Vinícius Dias
"Hoje,
a gente tem clássico contra o América. Vai estar lotado. Esse time, sem ser do
Gilvan, está bom demais", diz o cruzeirense na fila da banca de revistas.
"No nosso caso, para mim, só a volta do Kalil resolve", responde, com
o jornal nas mãos, o atleticano. Mais do que um encontro informal entre amigos,
o bate-papo revela um drama inerente ao futebol: a necessidade de criar heróis
e vilões. Ainda que, para ressaltar fins e resultados, torcedores - e, em
vários momentos, imprensa - precisem atropelar meios, processos e passar por
cima de qualquer sequência lógica.
Porque
é excelente notícia a Raposa estar prestes a bater o recorde de público da
temporada, que já é seu. Como é a política de preços adotada até o momento -
retomando análise publicada em 2014, após a estreia do time tricampeão brasileiro diante de apenas 11.843 pagantes, a receita é levar ao torcedor ao estádio para
ver o produto Cruzeiro e, depois, consumi-lo como sócio. Mas também porque,
tratando apenas de campo, nem a boa janela da atual diretoria, com Fred e
reforços pontuais, deveria transformar em vilão quem contratou ou manteve nove
dos 11 titulares.
Kalil e Gilvan: campeões na era dos rótulos (Créditos: Bruno Cantini/Atlético/Bruno Senna/Cruzeiro) |
No caso do atleticano, é preciso ler nas entrelinhas. O discurso diz muito sobre passado e presente. Primeiro, por provavelmente fazer referência apenas ao Kalil multicampeão no segundo mandato, e não ao que teve mais sucesso fora do que dentro de campo no primeiro - tal como Daniel Nepomuceno, o grande nome por trás da futura arena. Depois, por sugerir crítica à atual cúpula e má gestão da expectativa. Se o desempenho no início de Mineiro é o quarto pior no atual formato, a busca por austeridade é um grande passo depois de temporadas de muitos gastos e poucos resultados.
No
futebol sedento por heróis e vilões, o derrotado é o debate.
Porque,
no fim, é mais fácil apontar o dedo que buscar causas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário