Com alma de campeão

Vinícius Dias

Como se constrói um time campeão? Com vontade, emoção, dedicação e, claro, muito futebol. Com a segurança do goleiro Victor e a experiência de Leonardo Silva. Com a maestria de Diego Tardelli e a raça de Luan. Para o atleticano, também não pode faltar uma dose de confiança. 'Eu acredito', responde a arquibancada.

Depois de oito batalhas, com seis vitórias, duas derrotas e viradas quase inacreditáveis, o Atlético pôde, enfim, comemorar a conquista da Copa do Brasil na quarta-feira. Na partida final, vitória sobre o Cruzeiro, por 1 a 0, no Mineirão.

Veja os bastidores da campanha:

'No Brasil, só no Cruzeiro'

Vinícius Dias

Foram precisos 23 jogos pelo Cruzeiro, com dois gols anotados, para que Miguel Samudio colocasse no currículo os títulos do Campeonato Mineiro e do Brasileiro de 2014. O lateral, no entanto, não deve seguir na Toca em 2015. Emprestado ao time celeste até o dia 31 de dezembro, o paraguaio teve sondagens de Flamengo, Santos e Grêmio, conforme antecipou, em setembro, o Blog Toque Di Letra.

Samúdio em ação com a camisa estrelada
(Créditos: Washington Alves/Light Press/Textual)

Apesar disso, o empresário do atleta, Miguel González Zelada, é taxativo. "Samudio, no Brasil, só joga no Cruzeiro", diz. "Por respeito ao Cruzeiro, pelo grande clube que é, pelo que deu a Samudio, nem por mais dinheiro acertaríamos com outra equipe do Brasil. Fomos muito felizes aí", justifica González ao Blog.

Proposta do México

Oficialmente, Flamengo, Santos e Grêmio não confirmaram o interesse no lateral, que tem contrato com o Libertad, clube do Paraguai, até dezembro de 2015. Nos últimos dias, Samúdio também teria recebido uma proposta de um clube mexicano. 


Jornalista da Rádio Itatiaia se tornou referência ao narrar as
decisões da Copa Libertadores, da Recopa e da Copa do Brasil

Vinícius Dias

Aos 42 minutos da etapa final, Dátolo cobra escanteio pela esquerda. Na área do Corinthians, a bola encontra Edcarlos, que cabeceia para o fundo das redes de Cássio. O quarto gol do triunfo por 4 a 1, que classificou o Atlético para as semifinais da Copa do Brasil, fez Mário Henrique Caixa, da Rádio Itatiaia, soltar a voz. Para o locutor, que se tornou referência ao narrar os principais jogos da história do clube, a vitória diante do time paulista foi o momento mais marcante do título.


"Foi um gol fantástico", afirmou ao Blog Toque Di Letra. Caixa ainda fez questão de destacar o triunfo diante do Flamengo, no Mineirão. "Tivemos duas viradas históricas... Foram dois jogos muito importantes". Nas quartas de final e nas semifinais, a equipe alvinegra havia perdido a partida de ida por 2 a 0, fora de casa, e chegou à classificação mesmo depois de sair em desvantagem na volta.



O jornalista, que também narrou as conquistas da Copa Libertadores, em 2013, e da Recopa Sul-Americana, neste ano, ressaltou a felicidade com a boa fase vivida pelo Atlético. "É muito bom, uma alegria muito grande. A vitória do Atlético é sempre um momento muito importante. Para toda a torcida atleticana e, obviamente, para mim, que narro (os jogos) na Rádio Itatiaia, de Belo Horizonte".

'Muito satisfeito', diz Caixa

A expectativa de Mário Henrique é de que o time alvinegro siga trilhando o caminho dos títulos na próxima temporada. "Eu fico realmente muito feliz com esse momento, muito satisfeito, e imagino que o torcedor também", afirmou, esperançoso.

Clássico da regularidade

Vinícius Dias

A noite de quarta-feira foi de comemoração no Mineirão. De dois lados, de dois campeões e de três cores. O branco prevaleceu. Somado ao preto na festa do Atlético, irretocável nas duas partidas da final, justo campeão da Copa do Brasil. Somado ao azul na festa do Cruzeiro, time mais regular da temporada, campeão brasileiro. Uma ode a dois anos inesquecíveis para o futebol mineiro.


Se após o apito final ambos tinham motivos para festejar, durante os 180 minutos de jogo, só o alvinegro sorriu, com justiça. Menos porque a sorte também sorria para ele. Muito mais porque lutou, correu, teve Jemerson e Leonardo Silva quase perfeitos, Marcos Rocha, bem com mãos e pés e, na frente, Dátolo, Diego Tardelli e Luan inspiradíssimos. Roteiro digno de um elenco campeão.

