Discursos de mais e futebol de menos no Galo

Alisson Millo*
Publicada em 16/10/2019, às 14h

A semana começou com um massacre. Em plena Arena Independência, o Galo levou 4x1 do Grêmio. Com a derrota vexatória, Rodrigo Santana foi demitido e, no dia seguinte, Vagner Mancini foi contratado. Aqui sempre faço um esforço para me conter e manter o bom senso, mas parece que está faltando bom senso a todos que gerem o Clube Atlético Mineiro.


O presidente sumiu. Desde o início de seu mandato, declarou que não falava de futebol e que o responsável por esse assunto seria o então diretor Alexandre Gallo. Essa carta branca dada custou muito caro em termos financeiros e em termos de montagem de time e elenco, com peças ruins que estão aí até hoje e que têm contrato pelos próximos anos. Sucessor de Gallo, Rui Costa goza de igual liberdade, mas parece sofrer das mesmas limitações de análise de seu antecessor.

Diretor alvinegro ainda não convenceu
(Créditos: Bruno Cantini/Atlético-MG)

Por falar em Rui Costa, após a saída de Santana, ele foi para a entrevista coletiva pós-jogo. Apesar da boa oratória e das palavras bonitas, suas falas pouco disseram e, quando significaram alguma coisa, jogaram luz sobre um problema muito grave: a desorganização que hoje toma conta da instituição. Não exatamente com essas palavras, mas ele disse que o novo treinador do Atlético seria quem topasse vir, sem um plano claro, sem um perfil estabelecido, sem uma ideia planejada. Ou seja, seria o que desse.

O que deu foi Vagner Mancini. Para o treinador, provavelmente a mensagem não foi essa, mas o que deu a entender foi que ele era o que tinha. O problema é que 'o que tem' nunca pode servir. 'O que tem' nunca vai ser o suficiente para o Atlético. Esse pensamento raso e vazio custa o pouco dinheiro do clube, custa a sanidade do torcedor, afasta a Massa do estádio e leva à descrença em um futuro melhor.

A temporada começa agora?

Ainda sobre a coletiva de Rui Costa, ele disse que, agora, cada jogo terá importância transcendental para o Atlético. Aqui nem vou entrar no uso equivocado da palavra. O objetivo é analisar o contexto e, principalmente, o conteúdo escondido atrás dessa palavra difícil. Agora, e apenas agora, os jogos passam a ser de suma importância? Essa é a visão de quem comanda o Atlético. Todo o primeiro turno? Não valia de nada. Sul-Americana? Segunda divisão da Libertadores. Copa Libertadores no início da temporada? Deboche da cara do torcedor, só pode!

Os jogos não podem valer só a partir de outubro, quando a água já está batendo no pescoço. As competições oficiais começam em janeiro. Para time e diretoria com mentalidade campeã, a 'importância transcendental' começa no estadual. Um clube da grandeza do Atlético tem o dever de encarar com seriedade todas as competições e competir em pé de igualdade em todas elas. Ganhar é circunstancial, mas demonstrar raça e hombridade é requisito mínimo para vestir essa camisa. E se planejar decentemente é requisito básico para comandar essa instituição.

Atlético perdeu por 4 a 1 para o Grêmio
(Créditos: Bruno Cantini/Atlético-MG)

Mas me diga, torcedor: qual futuro você projeta para o Atlético? Não é daqui muito tempo, é para 2020. Hoje, todos os clubes já estão - ou deveriam estar - pensando na próxima temporada. Hoje, metade de outubro, o Galo anunciou um treinador novo, com contrato apenas até dezembro. Rui Costa afirmou que o clube não trabalha com a possibilidade de disputar a Série B no ano que vem, apesar da queda vertiginosa e de contar com o 'rei dos rebaixamentos' na área técnica. Vamos pensar positivo, vai que não cai mesmo. É com Mancini que nós vamos em 2020? Não é pensar pequeno demais? Se não for com ele, por que não trouxe desde já o nome ideal?

As perguntas parecem não ter resposta. E não adiantam palavras difíceis utilizadas em contextos errados. O que adianta é fazer o trabalho bem feito, contratar jogadores capazes de agregar ao elenco e fazer o Atlético crescer. O fato de o atual diretor parecer superior ao antecessor apenas no discurso é preocupante. O fato de o presidente insistir no erro sem perceber o rumo que o barco está tomando é indicativo de tempos tenebrosos à frente. Vamos pegar firme na crença de que tem muito time pior, porque, se formos depender apenas do que o nosso vem jogando, o prognóstico é terrível.

*Jornalista. Corneteiro confesso e atleticano desde 1994.
@amillo01 no Twitter, capitão da seção Fala, Atleticano!

Um comentário:

  1. Bom dia!

    É desesperadora, a situação do nosso galo! Nem no ano do rebaixamento, vivi tamanha frustração. Somado a tudo isto temos um conselho omisso, permissivo, que não se incomoda ou reaja a situação. O reflexo dentro de campo é o total despreparo desta diretoria incompetente.

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