Comandado desde 2011 por irmão do tricampeão olímpico José
Roberto Guimarães, time se transformou em potência mundial
Vinícius Dias
Com
um modesto sexto lugar, a seleção masculina de vôlei sentado fez sua estreia
paralímpica em Pequim, em 2008. Duas edições depois, o Brasil entrará em quadra
na manhã desta sexta-feira, diante do Estados Unidos, como potência mundial. O novo
status da modalidade, que chegou ao pódio em todas as competições que disputou
desde 2013, tem relação direta com a filosofia implementada por Fernando
Guimarães, à frente da seleção desde 2011. "Conseguimos tirar 30 anos (de
desvantagem) em cinco", comemora ao Blog
Toque Di Letra.
Longe
de conceitos mirabolantes, a revolução teve como base a aproximação com o vôlei
convencional. "Para o vôlei de alto rendimento, a gente não fez nada
demais. Mas, para o que os atletas estavam acostumados, a gente mudou radicalmente",
explica Fernando, que tem como referência o irmão José Roberto Guimarães,
bicampeão olímpico à frente da seleção feminina, com quem trabalhou
anteriormente. "O que eu faço é uma adaptação de tudo o que aprendi nesses
anos com ele, e não teria como ser diferente", acrescenta.
Fernando ao lado do irmão José Roberto (Créditos: Arquivo Pessoal/Fernando Guimarães) |
No
grupo A, ao lado de Egito, Alemanha e Estados Unidos, o Brasil é tido como forte
candidato ao pódio. Embora concorde, o comandante faz questão de adotar o
discurso de pés no chão. "Vejo três times para ouro e prata: Brasil, Irã e
Bósnia (atual campeã). Porém, se a gente não jogar bem, não ganhará de Alemanha
e Egito. Contra os Estados Unidos também é complicado". Além da qualidade
da equipe, o fator casa é considerado um possível diferencial. "Para tirar
uma medalha da gente, terão de fazer muita força", afirma.
Bastidores da preparação
Mesmo
com realidade mais modesta e atletas que conciliam o esporte com outras
jornadas, a preparação é elogiada. No ciclo paralímpico, o cronograma incluiu
monitoramento da rotina dos atletas por parte de preparador físico e psicóloga
e teve apoio decisivo do Clube dos Paraplégicos de São Paulo (CPSP). Seis dos
convocados defendem a equipe, comandada por Fernando. Uma vez por semana, outros
três atletas que atuam no estado participaram dos treinos. "Eles se prontificaram
a ir e o clube abriu as portas. Com isso, conseguimos manter contato", destaca.
Treino da seleção de vôlei sentado (Créditos: Fernando Maia/MPIX/CPB) |
O
trabalho rendeu pratas no Mundial, em 2014, e na Copa do Mundo deste ano. Resultados
que contribuíram para a assimilação da metodologia do treinador, com direito a repetições
de jogadas e treinos táticos e de fundamentos, às vezes em dois períodos. "Os
atletas não estavam acostumados a algumas coisas que trouxemos. No início,
brincavam comigo pelo fato de eu não dar jogo", lembra. "Eles
sentavam lá e jogavam, o que é feito no mundo inteiro. Hoje, eles assistem a
vídeos nossos e dos adversários, têm uma série de informações que não
tinham", compara.
As regras do vôlei sentado
Com
regras adaptadas do vôlei convencional, a versão sentada reúne atletas que apresentam
desde leves problemas em articulações a membros amputados. Tamanho é documento.
"Quanto maior o atleta, mais fácil fica", resume Fernando Guimarães.
Isso deve ao fato de que os ataques devem ser realizados com os glúteos
encostados no chão. A modalidade tem rede mais baixa - fixada em 1,15 metro no
masculino e 1,05 metro no feminino -, quadra com dimensões reduzidas - 10 x 6
metros - e ainda permite bloqueio no saque.
Treinador mira legado além do esporte (Créditos: Marcelo Regua/MPIX/CPB) |
Neste
ano, a seleção brasileira terá um elenco mais alto do que o de Londres. Entre
os 12 convocados estão atletas como Anderson Ribas, bicampeão da Superliga; Levi
Gomes, duas vezes vice-campeão da competição; e Fred Dória, Rei da Praia em
2000. Os três foram integrados ao esporte paralímpico depois de encerrarem as
carreiras profissionais devido às limitações físicas. Prometendo surpresas em
quadra, o treinador vê a seleção em evolução. "O pessoal ainda não viu a
gente jogar. O time está bem mais redondo, mais coeso".
Legado esportivo e social
Fisioterapeuta
e referência em hipoterapia - hipismo aplicado ao tratamento de deficientes -,
Fernando espera que, além da conquista esportiva, os Jogos tenham um legado
social. "Há 28 anos, ouço que o Brasil é o país do futuro. Mas a gente não
está preparado para os deficientes", lamenta o treinador, que teve
passagem pelo vôlei europeu como atleta. "A gente tem de se superar todos
os dias, não é apenas por ter um problema físico. Queria que ficasse o legado
do que esses caras podem fazer". A esperança só acaba quando a última bola
tocar o chão adversário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário