sendo feito, o futebol chinês ainda vai crescer mais nos próximos anos e até mesmo refletir na seleção deles", acrescenta o ex-atleticano.

Dificuldades de adaptação

Com passagens por Holanda, Bélgica e Turquia, o brasileiro pontua que, inicialmente, as diferenças culturais dificultaram a adaptação. "Na China, é tudo diferente: cultura, culinária, idioma". Paulo conta com o apoio de um tradutor para facilitar a comunicação com os atletas locais, por exemplo. Mas minimiza. "Já passei por situações difíceis desde que saí do Brasil (do Atlético), com 18 anos. Faz parte da nossa profissão e temos que estar preparados". Em campo, a adaptação foi imediata: em 32 jogos no país, o atacante registra 15 gols.

Felipão: atual treinador do Evergrande
(Créditos: Guangzhou Evergrande/Divulgação)

Craque da Superliga Chinesa, o ex-cruzeirense Ricardo Goulart aponta a velocidade como diferencial das partidas disputadas no país asiático. "Eles correm muito", compara. O camisa 11 do Guangzhou Evergrande avalia o calendário local como mais bem organizado do que o brasileiro. "Temos menos jogos e um pouco mais de tempo de folga". Com passagem pelo rival local Guangzhou R&F, o fisiologista Matheus Henrique Fontes também elogia os moldes chineses.

Treinamentos de alto nível

"Na China, os clubes têm próximo de 60 dias de pré-temporada e jogam uma vez por semana, normalmente. Sendo assim, é possível pensar em treinamentos", afirma, revelando as diferenças de preparação. "No Brasil, temos 30 dias de pré-temporada e em grande parte do ano joga-se duas vezes por semana, restando aos profissionais apenas tempo para pensar em recuperação do atleta e pequenos ajustes. Então, é preciso fazer uma escolha: treinar em alta intensidade ou competir nas melhores condições físicas", assinala o fisiologista.

Matheus Fontes ao lado de Mourinho
(Créditos: Arquivo Pessoal/Matheus Fontes)

Na visão de Luciano Brustolini, o principal objetivo dos chineses é ter uma liga com clubes e marcas fortes. "Pelo número de habitantes, a China é o maior potencial de consumo de futebol, ou qualquer outro produto, no mundo. E por que não consumir o próprio futebol, ao invés das marcas estrangeiras?", questiona. Ainda assim, em curto prazo, ele não crê em competição com a Europa em termos de visibilidade. "Os grandes clubes europeus são as grandes marcas do futebol, têm história, apelo, e isso somente pode ser combatido com o tempo", pondera.

Sediar e conquistar a Copa

Matheus Fontes, que trabalhou em Cantão, uma das principais cidades do dragão asiático, acrescenta. "O governo chinês está investindo milhões de dólares, alguns relatos dizem até bilhões, no futebol. Está incentivando a modalidade nas escolas e pretende desenvolver centros de aprendizagem como a Alemanha fez. O intuito do governo chinês é sediar uma Copa do Mundo e ser campeão mundial em casa".

Anselmo Ramon defende o Greentown
(Créditos: Hangzhou Greentown/Divulgação)

As cifras bilionárias aparecem também nas cotas de TV. Em outubro, a China Sports Media assegurou a compra dos direitos de transmissão do campeonato local pelas próximas cinco temporadas, investindo US$ 1,26 bilhão - cerca R$ 1 bilhão por temporada. O montante supera em mais de 3.000% os valores do contrato anterior.

Intercâmbio nos gramados

Para associar o poderio econômico à proposta de capacitação dos atletas chineses, a federação fixa limites à presença de estrangeiros. De acordo com o agente internacional Steve Panopoulos, cada clube pode inscrever cinco estrangeiros - incluindo um atleta de país asiático. Por jogo, podem atuar quatro - desde que um seja asiático. Os goleiros de todos os times têm de ser locais. As regras asseguram o intercâmbio e a presença de, no mínimo, 14 chineses em campo por jogo.


Cariocas discutem plano de marketing para explorar imagem
do camisa 10; em caso de saída, exterior é caminho provável

Vinícius Dias

Nove gols e quatro assistências em 20 jogos não foram suficientes para evitar o terceiro rebaixamento do Vasco. Apesar disso, o desempenho de Nenê com a camisa cruzmaltina fez do meia-atacante um dos nomes mais cobiçados no mercado interno para a próxima temporada. Um dos clubes interessados é o Atlético, que monitora a situação do atleta, de 34 anos, desde o mês passado. Nos bastidores, porém, a transação é considerada complexa, devido à postura do Vasco.


