Brasileirão: terra de gringos

Tiago de Melo

Não é de hoje que o tema "estrangeiros no futebol brasileiro" é fonte de debates. Nosso futebol conta, há décadas, com muitos atletas vindos de outros países. Desde os primeiros anos do profissionalismo, jogadores de países vizinhos marcaram presença por estes campos. Alguns trouxeram contribuições significativas, outros nem tanto. E muitos foram fiascos por aqui, o que origina e alimenta o debate, que se acirrou após o fracasso de Ricardo Gareca no Palmeiras e o fato do substituto, Dorival Júnior, ter de lidar com um elenco repleto de "gringos".


Seja pelo ângulo da observação ou da estatística, é evidente que há uma elite de jogadores estrangeiros que torna inquestionável sua presença no Brasil. Barcos e Marcelo Moreno estão entre os goleadores do Brasileirão. Conca e D'Alessandro, entre os que mais deram assistências na Série A. Valdívia é protagonista da recuperação do Palmeiras; Dátolo, da trajetória memorável do Atlético na Copa do Brasil. Guerrero é, talvez, o maior ídolo do atual Corinthians. Parece impossível que se discorde que se trata de jogadores que ajudaram, e muito, a aumentar o nível técnico. Aceitemos o fato de que, sem esses gringos, o Brasileirão seria um torneio inferior ao que vemos a cada semana.

Dátolo: símbolo da boa fase do Atlético
(Créditos: Bruno Cantini/Flickr/Atlético-MG)

Há, por outro lado, os fracassos evidentes. Muitos, frutos de observação deficiente. Eguren é o típico exemplo: jamais foi um atleta de ponta, e foi contratado pelo Palmeiras em fase declinante, como no caso de Victorino. Ainda no alviverde há Mouche, jogador que nunca conseguiu se firmar no Boca Juniors e, por motivos inexplicáveis, foi uma aposta do conterrâneo Gareca. Nestes casos há pouco o que discutir: houve erro de avaliação. O que, por sinal, não é exclusividade estrangeira: quantos brasileiros foram anunciados por clubes daqui e fracassaram de modo previsível? Quem diz, por exemplo, que André foi uma boa aposta do Atlético? Leandro Damião valia o que o Santos pagou?

Entre sucesso e fracasso

Talvez a grande polêmica esteja nos atletas que se situam entre os dois pólos citados. Nem são protagonistas de sucesso, nem são retumbantes fracassos. Mas os jogadores que mostram condição de atuar no país sem serem destaques. Jogadores Ángel Romero, do Corinthians, Samúdio, do Cruzeiro, e o flamenguista Héctor Canteros, entre tantos outros. Na visão de muitos, são apenas estrangeiros "roubando" o espaço de profissionais locais. Será?

Samúdio: sotaque paraguaio no Cruzeiro
(Créditos: Washington Alves/Light Press/Textual)

Primeiramente, a ideia de que estrangeiros só deveriam jogar aqui quando puderem ser protagonistas deve ser reavaliada. A cada fim de semana, os canais esportivos exibem jogos de times europeus que entram em campo repletos de estrangeiros. Se alguns estão entre os melhores das equipes, outros compõem os elencos de modo decente. O que vale para brasileiros como Felipe Luís, Luiz Gustavo, Fernandinho, William e Maicon. Afinal, qual deles sobreviveria à lógica de "só podemos ter estrangeiros se eles forem protagonistas"?

Gringos: bons e baratos?

Há algo mais a ser levado em conta nessa discussão. O mercado brasileiro está inflacionado, e jogadores comuns têm salários estratosféricos. Sendo assim, os dirigentes locais recorrem a atletas estrangeiros que, ainda que estejam no mesmo nível dos que atuam aqui, são mais baratos. Hoje, o futebol nacional paga melhor que os times dos países vizinhos. Clubes médios daqui contratam jogadores de equipes de destaque na Argentina, Uruguai, Chile e Colômbia. Por que, então, apostar em um equivalente do Brasil, pagando mais?

Dario Conca: o maestro do Fluminense
(Créditos: Nelson Perez/Flickr/Fluminense F.C.)

Ao fim, é provável que a grande questão envolvida no grande número de jogadores estrangeiros no país seja bem mais ligada ao nosso futebol do que a esses atletas. Nossos clubes estão com mais dinheiro nas mãos do que nunca. O que tornou o nosso mercado inflacionado a ponto de pagar salários europeus a jogadores que mal podem disputar a Série A. Para os cartolas, trazer atletas equivalentes de países vizinhos a custo mais baixo é uma solução viável. 

Quem pode culpá-los?

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