Tardelli comemora: Atlético é campeão
(Créditos: Bruno Cantini/Flickr/Atlético-MG)

Assim foi, quase de cinema. Com uma trilha também à altura, baseada no tradicional 'eu acredito'. Com duas viradas quase inacreditáveis diante de Corinthians e Flamengo, históricos algozes alvinegros, rabiscadas à luz do conceito de atleticano, que acredita, sofre, se entrega e, nos últimos dois anos, também aplaude, comemora. Copa Libertadores, Recopa e Copa do Brasil sabem bem disso.

O título se explica pela regularidade contra o regular Cruzeiro.
Foram sete jogos no ano, nenhuma derrota e quatro vitórias.

Cruzeiro de camisa branca

Vinícius Dias*

Pela primeira vez na temporada, o Cruzeiro vai atuar de camisa branca em uma partida no Mineirão. Peça marcante na conquista do primeiro título da Copa do Brasil, contra o Grêmio, em 1993, o modelo alternativo voltará a ser usado em uma decisão do torneio nacional. Desta vez, diante do rival Atlético, em jogo às 22h.


Antes desta quarta, a equipe havia utilizado o modelo branco oito vezes, todas elas na condição de visitante. Na última quarta-feira, por exemplo, a Raposa venceu o Grêmio, por 2 a 1, atuando com esta configuração. Em clássicos, o modelo foi a campo pela última vez no Brasileiro de 2011. Na ocasião, vitória celeste por 6 a 1.

De branco, Cruzeiro venceu o Grêmio
(Créditos: Jefferson Bernardes/Light Press)

Nos bastidores, no entanto, o clube nega que a decisão de ir a campo de branco esteja ligada ao misticismo. "O futebol se resume a competência e trabalho. Usamos diante do Vitória, por exemplo", observou um dirigente celeste ao Blog Toque Di Letra.

Camisa branca em 2014:

Oito partidas
Seis vitórias, duas derrotas
Dez gols marcados
Cinco gols sofridos

Na Libertadores, foi usada nos duelos com Defensor/URU, Universidad de Chile/CHI, Cerro Porteño/PAR e San Lorenzo/ARG. No Brasileirão, diante de Palmeiras, Goiás, Vitória e Grêmio.

*Com colaboração de Gabriel Contin


5º maior artilheiro da história do clube celeste, atleta baiano
exibe confiança em conquista: 'torcedor vai empurrar', afirma

Vinícius Dias

Há pouco mais de dois anos, Marcelo Ramos deixou os gramados. A vida distante dos holofotes em Salvador, terra natal, contudo, não minimiza o passado de glórias, traçadas em boa parte com a camisa do Cruzeiro. Em três passagens pelo time celeste, entre os anos de 1995 e 2003, o atleta baiano disputou 360 partidas, marcando 162 gols. Tempo suficiente para Marcelo marcar presença em 14 títulos, se tornar o 5º maior artilheiro da história da Raposa e conservar um sentimento especial pelo clube e pelos torcedores azuis.


Nesta quarta-feira, na decisão da Copa do Brasil, ele vai reforçar a torcida celeste ante o Atlético. "O Brasileirão já foi conquistado. Mas, se ganhar a Copa do Brasil diante do Atlético, terá um gostinho especial, com todo o respeito", pontua. Há 11 anos, no entanto, a realidade era outra. Marcelo estava em campo e, aos 43 minutos da etapa final, recebeu passe de Alex, de calcanhar, para selar a vitória sobre o rival, por 4 a 2, na 6ª rodada do Campeonato Mineiro.

Marcelo Ramos: homenagem na Toca
(Créditos: Site Oficial do Cruzeiro/Divulgação)

"Recebi uma ótima assistência do Alex, como ele mesmo diz, e fiz um gol bonito. Acho que (o cenário) combina com o que o Cruzeiro está vivendo hoje, inclusive", fala Marcelo. O clássico, definido pelo ex-atacante como o mais especial de sua carreira, marcaria uma caminhada sem sustos rumo à primeira das três taças de 2003, ano da Tríplice Coroa. "Eu estava saindo do banco e o meu ciclo no clube já estava se fechando, por isso esse jogo me marcou", acrescenta.

'De goleada, ainda melhor'

Ramos também jamais se esquecerá da goleada, por 5 a 1, na decisão da Copa dos Campeões Mineiros, disputada quatro anos antes. "Foi legal 'pra caramba', porque ganhar de cinco em um clássico não acontece direto. O Cruzeiro, nos últimos anos, fez isso mais vezes. Mas, realmente, foi uma sensação especial. Ganhar o clássico já é bom demais. De goleada, ainda melhor", recorda, tomado pela saudade.