"Para o Brasil, nenhuma chance (de sair)", assegurou o presidente Eurico Miranda em coletiva na última semana. A reticência em abrir mão de Nenê ultrapassa o discurso. Internamente, a cúpula vascaína esboça formas de explorar a imagem do jogador por meio de ações de marketing, visando capitalizar e reforçar o vínculo com o clube. O resultado será apresentado em breve ao staff do camisa 10.

Nenê: Craque da Galera no Brasileirão
(Créditos: Paulo Fernandes/Vasco.com.br)

Na conversa, deve ser batido o martelo quanto ao futuro do atleta, que, conforme o Blog Toque Di Letra apurou, é o mais bem pago do elenco, faturando cerca de R$ 3,5 milhões por temporada. Em caso de saída, o caminho mais provável é o exterior, uma vez que o contrato firmado até dezembro de 2016 prevê liberação se o Vasco não cobrir a oferta. A boa relação com Diego Aguirre, com quem Nenê atuou no Catar, alimenta as esperanças atleticanas, no entanto.


Desistência do clube celeste força alteração de grupos da 1ª
fase e 'abre vaga' no comando da Liga, reforçando as arestas

Vinícius Dias

A saída do Cruzeiro agitou os bastidores da Primeira Liga, confirmando o tom de incerteza. Oficialmente, os dirigentes da entidade evitam mensurar os impactos da decisão anunciada por Gilvan de Pinho Tavares, que deve ser debatida em assembleia da Liga nos próximos dias. Neste cenário, o Blog Toque Di Letra ouviu fontes para antecipar algumas das possíveis consequências.

Desistência celeste agitou bastidores
(Créditos: Rodrigo Fatturi/Flickr/Grêmio FBPA)

A primeira delas diz respeito à composição administrativa da Liga. O CEO Alexandre Kalil compõe a linha de frente, atualmente, ao lado de Gilvan e Mário Petraglia, que dividem funções referentes à presidência. Indicado na última reunião do grupo, Mário tenta a reeleição no Atlético/PR amanhã e, em caso de revés, deve perder também o posto na entidade. Portanto, a saída do Cruzeiro, hoje representado por Gilvan, resultaria em 'vácuo de poder' inicialmente.

Alterações nos duelos

A desistência do clube estrelado, um dos 12 classificados para o torneio, também vai resultar em mudanças na tabela. Confirmado o regulamento divulgado no site oficial, o Atlético/MG herdaria a vaga 'MG1', enquanto o América/MG ocuparia a 'MG2'. Fora da disputa a princípio, o Paraná Clube seria contemplado com a vaga 'RK2'.

(Créditos: Site Oficial da Primeira Liga/Reprodução)

Com isso, a composição da primeira fase apresentaria: América/MG, Flamengo, Figueirense e Avaí, no grupo 1; Grêmio, Inter, Coritiba e Paraná Clube, no grupo 2; Fluminense, Atlético/MG, Criciúma e Atlético/PR, no grupo 3.

Cenário de indefinição

Nos bastidores, alguns dos principais articuladores da entidade ainda não tratam a posição do presidente do Cruzeiro como definitiva. Dirigentes de Flamengo e Fluminense e até mesmo Mário Petraglia - independentemente do resultado nas eleições atleticanas - planejam contatá-lo nas próximas horas, visando conhecer os motivos da decisão.

Reunião da entidade no Rio de Janeiro
(Créditos: Nelson Perez/Flickr/Fluminense F.C.)

A avaliação prévia é de que a saída indicará um revés político do Cruzeiro, que, desde os primórdios, se colocou como um dos principais entusiastas da Liga como alternativa ao calendário do primeiro semestre. A Liga ainda trabalha a viabilização comercial e fala em torneio rentável, a exemplo da projeção feita ao Blog, há dois meses, por fonte ligada ao clube celeste. "Imaginamos que vá render mais do que o estadual". Visão diferente da apresentada ontem por Gilvan, no entanto.


À imprensa paranaense, Kalil destaca derrota de Gilvan para
Petraglia; presidente do Atlético/PR detalha cenário ao Blog

Vinícius Dias

O anúncio de que o Cruzeiro não vai disputar a Primeira Liga, feito nesta quinta-feira pelo presidente Gilvan de Pinho Tavares, agitou os bastidores da entidade. O clube estrelado é um dos 12 classificados, considerando o ranking de clubes divulgado na última terça-feira. A desistência aconteceu em meio a um cenário de incertezas sobre os rumos do torneio, previsto para os três primeiros meses de 2016.


Em entrevista ao jornal Gazeta do Povo, do Paraná, o CEO da entidade e ex-presidente do Atlético/MG, Alexandre Kalil, avaliou a saída do Cruzeiro como provável consequência de um embate político. "Acho que foi porque o Petraglia ganhou a eleição", pontuou, referindo-se ao atual presidente do Atlético/PR, também membro da Liga.

Encontro de dirigentes no Barro Preto
(Créditos: Site Oficial do Cruzeiro/Divulgação)

Contatado pelo Blog Toque Di Letra, Mário Petraglia evitou comentar as declarações dos dirigentes mineiros. "Vou falar com o Gilvan e depois me pronunciar sobre o que disse, o que não disse, o que o Kalil falou... Estou em campanha política para o nosso clube, uma reeleição nossa, então faz semanas que eu não falo com ninguém. Não posso omitir nenhum juízo, nenhum comentário", afirmou.

Impasse na última reunião

O mandatário do rubro-negro paranaense detalhou o contexto da última reunião do grupo, na sede do Fluminense, quando o tema eleições para a presidência foi colocado em pauta. "Ficou o impasse se haveria ou não a eleição. Houve a votação", pontuou Petraglia. A opção vencedora foi sim. Conforme apuração da reportagem, clubes como América e Cruzeiro, por exemplo, votaram não.

Petraglia, ao centro, em reunião em BH
(Créditos: Site Oficial do Cruzeiro/Divulgação)

O pleito, no entanto, não foi realizado. "Não houve eleição", confirmou o dirigente do Atlético/PR, que se apresentou como candidato no encontro. "Ficou no ar", acrescentou. Fontes ligadas a clubes do eixo Sul-Minas-Rio revelaram que, neste cenário, foi viabilizada uma composição: Petraglia se dedicaria a aspectos comerciais, enquanto Gilvan cuidaria de questões de caráter institucional e político.


Último clube comandado por Renê Santana foi o Legião, de
Brasília, em 2008, mas ele se diz preparado para o retorno

Vinícius Dias

No início dos anos 1990, Rogério Ceni deu seus primeiros passos no futebol sob a regência de Telê Santana. Duas décadas depois, sob os olhares de Renê, filho do mestre, o goleiro vai colocar ponto final na trajetória com a camisa tricolor. Para o herdeiro de Santana, a despedida, marcada para a próxima sexta, terá significado especial. O convidado ilustre vai comandar, ao lado de Muricy Ramalho, um time formado por campeões mundiais em 1992 e 1993 pelo clube.


"É com muita honra que fui convidado, representando o Telê. Rogério é o único jogador que foi dirigido por Telê que ainda atua profissionalmente", revela ao Blog Toque Di Letra. Entusiasta da história do pai, Renê faz questão de relembrar os primeiros passos de Ceni. "Após a conquista do Mundial de Clubes, em 1992, o São Paulo vendeu vários atletas e refez o plantel com muitos jovens, como Doriva, Juninho Paulista, Caio Ribeiro e Rogério", enumera.

Renê ao lado ao pai no tricolor paulista
(Créditos: Site Oficial do São Paulo/Arquivo)

O retorno de Santana à beira do gramado vai acontecer sete anos após a breve passagem pelo Legião, equipe de Brasília. Apesar do longo período sabático, o sentimento é de que a trajetória ainda terá novos capítulos. "Treinador é minha profissão. Sigo ligado ao futebol com os projetos do Instituto Telê Santana e não me desatualizei. Se tiver algum desafio que requeira o meu envolvimento, estou pronto", garante Renê, projetando a retomada da carreira.

Em busca de desafios

Desde 2008, quando encerrou seu último trabalho, não faltaram convites, argumenta o técnico, de 58 anos. Nenhum deles o seduziu, no entanto. "(No nível mediano, há) clubes com patamar sofrível de organização e de administração. Por isso, muitas vezes, preferi rejeitar. Quero desafios, eu não posso chegar a uma equipe já derrotada e que não tenha a mínima condição", pontua Santana, que não entende as comparações com o pai como entrave à carreira.

'Quero desafios', afirma Renê Santana
(Créditos: Vinícius Dias/Blog Toque Di Letra)

Com extenso currículo no interior de Minas Gerais, incluindo trabalhos em equipes como Mamoré, Valério, Ipatinga e Rio Branco, Renê atualmente é diretor-executivo do Instituto Telê Santana. Em fevereiro, o instituto vai inaugurar um centro de formação de talentos esportivos em Rio Acima. O projeto será coordenado pelo ex-zagueiro Tobias Oliveira, que trabalhou com Telê no Atlético nos anos 1980.