Divergências entre clubes
e federações reacende debate sobre
mudanças na estrutura do
futebol; estatutos travam discussão
Vinícius Dias
Em
janeiro, Flamengo e Fluminense divulgaram nota oficial afirmando que
disputariam o Carioca sob protesto. Em março, Paraná e a dupla Atletiba viram
frustrada a tentativa de derrotar a chapa de situação na eleição da FPF -
antes, o trio ainda moveu ação pedindo o adiamento do pleito. Por último, em
abril, foi a vez de o Cruzeiro entrar em rota de colisão com a federação
estadual. Entre a divergência política e a ruptura definitiva, no entanto, há
um longo e sinuoso caminho. Para elucidar o cenário, o Blog Toque Di Letra consultou uma dezena de especialistas, entre
dirigentes, juristas e agentes, nos últimos dias.
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Prevista
na Lei Pelé e discutida nos bastidores, a criação de ligas encontra oposição na
estrutura em vigor no futebol. "Sem ter reconhecimento da federação
estadual, da CBF e da própria Fifa, qualquer liga é ilegítima", assegurou
o especialista em direito desportivo Louis Dolabela, citando o exemplo da Liga
Pirata, que vigorou na Colômbia nos anos 1940 e 50. Os estatutos de entidades
como a FMF e a Ferj, por exemplo, também são analisados como restritivos à
proposta, obrigando os clubes a manterem-se independentes de entidades
externas.
(Créditos: Estatuto da FMF/Reprodução) |
Outro
entrave apontado pelos dirigentes é o contexto da MP 671/2015, conhecida como
MP do futebol, que trata do refinanciamento das dívidas dos clubes. "A
liga era um sonho antes disso. Hoje, não mais", disse um membro da cúpula
do Cruzeiro. Mesmo o presidente gremista, entusiasta do projeto, descartou a
ideia por ora. "As ligas, que poderiam ser fator positivo como
suplementariedade de organização de competições, e sem prejuízo da CBF,
passaram a ser, na verdade, uma disputa com a CBF", explicou Romildo
Bolzan Júnior ao Blog.
Veto ao rompimento
Medidas
mais drásticas, como o rompimento com as federações, cogitado pela dupla do Rio
de Janeiro, também enfrentam a resistência do sistema piramidal. "Em caso
de desfiliação, o clube automaticamente não poderá disputar campeonatos (da
CBF, da Conmebol e da Fifa)", detalhou Louis Dolabela Irrthum,
especialista em direito desportivo.
'Mineiro é lucrativo'
Embora
desencadeiem discussões no aspecto político, do ponto de vista econômico, os
estaduais são considerados atraentes. "No caso de Minas, estadual é muito
mais lucrativo do que Copa Libertadores, por exemplo", revelou um agente
esportivo. Conforme apurou a reportagem, pelo atual contrato, que tem renovação
prevista para 2016, o Cruzeiro fatura quase R$ 7 milhões referentes à cota de
TV, mesmo valor do Atlético. O clube, ainda assim, não descarta a possibilidade
de deixar o torneio em segundo plano. Contudo, caminhos como o uso de time
alternativo, por exemplo, encontram restrições no regulamento.
(Créditos: Regulamento do Mineiro 2015/Reprodução) |
A
FMF, na edição deste ano, fixou o limite de cinco não profissionais por
partida. Especialistas apontaram a antecipação da profissionalização como
alternativa imediata. No entanto, a cúpula celeste trabalha nos bastidores para
viabilizar mudanças na estrutura do torneio. "Temos que, quando for
agendado o conselho técnico, por volta de outubro, fazer um projeto e agregar
alguns clubes para termos condições (aprovar alterações)", disse um
dirigente, sem citar detalhes.
Sul-Minas em pauta
O
cenário coincide com a retomada da discussão sobre a possível volta da Copa
Sul-Minas ao calendário brasileiro. Disputada entre 2000 e 2002, a competição
tem apoio público do Coritiba e, nos bastidores, conta com a adesão de Atlético/PR,
Grêmio e Cruzeiro, maior campeão da história do torneio. A proposta, a
princípio, é adaptar o modelo de sucesso da Copa Nordeste, que é organizada
pela CBF e tem o apoio das federações dos nove estados participantes.
Sorín foi herói no título celeste em 2002 (Créditos: Site Oficial do Cruzeiro/Arquivo) |
Uma
das principais incógnitas é a viabilidade econômica do torneio. "Vejo como
muito boa possibilidade, até mesmo uma necessidade. Temos que, rapidamente, ver
a diminuição dos estaduais. Vejo como único fator para concluir essa situação a
busca dos custeios sobre isso. Como que vamos financiar essa copa. Com todas
essas soluções, o Grêmio está dentro", afirmou o presidente Romildo Bolzan Júnior ao Blog.
A CBF e as federações estipulam leis pra impedir os clubes de se desfiliarem. Isso o Bom Senso pode cobrar do governo que mude
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