Atacante vestiu a 9 celeste em 1998
(Créditos: Site Oficial do Cruzeiro/Arquivo)

Quando o assunto é a final desta quarta, o ex-camisa 9 exibe o otimismo. "Vai dar certo, vai dar certo. Tudo pode acontecer no futebol, a torcida vai empurrar com Mineirão lotado e, se Deus quiser, a gente vai ganhar esse título também", diz. Enquanto Marcelo assistirá à partida pela televisão, o filho mais velho, que carrega seu nome, virá ao estádio. "É uma alegria ele poder ir. Isso é muito bom e tomara que ele leve sorte para o Cruzeiro", completa o pai.

Willian: candidato a herói

Como nos velhos tempos de artilheiro, o baiano não se recusa a arriscar. "Claro que o time tem Ricardo Goulart, Marcelo Moreno, que é um jogador de bom nível, tem Éverton Ribeiro, mas eu aposto no Willian". A confiança no ex-companheiro de Atlético/PR é justificada. "Está em uma fase muito boa, já decidiu (nas semifinais) contra o Santos, e é um cara que é muito humilde, escuta muito as pessoas". A bola está com Willian. Marcelo e seu filho querem comemorar.


2º maior artilheiro da história alvinegra, ex-atacante diz que
rival é o melhor time do país, mas coloca título como certeza

Vinícius Dias

Desde o último jogo de Dario José dos Santos com a camisa atleticana, já se passaram três décadas e meia. Mas, seguindo o ditado que afirma que "quem foi rei, nunca perde a majestade", o longo tempo é apenas detalhe nesse caso de amor. Em 290 partidas pelo clube mineiro, Dadá Maravilha marcou 211 vezes. Números que o colocam como 2º maior da história do Galo quando o assunto é bola na rede - atrás somente de Reinaldo. Mas que, ainda assim, não são suficientes para expressar o compasso entre o ídolo e a massa. Sua massa!


Aos 68 anos, o eterno camisa 9 do título brasileiro de 1971 será mais um entre os milhares de atleticanos na torcida pelo título inédito. "Esse jogo, para mim, é um jogo cheio de coincidências", fala Dadá. O ex-atacante se remete à vitória sobre o Cruzeiro, por 2 a 1, em jogo pela 11ª rodada do Mineiro de 1970. Em um Mineirão com mais de 106 mil torcedores, os dois gols marcados pelo centroavante abriram caminho para o título do Atlético depois de sete anos.

Dadá: mais um entre a massa alvinegra
(Créditos: Bruno Cantini/Flickr/Atlético-MG)

"Foi nessa época que eu lancei o apelido Dadá. Dario não era comercial, e resolvi começar a usar Dadá... A torcida do Cruzeiro pegou muito no pé, alguns jogadores do Atlético queriam (que eu usasse) Dario", rememora. Insistente, viu a Raposa abrir o placar, mas manteve a promessa de fazer dois gols. "O torcedor do Cruzeiro estava me vaiando. Eu fui à beirada do campo e disse: 'esperem um pouco'". O primeiro tento veio ainda na etapa inicial: 1 a 1.

Em 1970: ali surgia Dadá

Na segunda etapa, Dario recebeu lançamento de Vantuir, venceu os dois zagueiros celestes, driblou Raul e decretou a virada. "Vocês podem falar o que quiserem, a partir de hoje será Dadá". Foram as palavras do camisa 9 após o clássico, que classifica como o mais especial. "Marcou o fato de eu ter feito dois gols contra aquele Cruzeiro, que era uma máquina de jogar futebol e não perdia para o Atlético (em jogos pelo Mineiro) há seis anos", justifica o ex-jogador.

Dadá ao lado de Ronaldinho Gaúcho
(Créditos: Ana Carolina Fontana/Secopa MG)

A situação, hoje, é bem diferente. Em seis clássicos disputados na atual temporada, o Atlético ganhou três e outros três terminaram empatados. Nos últimos duelos, três vitórias do Atlético: por 2 a 1, 3 a 2 e 2 a 0, respectivamente. Números que fazem o antigo ídolo ter certeza do título alvinegro. "Eu tenho certeza... Porque o Cruzeiro, se a gente analisar, é o melhor time do país, todo mundo sabe. Só que o Cruzeiro treme contra o Atlético", opina Dadá.

Esperança em 'Rei Carlos'

A confiança faz o ex-atacante apontar, inclusive, o possível herói. "Hoje, o nome mais famoso do Atlético não é Victor nem Tardelli. É Luan. Mas eu aposto na estrela do Carlos, a quem eu chamo de 'Rei Carlos'", observa. "Desde a base ele sempre foi muito bem contra o Cruzeiro". Na opinião de Dadá Maravilha, o Atlético entra em campo 'vencendo por 3 a 0'. "Os dois gols marcados na ida, mais o gol do Carlos no Mineirão, que, para mim, é garantido", acrescenta.

Nós queremos o penta...

Douglas Zimmer

Salve, China Azul!

Fui a Porto Alegre na última quinta-feira para presenciar uma das partidas mais importantes do Cruzeiro na caminhada que culminou na conquista do Campeonato Brasileiro de 2014, confirmada no domingo, diante do Goiás. Quando digo que a vitória contra o Grêmio foi uma das mais importantes atuações da equipe azul estrelada no campeonato, eu me refiro ao estado emocional e físico do time.


Todos sabem muito bem que os 38 jogos que cada equipe faz durante o torneio têm o mesmo valor quantitativo. Agora, qualitativamente falando, alguns acabam sendo mais importantes. Vencer o tricolor gaúcho em seus domínios é sempre muito difícil, ainda mais do modo como foi. Com o time local lutando pelo G4 e com o Cruzeiro dividindo coração e razão entre o Brasileiro e a Copa do Brasil, tendo que substituir dois jogadores ainda na etapa inicial e com o placar adverso desde os 12 minutos. A virada foi, de fato, sensacional.

Abraços e sorrisos: o ritual de um tetra
(Créditos: Washington Alves/Light Press/Textual)

Eu fico aqui imaginando o que o Marcelo Oliveira fala para os jogadores no intervalo. Ante o Santos, foi a mesma coisa. Depois de uma primeira etapa sonolenta, a Raposa voltou para o gramado com vontade e levou os três pontos. Quinta, contra os gaúchos, cena repetida. E você me pergunta se isso pode influenciar na decisão desta quarta diante do Atlético pela Copa do Brasil? Creio que sim.

Foco e fé: receita celeste

Vi dois times completamente diferentes em campo. Espero voltar a ver, na quarta-feira, no Mineirão, o do segundo tempo. Contudo, espero também que o Cruzeiro não repita os vários erros que cometeu diante do Grêmio. Foram muitos passes errados e várias saídas de bola equivocadas, que se não fossem a ineficiência gremista e a bela atuação de Fábio, poderiam ter mudado o resultado. Se o time entrar ligado, focado e com a gana que já foi demonstrada, reverter essa situação adversa em que nos metemos será, sim, possível.

Marcelo Oliveira: o comandante no topo
(Créditos: Washington Alves/Light Press/Textual)

Começaremos a partida em desvantagem, é verdade. Mas entraremos em campo com a certeza de que também temos uma equipe que já conseguiu reverter situações complicadas e que tem totais condições de se superar. Resta a nós aguardar e torcer para que Marcelo Oliveira consiga dar mais um choque no grupo e buscar o título que seria a coroação, literalmente, desse belíssimo trabalho.

Força, Cruzeiro!

Vencer, vencer, vencer...

Ricardo Diniz

Vontade, fé e confiança, lado a lado. A quarta é de decisão. E também de fazer valer o bordão consagrado nos últimos meses: "caiu no Mineirão, é campeão". No primeiro jogo, ao lado do torcedor, que foi bem mais que o 12º jogador, vitória por 2 a 0. Agora é hora de superação. De registrar o dia 26 de novembro na história alvinegra, ao lado de 25 de março, dia do aniversário do Galo, de 19 de dezembro, dia do título de 1971, e de 25 de julho, data em que o pênalti cobrado por Giménez explodiu no travessão, colorindo a América de preto e branco.


Agora, os heróis atleticanos, sejam eles repetidos ou novatos, terão nas mãos a chance de escreverem um novo capítulo da centenária história do clube. É hora de o Atlético retomar o caminho de títulos nacionais, trilhado com êxito pela última vez em 1971, quando a equipe comandada por Telê Santana conquistou o Campeonato Brasileiro. É hora de se juntar a Dadá Maravilha, Reinaldo e João Leite.

Dátolo e Luan: heróis do primeiro jogo
(Créditos: Bruno Cantini/Flickr/Atlético-MG)

Neste ano, o Galo já comemorou o título da Recopa Sul-Americana. Mas a inédita Copa do Brasil é um sonho antigo que a massa não esconde. Pela campanha, com vitórias heroicas e quase inacreditáveis ante Corinthians e Flamengo, dois dos principais rivais históricos, e pelo adversário da final, o arquirrival Cruzeiro, no Mineirão. Cenário que tornaria uma conquista ainda mais especial.

De 'São Victor' a Tardelli

É noite de fazer valer a santidade de Victor. As cobranças de laterais de Marcos Rocha. A segurança de Leonardo Silva e Jemerson. O bom futebol de Douglas Santos. A raça de Leandro Donizete e de Pierre. A precisão de Dátolo, o Jesús alvinegro. A agitação de Luan, 'Menino Maluquinho'. O faro de gol de Carlos. E, especialmente, a habilidade de Diego Tardelli, titular da seleção brasileira.

É dia de final de Copa.
É dia de vencer, vencer, vencer!

Brasileirão: terra de gringos

Tiago de Melo

Não é de hoje que o tema "estrangeiros no futebol brasileiro" é fonte de debates. Nosso futebol conta, há décadas, com muitos atletas vindos de outros países. Desde os primeiros anos do profissionalismo, jogadores de países vizinhos marcaram presença por estes campos. Alguns trouxeram contribuições significativas, outros nem tanto. E muitos foram fiascos por aqui, o que origina e alimenta o debate, que se acirrou após o fracasso de Ricardo Gareca no Palmeiras e o fato do substituto, Dorival Júnior, ter de lidar com um elenco repleto de "gringos".


Seja pelo ângulo da observação ou da estatística, é evidente que há uma elite de jogadores estrangeiros que torna inquestionável sua presença no Brasil. Barcos e Marcelo Moreno estão entre os goleadores do Brasileirão. Conca e D'Alessandro, entre os que mais deram assistências na Série A. Valdívia é protagonista da recuperação do Palmeiras; Dátolo, da trajetória memorável do Atlético na Copa do Brasil. Guerrero é, talvez, o maior ídolo do atual Corinthians. Parece impossível que se discorde que se trata de jogadores que ajudaram, e muito, a aumentar o nível técnico. Aceitemos o fato de que, sem esses gringos, o Brasileirão seria um torneio inferior ao que vemos a cada semana.

Dátolo: símbolo da boa fase do Atlético
(Créditos: Bruno Cantini/Flickr/Atlético-MG)

Há, por outro lado, os fracassos evidentes. Muitos, frutos de observação deficiente. Eguren é o típico exemplo: jamais foi um atleta de ponta, e foi contratado pelo Palmeiras em fase declinante, como no caso de Victorino. Ainda no alviverde há Mouche, jogador que nunca conseguiu se firmar no Boca Juniors e, por motivos inexplicáveis, foi uma aposta do conterrâneo Gareca. Nestes casos há pouco o que discutir: houve erro de avaliação. O que, por sinal, não é exclusividade estrangeira: quantos brasileiros foram anunciados por clubes daqui e fracassaram de modo previsível? Quem diz, por exemplo, que André foi uma boa aposta do Atlético? Leandro Damião valia o que o Santos pagou?

Entre sucesso e fracasso

Talvez a grande polêmica esteja nos atletas que se situam entre os dois pólos citados. Nem são protagonistas de sucesso, nem são retumbantes fracassos. Mas os jogadores que mostram condição de atuar no país sem serem destaques. Jogadores Ángel Romero, do Corinthians, Samúdio, do Cruzeiro, e o flamenguista Héctor Canteros, entre tantos outros. Na visão de muitos, são apenas estrangeiros "roubando" o espaço de profissionais locais. Será?

Samúdio: sotaque paraguaio no Cruzeiro
(Créditos: Washington Alves/Light Press/Textual)

Primeiramente, a ideia de que estrangeiros só deveriam jogar aqui quando puderem ser protagonistas deve ser reavaliada. A cada fim de semana, os canais esportivos exibem jogos de times europeus que entram em campo repletos de estrangeiros. Se alguns estão entre os melhores das equipes, outros compõem os elencos de modo decente. O que vale para brasileiros como Felipe Luís, Luiz Gustavo, Fernandinho, William e Maicon. Afinal, qual deles sobreviveria à lógica de "só podemos ter estrangeiros se eles forem protagonistas"?

Gringos: bons e baratos?

Há algo mais a ser levado em conta nessa discussão. O mercado brasileiro está inflacionado, e jogadores comuns têm salários estratosféricos. Sendo assim, os dirigentes locais recorrem a atletas estrangeiros que, ainda que estejam no mesmo nível dos que atuam aqui, são mais baratos. Hoje, o futebol nacional paga melhor que os times dos países vizinhos. Clubes médios daqui contratam jogadores de equipes de destaque na Argentina, Uruguai, Chile e Colômbia. Por que, então, apostar em um equivalente do Brasil, pagando mais?

Dario Conca: o maestro do Fluminense
(Créditos: Nelson Perez/Flickr/Fluminense F.C.)

