No primeiro capítulo, atleticano registra, em 1ª pessoa, cenas
do embarque, em vôo de Kalil, à chegada em solo marroquino
Frederico Paco
De Marrakech, Marrocos
Saímos de Belo Horizonte prontos.
Prontos para a exaustiva jornada de mais de 50 horas seguidas numa viagem sem o
conforto de hotéis, seus menosprezados banheiros privados e sem as horas
dormidas na cama. Prontos para a aventura, para o choque cultural e toda a
experiência que esperávamos que o belo e exótico Marrocos nos proporcionaria.
Prontos para a vitória, prontos para a glória, mas tementes ao Deus do futebol,
que, sabemos, não perdoa aos arrogantes e prepotentes.
Em Marrakech: os ares do Mundial (Créditos: Arquivo Pessoal/Thiago Bonna) |
Afinal, que tipo de torcedor que
realmente acompanhou o Bayern nesse passado recente, teria coragem de apostar
contra a bela equipe de Pep Guardiola? Contudo, algo dentro de nós dava a
certeza de que seríamos presenteados com o mais imponente troféu do planeta
bola. Fosse pela consolidação do trabalho excepcional do mestre Cuca à frente
do Galo, fosse por um Brasileiro consistente, e apontado por unanimidade como a
melhor preparação para o Mundial, fosse pela vontade demonstrada pelos
jogadores antes do torneio.
LEIA MAIS: Estréia, derrota e lembranças
Mas não vou aqui lamentar a derrota nem analisar a partida. Mas, sim, relatar a mais exótica jornada da minha vida.
E o início não podia ter sido melhor. Tivemos como companheiros de voo a
diretoria do Atlético e mais de 100 atleticanos fardados e preparados 'para a
guerra'. Do saguão do Aeroporto de Confins até pousarmos em Lisboa, não teve um
só instante de silêncio. Todos cantavam, bebiam e amontoavam-se para tirar
fotos, agradecer, desejar sorte e conversar com Alexandre Kalil. O cenário não
poderia ser melhor.
Cenário de filme, rumo ao Marrocos (Créditos: Arquivo Pessoal/Frederico Paco) |
Um fato importante, e que eu ainda não tinha trazido à tona, é que meu pai, nascido no Marrocos, deu um sentido ainda maior à nossa viagem, criando em mim o sentimento latente de retorno às origens. Exatamente por este fato, decidimos fugir do básico, seguindo de Lisboa a Marrakech por terra, ignorando a noite extremamente mal dormida, que tornaria bem mais exaustiva a viagem de 12 horas de ônibus da capital portuguesa à Algeciras, no extremo Sul da Espanha. De lá, duas horas de balsa para cruzar o Estreito de Gibraltar e, enfim, chegar à África. A desconhecida, fantástica e exótica terra-mãe.
Enfim, na casa alvinegra
Depois da tormenta, mais tempestade.
Como se não bastasse a exaustão da jornada de 50 horas, assim que alugamos um
carro para prosseguir de Tanger a Marrakech, um dos atleticanos de nossa
pequena comitiva fora atacado por uma infecção intestinal, e ficou preso no
quarto de hotel por dois dias seguidos. Enquanto isso, nós conhecíamos a
singular cidade que receberia o Clube Atlético Mineiro durante sua mais nova
experiência no exterior.
No Jamaa Elfna: 'de tudo um pouco' (Créditos: Arquivo Pessoal/Frederico Paco) |
A cidade não poderia ser mais
fascinante e, garanto, não decepcionou a nenhum atleticano que realmente a
tenha conhecido - não respondo por quem decidiu seguir guias os das
pasteurizadas companhias de turismo. Nossa parada inicial foi no sensacional
mercado de Jamaa Elfna. Ficamos encantados com a imensa variedade de produtos
oferecida no local. Dos caramujos no vapor às cabeças de cabrito, destorcidas e
expostas com crânio aberto para os interessados em apreciar o cérebro do
bichano. De panos temáticos a tênis Nike em modelos falsificados, pode-se
encontrar de tudo no Elfna.