Capitão e principal nome do
Fenerbahçe, da Turquia, o craque relembra a infância simples, o início no
futsal, os bons e maus momentos da vitoriosa carreira, a ausência na Copa do
Mundo de 2002 - que, assegura, não lhe traz mágoa. Alex ainda deu palpites sobre o atual comando da seleção e sobre o futebol brasileiro.
A infância de grande parte dos
principais desportistas brasileiros é permeada por obstáculos. A sua não foge
muito à regra. Em quê as dificuldades vivenciadas no passado contribuíram para
o seu êxito como jogador?
Tive as dificuldades naturais de
uma família que tinha três filhos, morava na periferia de Curitiba e,
financeiramente, era complicado manter um filho jogando futebol. Eu tive os
pais perfeitos para um futuro atleta. Eles envolviam-se pouco, não davam
palpites e só me apoiavam.
O seu começo, assim como o de
craques como Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo e Robinho, foi no futsal. A seu ver, em
quê essa formação inicial, nos salões, contribuiu ao notável rendimento nos
gramados mundo afora?
O futsal contribuiu comigo em todos
os sentidos. Tecnicamente, eu não preciso nem falar. Os conceitos básicos do
futebol, como controle e passe, foram desenvolvidos ali nas quadras. Mas a
ajuda extrapolou isso. Deram-me condições de estudar, de poder seguir
desempenhando minhas atividades no Coritiba, e se preocuparam muito em me
educar para viver em sociedade.
Acredito que todos os clubes tenham
um papel social importante, mas, infelizmente, poucos fazem isso.
Entre tantas idas e vindas, a
carreira de um atleta profissional tem seus pontos altos e baixos. Hoje, aos 34
anos, qual você considera ter sido o momento mais "difícil" de sua
trajetória? Como agiu para superá-lo?
O momento mais difícil da minha
carreira foi entre abril de 2001 e setembro de 2002. Foi o período em que fui
para a Justiça contra o Parma e a Parmalat. Vivi mais dentro de tribunais do
que propriamente dentro de campo. Mas, em setembro de 2002, consegui quebrar
esse vínculo, e a situação voltou para dentro de campo.
Aí, foi somente focar e trabalhar e
as coisas entraram nos eixos. Agi acreditando em meus princípios. Quando fui
para a Justiça, sabia que poderia até perder tecnicamente, poderia perder minha
carreira. Mas a minha dignidade ninguém compra. Seguindo esse princípio de que
a verdade estava a meu lado, segui em frente. Mas confesso que foi super
complicado e poucos me ajudaram.
Após marcar presença no período
de preparação para o Mundial de 2002, você assistiu o torneio à 'distância'. A
ausência na lista final daquela Copa ainda lhe traz mágoas? Você se considera
um atleta injustiçado?
Não me considero injustiçado.
Sempre me considerei em condições de ter disputado aquela Copa, mas o Felipão,
em cima das análises dele, me preteriu e eu sempre respeitei a posição. Mágoas,
eu não tenho. Mas tenho várias perguntas que, infelizmente, nunca terão
respostas.
Desde a conquista da Copa
América, em 2007, a Seleção Brasileira tem acumulado fracassos. Como você
analisa o atual momento do futebol brasileiro? Acredita que Mano Menezes seja o
melhor nome para comandá-lo em 2014?
Não entro no mérito do Mano
Menezes. Se outro treinador estivesse lá, seja ele quem for, seria questionado
da mesma forma. É chegado um momento de o Brasil se preocupar com a formação
dos jogadores. Não podemos ter essa perda de essência a cada ano, e acharmos
que a coisa caminha bem. Material humano nós temos, e dos bons. Os conceitos em
baixo, na preparação, é que temos que rever. Ainda temos os melhores jogadores.
Mas não temos a melhor preparação.
Isso, acredito que tenha que ser
revisto e, a meu modo de olhar, podemos agregar situações boas dos europeus.
Mas não podemos achar que tudo que eles fazem será bom para nós. Têm situações
que só servem para eles, existem biótipos que só servem para eles,
equivalências que só valem para eles. Temos, ou tínhamos, nossa escola e forma
de olhar futebol. Agregar, eu concordo, mas copiar e mudar, acredito que
atrapalha.
À distância, qual a sua opinião
sobre o aumento do contingente de estrelas internacionais na série A? O Brasil
passa a ser visto como mercado promissor, ou como reduto para atletas
decadentes e em fim de carreira?
Não vejo nenhum jogador em
decadência no futebol brasileiro. Vejo, ao contrário, jogadores com uma
história bonita internacionalmente, colaborando com os mais jovens, dando uma
troca, e oferecendo uma boa mescla. Temos vários exemplos de atletas com mais
de 34 anos que deram uma boa contribuição quando estiveram no Brasil. Mas temos que pegar caso a caso, nunca podemos generalizar.
O caso do Juninho: voltou ao clube
do qual saiu para a França, e está fazendo aquilo que se esperava dele. O
Seedorf é novidade, está se adaptando a uma realidade nova e diferente. O Zé
Roberto voltou e está ajudando o Grêmio. Gilberto Silva, idem. O Ronaldo
(Gaúcho), que só tem 32 anos, se encontrou em BH e voltou a jogar um bom
futebol. O Deco não tinha relação com o futebol brasileiro, mas tem jogado bem
no Fluminense.
Continuamos formando bons nomes.
Não sei se temos a condição de tê-los jogando aí (no Brasil) por muito tempo.
Ao mesmo tempo, bons nomes, já com alguma história no futebol, voltam e
complementam essas revelações. O mais importante é a condição física, mental e
o desejo desses jogadores que retornam ao Brasil. Se jogam até os 34-35 anos ou
mais, é porque possuem qualidade reconhecida.
Atual líder do Brasileiro, o
Atlético/MG tem, até aqui, desempenho superior ao do Cruzeiro, campeão em 2003.
Como vê o sucesso do clube alvinegro? Em sua avaliação, o campeonato nacional,
hoje, é mais fácil?
Vários aspectos fazem do Atlético
merecedor dessa posição. O desempenho deles está sendo fantástico.
Desenvolveram um Centro de Treinamento dando totais condições de trabalho ao
grupo, mantiveram um grupo montado pelo Maluf e pelo Cuca. O Maluf trabalha
muito bem para manter um ambiente focado em futebol. Ofereceram ao Ronaldo
(Gaúcho) a condição de ele desejar e buscar algo mais em termos de conquista no
Brasil.
Tem colocado jogadores formados em
casa com muita qualidade, tem um desejo enorme de conquista, já que a última
foi (o Campeonato Brasileiro) em 1971, e uma torcida participativa. Aquela
goleada (6 a 1 para o rival Cruzeiro) sofrida na última rodada do Brasileiro
passado fez com que esse grupo criasse uma situação de estar atento a tudo, e a
todos os momentos. Futebol é coisa muito séria, precisa ser planejado. E isso,
o Atlético, como clube, tem demonstrado. Merece essa posição. Ninguém deu nada
a eles. Eles estão buscando.
Nas dezoito temporadas como
jogador profissional, você defendeu apenas seis clubes. Costumeiramente, é um
atleta que cumpre os contratos. Pelo atual vínculo com o Fenerbahçe, 2012/2013
será a sua última temporada na Turquia. Você já pensa no futuro? A volta para o
Brasil é, hoje, uma possibilidade maior, menor ou igual à de renovação?
Já está definida em minha cabeça.
No momento correto, todos saberão o que farei.
Bate-pronto:
• Palmeiras/2000 ou Cruzeiro/2003?
Cruzeiro.
• Luxemburgo ou Felipão?
Luxemburgo.