Ao fim, é provável que a grande questão envolvida no grande número de jogadores estrangeiros no país seja bem mais ligada ao nosso futebol do que a esses atletas. Nossos clubes estão com mais dinheiro nas mãos do que nunca. O que tornou o nosso mercado inflacionado a ponto de pagar salários europeus a jogadores que mal podem disputar a Série A. Para os cartolas, trazer atletas equivalentes de países vizinhos a custo mais baixo é uma solução viável. 

Quem pode culpá-los?

Dia 26: batalha por ingressos

Vinícius Dias

A venda de ingressos do setor Premium do Mineirão para o clássico entre Cruzeiro e Atlético, no dia 26, começa hoje, às 18h. Serão disponibilizados 487 bilhetes por meio do site Mineirão Premium, sendo 200 de cadeiras vip superior, ao preço de R$ 800, e 287 de cadeiras vip, ao preço de R$ 750. Os 98 camarotes do estádio (de 20 lugares), ao preço de R$ 16 mil cada, estão quase esgotados.


Conforme o Blog Toque Di Letra noticiou, os 4.795 bilhetes de cadeiras especiais (leste e oeste) estão à venda por meio do site oficial do Cruzeiro ao preço de R$ 700. Sócios da categoria Cruzeiro Sempre podem adquirir dois bilhetes, ambos com 30% de desconto.

Torcida do Atlético

Os ingressos para os torcedores do Atlético, que ficarão no setor roxo do estádio, devem ser vendidos a partir da próxima segunda-feira, dia 24, ao preço de R$ 1 mil. 40% da carga destinada à torcida alvinegra será meia-entrada, custando R$ 500.


Nas próximas horas, clube estrelado vai disponibilizar ingressos
do setor roxo inferior; setor vermelho está à venda para sócios

Vinícius Dias

Nas próximas horas, os sócios da modalidade Cruzeiro Sempre terão mais 4.795 ingressos à disposição, via internet, para a final da Copa do Brasil, contra o Atlético, no dia 26. O reforço na bilheteria é resultado de acordo firmado com a Minas Arena, no qual a Raposa assumiu a responsabilidade pela comercialização dos ingressos de dois setores que são administrados pela concessionária.


"Estamos somente aguardando a matriz do estádio, da Minas Arena, para disponibilizarmos setor o roxo inferior", afirmou o diretor de tecnologia da informação do Cruzeiro, Aristóteles Loredo, em entrevista ao Blog Toque Di Letra. No chamado setor roxo do estádio estão localizadas as cadeiras especiais oeste.

Mineirão: estádio recebe final no dia 26
(Créditos: Gualter Naves/Light Press/Textual)

Ingressos de cadeira especial leste, que compõe o setor vermelho inferior, também administrado pela Minas Arena, já estão disponíveis no site oficial do Cruzeiro ao preço de R$ 700. "É a primeira vez que estamos vendendo todos os setores", pontuou Aristóteles. 

Promoção para os sócios

Também a partir desta sexta-feira, dia 14, os sócios do futebol puderam comprar dois bilhetes para a final da Copa do Brasil, ambos com 30% de desconto, o que fez crescer a procura dos sócios. O setor laranja inferior, por exemplo, já está praticamente esgotado. "Estamos tendo um volume muito grande de acessos. Se bobear, esgota antes de abrir a bilheteria", disse o diretor.

Roxo e vermelho inferior

O desconto de 30% também será válido para setores administrados pela Minas Arena, que tradicionalmente têm preços 20% superiores em relação aos mais caros praticados pelo clube. "Com o acordo contratual, isso cai e entra no preço do ingresso mais alto do Cruzeiro, já que é o Cruzeiro que está comercializando", detalhou Loredo.

Caiu no Horto... tá morto?

Vinícius Dias

A disposição do Atlético era a de quem se sentia bem próximo de colocar um ponto final no (incômodo) jejum de conquistas em âmbito nacional. O repertório, regido pelos quase 20 mil presentes na Arena Independência, associava rápidas trocas de passes, marcação sob pressão e a tradicional inspiração do setor ofensivo.


O Cruzeiro, por sua vez, entrou em campo para mais uma partida - a de número 68 na desgastante temporada brasileira. A aposta celeste era no jogo coletivo e na imposição técnica, insuficientes ante a precisão do time comandado por Levir Culpi, que foi a campo disposto a encaminhar oiio título no caldeirão do Horto.

Luan e Dátolo: vitória alvinegra no Horto
(Créditos: Bruno Cantini/Flickr/Atlético-MG)

Luan, em posição irregular, abriu o placar aos oito minutos, completando cruzamento de Marcos Rocha. O gol logo cedo não mudou o panorama do duelo. Do lado da Raposa, tudo passava pelos pés de Mayke, que insistia em acionar os pouco inspirados Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart. O Galo seguia apostando na velocidade.

