Acompanhei
a Libertadores pela primeira vez em 1979. Naquela ocasião, pelos microfones da
Rádio Rivadávia, de Buenos Aires, ouvi o até então obscuro Olimpia derrotar na
final o Boca Juniors, que havia vencido as duas edições anteriores do torneio.
Aprendi muito cedo que a Libertadores, diferentemente do que pensam tantos
brasileiros, não é sinônimo de catimba ou violência, mas de equilíbrio e
imprevisibilidade.
Que o digam os atleticanos. Os
alvinegros de Minas Gerais viram seu time ser a sensação do torneio na fase de
grupos e atropelar o São Paulo nas oitavas de final. A vitória contra um
desconhecido time mexicano certamente parecia óbvia. Mas não foi nada disso. O
Tijuana foi superior no conjunto dos 180 minutos. Abriu 2 a 0 com justiça em
casa, mas a impressionante reação do Galo fez justiça ao 2 a 2.
Na volta muitos poderiam achar que a
fatura estava liquidada. Mas em campo tudo foi diferente. O Atlético não era a
equipe forte, vibrante e avassaladora que todos se acostumaram a ver. Os xolos
administravam a partida, abriram o placar, e nem o gol de Réver mudou o quadro.
Tudo indicava que os mexicanos eliminariam a melhor equipe do continente.
E quando, passados os 90 minutos, um
pênalti controverso foi marcado para o Tijuana, tudo parecia fazer sentido. A
melhor equipe nos 180 minutos venceria. Mas, como sempre acontece na
Libertadores, a lógica não venceu. Os atleticanos choraram de alegria com a
impensável defesa de Victor nos descontos, e com o fato de sua equipe seguir
viva rumo ao sonho continental.
Em Rosário não foi diferente. Líder da
liga local, vivendo um momento melhor, e jogando em casa, o Newell’s tinha tudo
para despachar o Boca Juniors. Mas o mago Carlos Bianchi cozinhou a Lepra.
Deixou a equipe local ter a posse de bola, enquanto apostava todas as fichas na
aplicação tática de sua equipe.
E funcionou. Os xeneizes anulavam o
excelente centroavante Scocco e não sofriam. No segundo tempo começaram a
atacar. Perderam boas chances. E quando tudo parecia conspirar a favor da
classificação do Boca, o lateral Clemente foi imbecilmente expulso. Restou ao
Boca se aguentar esperando a disputa por pênaltis.
E foi o que aconteceu. Foram batidos 26
pênaltis até que o Newell’s alcançasse a semifinal da Libertadores. Mérito
imenso da equipe comandada por Gerardo "Tata" Martino, que abandonou propostas
tentadoras para treinar o clube em que é ídolo desde os tempos de jogador.
No Paraguai o Fluminense, ainda sem demonstrar
o futebol que o levou ao título brasileiro, foi eliminado pelo Olimpia. O
decano paraguaio enfrentará na semifinal o Santa Fé, que despachou o Garcilaso.
Um confronto que garante na final uma equipe que não era apontada como favorito
por ninguém no início da temporada. Mostrando que a Libertadores segue sendo
fiel à sua história de imprevisibilidade.
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