Vinícius Dias
Mais do que o desigual duelo entre o
pior Brasil e a melhor Alemanha - na fiel caminhada rumo a seu quarto título mundial, no próximo domingo, no Maracanã - que a Copa do Mundo de 2014 viu, a
goleada por 7 a 1 expôs as fragilidades do futebol local e de sua arcaica
estrutura. Não se pode, a exemplo do que fez Felipão, rotular a derrota como
acaso. Há 12 anos, o Brasil não é mais o país do futebol e, pelo menos, sete
motivos ajudam a explicar nossa derrocada.
1) Paixão do torcedor - África do Sul, Canadá, Estados Unidos, China e Coreia do Sul.
Exceto os jogos da reta final de preparação para o Mundial de 2014, nos últimos
anos, a CBF tem optado por disputar a maior parte dos amistosos no exterior.
Distanciar do torcedor por melhores cotas de patrocínio pode parecer acerto na
teoria. Mas, na prática, significa a perda da relação afetiva.
Torcedor chora: sonho do hexa acabou (Créditos: Jefferson Bernardes/Vipcomm) |
2) O fator CBF - Com que critério a CBF escolhe seus técnicos? Por que Dunga teve a sua
primeira experiência logo no cargo mais cobiçado deste país? O que motivou a
aposta em Felipão depois de seu total fracasso no Palmeiras? De Ricardo
Teixeira a Marco Polo Del Nero - sucessor de José Maria Marín, a partir de
abril de 2015 - é impossível imaginar que cartolas retrógrados farão as
mudanças necessárias para impedir novos vexames. Não, não foi acidente.
3) Peso emocional - Como cita a canção de Gonzaguinha, "um homem também chora". Mas as lágrimas de boa parte do grupo do Brasil, após a vitória ante o Chile, nos
pênaltis, traduziram uma seleção suplantada pela pressão gigantesca. As feridas
da derrota em 1950 continuam abertas no imaginário nacional. Bem mais do que
chegar ao hexa, parecia ser preciso superá-las a todo custo.
Uma derrota no gramado e emocional (Créditos: Rafael Ribeiro/CBF/Divulgação) |
4) Esquema tático - Chave do sucesso na Copa das Confederações, em 2013, o 4-2-3-1 se tornou o esquema preferido de Felipão. Ou melhor, o único. Nem mesmo a má fase de Fred
ou a falta de confiança em Jô foram capazes de motivar a busca por
alternativas. Dependente do sucesso de Neymar, que foi bem, mas esteve distante
de ser incontestável, a seleção recorreu várias vezes à transição direta entre
defesa e ataque. Enquanto isso, os adversários inovam.
5) Jovem craque - Maradona, aos 25 anos, foi o símbolo da Argentina, bicampeã em 86. Zidane
(França), Ronaldo e Iniesta (Espanha) tinham 26 anos quando levaram suas seleções
aos títulos mundiais de 1998, 2002 e 2010, na sequência. Pirlo, ídolo da
Itália, tinha 27 anos em 2006. Neymar era o grande nome do Brasil nesta edição.
Aos 22 anos, cabia a ele ser o mais jovem protagonista da história e, logo na
estreia em Copas, liderar a seleção rumo ao hexa.
Marín: símbolo de uma CBF estagnada (Créditos: Ricardo Stuckert/CBF/Divulgação) |
6) Geração de coadjuvantes - Em 1970, a seleção tinha Pelé, Tostão e Rivellino. Em 1994,
Bebeto, Romário e Raí. Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho formavam o trio de 2002.
Em 2014, a seleção teve Neymar. Hulk atua em um mercado periférico, Fred foi
mal no Brasileiro de 2013, Oscar terminou na reserva do Chelsea e Bernard é
reserva no Shakhtar. Valia apostar em Ronaldinho e Kaká? Talvez. Mas a certeza
é de que essa geração - quase - não tem protagonistas.
7) Fator Neymar - Quatro gols, 18 finalizações, pelo menos 13 chances criadas nos cinco
jogos em que esteve em campo. Neymar deixou a Copa do Mundo com saldo positivo.
Mas, afinal, o Brasil não podia ser campeão sem ele? Enquanto Felipão lamentava
a ausência do camisa 10, nas redes sociais, milhares de torcedores condenavam
Zuñiga por um lance no qual, ao primeiro olhar, era impossível ver má intenção.
O culpado, em caso de derrota, estava eleito.
7x1 foi pouco mesmo!
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