De corpo e alma...

Com enorme apetite, o clube alvinegro ainda chegou ao segundo gol, aos 13 minutos da etapa final, com o camisa 23 Dátolo, que escorou para as redes de Fábio quase na pequena área. Festa da torcida do Atlético. E do time que disputou a final de corpo e alma.

O Cruzeiro, com pouco apetite, caiu no Horto...
Mas saiu com a certeza de que não está morto!


Alex, Gladstone e Zezé Perrella revelam detalhes da preleção
que antecedeu o título do Cruzeiro na Copa do Brasil em 2003

Vinícius Dias

Dia 11 de junho de 2003. Na preleção, na Toca II, cada atleta cruzeirense recebe um pacote. O jovem zagueiro Gladstone, de 18 anos, recebe dois. "Abram os pacotes... Menos você, Gladstone", ordena o técnico Vanderlei Luxemburgo. Horas depois, o sorriso do estreante da noite estampava a satisfação. Ao lado de figuras como o meia Alex e o vice-presidente Zezé Perrella, ele festejava o título da Copa do Brasil, conquistado com a vitória ante o Flamengo, por 3 a 1, no Mineirão. Após 11 anos, aquele dia segue vivo nas memórias do trio.


"Não podemos falar da partida final sem falar da primeira partida, três dias antes, no Maracanã", pontua Alex, autor de um golaço de letra no empate por 1 a 1. "Fizemos uma partida equilibrada, porém tivemos várias perdas (para o jogo decisivo)", recorda. Os zagueiros Edu Dracena e Thiago, que haviam recebido o terceiro amarelo, desfalcariam a equipe na volta. Ao fim do jogo, Vanderlei entra em cena: invade o gramado e protesta contra o árbitro Carlos Eugênio Simon.

No Maracanã, Alex marcou gol de letra
(Créditos: Site Oficial do Cruzeiro/Arquivo)

"No vestiário, Luxa reuniu o time e falou que começamos a ganhar o título ali", conta Alex. "Voltando para Minas, ninguém falava da falta dos nossos zagueiros. O que ele queria, tirar o foco dos atletas e passar para ele, foi alcançado", acrescenta. Com o retorno de Luisão confirmado, era hora de definir o substituto de Dracena. No papo com Aristizábal, Alex e Luisão, o técnico revelou a dúvida: improvisar o volante Jardel ou escalar Gladstone, recém-promovido da base. "Chamamos o Gladstone e perguntamos como ele estava", revela Alex.

Gladstone: estreia na final

A segunda opção foi a escolhida. O zagueiro, aos 18 anos, mal conseguia esconder o nervosismo. A estreia na equipe profissional tinha data e hora marcadas: 11 de junho, às 21h45, diante de um Mineirão com mais de 80 mil pessoas. "O momento era tenso para mim, que, com tão pouca idade, iria estrear em um jogo daquela importância", reconhece Gladstone. Havia chegado a hora da preleção, e Luxemburgo tentaria acalmar os ânimos do mais novo titular.

Cruzeiro é tetra: Gladstone comemora
(Créditos: Site Oficial do Cruzeiro/Arquivo)

Deu certo. "Vanderlei gostava muito de usar a psicologia. Foi fundamental para deixar o garoto bem mais tranquilo. Mexeu com os nervos dele e ele acabou indo muito bem", destaca Zezé Perrella, vice-presidente do clube à época. Os misteriosos pacotes surgiram durante o discurso motivacional. "Abrimos e tinham aquelas faixas vendidas pelos camelôs antes de jogos decisivos", diz Alex. "Coloquem no pescoço, porque seremos campeões". Foram as palavras de Luxemburgo.

'Sai campeão ou sai cag...'

Gladstone, então, abriu os dois pacotes. No primeiro, a faixa de campeão. No outro, uma fralda. "Agora, você escolhe: 'sai do Mineirão campeão ou sai cag...'", disse Vanderlei ao defensor. "O Aristizábal pegou a fralda das mãos do Glad, jogou no chão e gritou: 'ele vai ser campeão junto com a gente'", recorda Alex. Dali, a delegação partiu para o Mineirão. No minuto inicial, 1 a 0. Aos 28', o Cruzeiro já vencia por 3 a 0. Na segunda etapa, o Flamengo descontou aos 16'.

Alex: maestro celeste de sorriso largo
(Créditos: Site Oficial do Cruzeiro/Arquivo)

"Aquela preleção foi de suma importância para poder quebrar o gelo", fala Gladstone. "E depois que entrei em campo, não senti mais peso nenhum, somente muita confiança", revela o zagueiro. "Confesso que os bastidores desse jogo foram mais emocionantes que a própria partida. Os bastidores foram cinco dias. A partida nós decidimos em 25 minutos", completa Alex. Nesta quarta, o meia do Coritiba e o zagueiro do Gil Vicente, de Portugal, reforçam o time dos telespectadores.


