Alisson Millo*
Publicada em 04/12/2019, às 11h25
Comemore,
torcedor atleticano! Solte foguete, buzine pela cidade, rode a camisa e cante o
hino. O Galo não vai cair. E a garantia veio com incríveis duas rodadas de antecedência.
Devolvam meu time: sem o sofrimento de deixar para o último jogo não tem graça.
Esse Atlético está ficando muito Nutella. A diretoria está tirando a essência
dessa instituição tão tradicional de deixar tudo para os 45' do segundo tempo.
Se você não entendeu a ironia, tenho péssimas notícias. Mas vamos voltar ao
ritmo normal, afinal de contas a realidade do Atlético não tem graça nenhuma.
Vamos
começar do começo. O jogo contra o Corinthians foi muito bom. Cazares, Jair e
Marquinhos comeram a bola e foram os grandes responsáveis pelo placar de 2 a 1,
que garantiu a permanência na primeira divisão. É preciso enaltecer o
desempenho deles, a boa vitória e a excelente participação da Massa. Mas há
muito tempo se foi o tempo de ficar feliz apenas por se livrar do rebaixamento.
Embora, diante de todo o esforço feito pelo atual comando do clube, não cair é
uma conquista.
|
Galo garantiu permanência na Série A (Créditos: Bruno Cantini/Agência Galo/Atlético) |
Não é
por ter atingido o mínimo do mínimo que podemos ficar com a sensação de dever
cumprido. Na verdade, longe disso. Ainda há chance de disputar a Sul-Americana
na próxima temporada e, após chegar perto com um elenco tão limitado neste ano,
é possível projetar uma boa campanha em 2020 também. Esse passa a ser o
objetivo agora. Pensando, claro, em curto prazo. Em um espectro maior de tempo,
as ambições precisam ser muito maiores e o trabalho precisa ser muito melhor.
Mas muito mesmo.
No
que se propôs a fazer, que foi austeridade financeira, o presidente está
mandando mal. No seu sonho de ter o nome gritado pela torcida, o tiro saiu pela
culatra. Em relação aos escolhidos para gerir nosso Galo, dentro e fora das
quatro linhas, o critério parece ser compartilhar da incompetência de quem os
contrata. No discurso, um monte de palavras vazias. O reflexo disso é sentido
em campo e na sensação de barco à deriva que eu tenho - e, acredito, muita
gente tem - em relação ao clube.
À la Flamengo... da pior forma
possível
Há
alguns dias, Guga caiu em desgraça por comemorar o título do Flamengo, e agora
é minha vez de enaltecer o trabalho lá. Não o de hoje, muito bem feito por
razões óbvias. Mas o anterior, do ex-presidente. Claro, as cotas deles são
muito maiores do que as nossas, mas a dívida foi reduzida em milhões e está
equalizada, permitindo os investimentos que formaram o elenco que dominou o
futebol brasileiro em 2019. Quanto Sette Câmara assumiu, imaginei que ele seria
o Bandeira de Mello do Atlético. Justiça seja feita, há semelhanças nos elencos
sofríveis e que se livraram do rebaixamento em cima da hora. Na gestão, os
caminhos são opostos.
|
Elenco precisa evoluir muito em 2020 (Créditos: Bruno Cantini/Agência Galo/Atlético) |
Nossa
dívida não diminui. Nosso pouco dinheiro é mal gasto. Nosso time é frágil.
Nosso treinador é constantemente criticado e, talvez - apenas talvez - eu
endosse o coro. Nosso diretor de futebol segue pelo mesmo caminho. Nossos
atacantes não fazem gol. Nossos laterais não acertam cruzamento e não marcam
direito. Nossa esperança está em um menino de 20 anos e em um craque que nunca
sabemos quando realmente quer jogar.
Em um
cenário normal, já passou da hora de planejar a próxima temporada. Mas seja
sincero. O que te leva a crer que esse trabalho está sendo feito? Com todos os
indícios dados pela atual gestão, qual é a esperança em ver uma mudança de
realidade? No auge do meu pessimismo, a expectativa é de que 2020 seja, pelo
menos, uma repetição deste ano. Poucas vezes na minha vida eu torci tanto para
estar errado.
*Jornalista. Corneteiro confesso e atleticano desde 1994.
@amillo01 no Twitter, capitão da seção Fala, Atleticano!