Conterrâneo de Telê Santana, Nilson Cardoso defendeu o Galo
entre 1958 e 1966, marcando 125 gols pelo clube; 49 no Horto

Vinícius Dias

Enquanto o time de Victor e Ronaldinho escrevia, em campo, algumas das estrofes mais emocionantes da história do Atlético, nas arquibancadas, a torcida alvinegra cunhava o temido refrão "caiu no Horto, tá morto". Para Nilson Batista Cardoso, aquele grito inspirava um retorno no tempo. Com vasto repertório, o ex-atacante, hoje aos 75 anos, marcou 125 gols pelo Atlético entre 1958 e 1966. 11º atleta que mais balançou as redes com a camisa atleticana, o itabiritense é, também, o maior artilheiro do clube no Independência, com 49 gols.


"Naquela época, não tínhamos a preocupação de contar os gols. Eu fiquei sabendo (deste recorde) por meio de um recorte de jornal que chegou às minhas mãos, e fiquei muito satisfeito", conta. Uma das vítimas preferidas do centroavante era, justamente, o Cruzeiro, adversário do Atlético nesta quarta: foram oito gols entre 1958 e 1963. "Uma lembrança maravilhosa", pontua Nilson, que, na lista de artilheiros, supera ídolos como Éder Aleixo, com 122 gols, e Diego Tardelli, 107.

Nilson: um artilheiro de alma alvinegra
(Créditos: Arquivo Pessoal/Nilson Cardoso)

Ao mencionar o Independência, estádio-símbolo da ótima fase do clube, o ex-camisa 9 adota o tom saudosista. "Às vezes, passávamos dois meses sem jogar, mas os 49 gols saíram com muita disposição. Nada melhor do que ouvir seu nome gritado lá na arquibancada", afirma. Os ex-atacantes Gérson e Ubaldo marcaram 39 gols com a camisa atleticana no Horto. Do atual elenco, Jô, com 27 gols, e Diego Tardelli, 18, possuem as melhores marcas. "Pode ser que daqui um, dois anos, eles cheguem", opina Nilson, assinalando o recorde.

'Hoje eu ganharia dinheiro'

Além de gols, ele também empilhou amizades. "Brincam comigo que se eu estivesse jogando hoje, eu estaria na Europa ganhando dinheiro. Porém, uma coisa boa é lembrar dos amigos que marcaram minha vida", destaca. Na lista estão nomes como o ex-meia Ilton Chaves e o ex-goleiro Marcial, além de Procópio Cardozo e do lendário Dadá Maravilha, campeão mundial em 1970 com a seleção.

Em Itabirito, ex-jogador exibe memórias
(Créditos: Vinícius Dias/Blog Toque Di Letra)

No caso de Procópio, nem mesmo a distância enfraqueceu a amizade. Pelo contrário, cultivou a saudade. "(Nilson) é uma pessoa que sempre admirei. Além de um amigo de verdade, um atacante que jamais se omitia, muito participativo e que jogava para o time. Era uma referência", recorda o ex-zagueiro. "Nós jogamos juntos várias vezes no Atlético, fomos campeões mineiros (em 1962 e 1963) e saíamos juntos nas horas vagas. Era muito bom", acrescenta Procópio.

Dadá: da amizade à idolatria

"Se eu sou o 'Rei Dadá', hoje, eu tenho que agradecer muito ao Nilson". Segundo maior artilheiro do time alvinegro, com 211 gols, Dadá Maravilha também faz questão de reverenciar o itabiritense. "Além do grande atleta que foi, é uma pessoa nota dez, e falar dele é uma honra. O Atlético me contratou muito pela opinião dele", argumenta. Companheiro de Dario no Campo Grande/RJ, no início de 1967, Nilson foi o responsável por, meses depois, indicá-lo ao clube do coração durante uma conversa informal com diretores atleticanos.

Atlético, em 1962: time campeão mineiro
(Créditos: Arquivo Pessoal/Nilson Cardoso)

A trajetória de Nilson Cardoso no futebol foi iniciada logo aos 13 anos, no União Sport Club, de Itabirito. Membro da geração que sucedeu a de Telê Santana nos gramados da cidade natal, o jogador chegou ao Galo aos 18 anos, e foi campeão mineiro em 1958, 1962 e 1963. Quando perguntado sobre o duelo desta quarta, mede as palavras. "A gente fica preocupado, mas, com certeza, vou torcer para o Atlético", pontua, rejeitando qualquer palpite sobre o resultado.