Dados do Observatório da
Discriminação Racial no Futebol apontam
17 episódios em competições desde
2014, com apenas três punições
Vinícius
Dias
No próximo dia 21 de março, data que marca a luta internacional
pela eliminação da discriminação racial, o futebol sul-americano não terá
motivos para comemorar. De acordo com levantamento realizado pelo Observatório
da Discriminação Racial no Futebol, desde 2014 foram registradas 17 denúncias
de injúria racial contra jogadores e clubes brasileiros em competições realizadas pela
Conmebol. Desses casos, no entanto, apenas três foram punidos pelo Tribunal de
Disciplina da entidade.
LEIA MAIS: Triunfos e barreiras: as mulheres no futebol
O episódio envolvendo o ex-cruzeirense Tinga, em jogo contra o
Real Garcilaso, no Peru, abre a lista. "Curiosamente, o Observatório
nasceu em 2014, logo após os sucessivos casos de discriminação racial
divulgados pela mídia, entre eles esse contra o Tinga", destaca ao Blog Toque Di Letra o diretor-executivo
Marcelo Carvalho. Há, ainda, o do preparador de goleiros Juan Carlos Gambandé,
demitido pelo Racing após gestos direcionados à torcida do Atlético, em 2016,
na Arena Independência.
Atlético, em 2016, e Tinga, em 2014: vítimas (Créditos: Bruno Cantini/Atlético/Washington Alves/Light Press) |
Se o ato protagonizado pelos torcedores contra o volante Tinga
significou multa de US$ 12 mil ao Real Garcilaso, o protagonizado pelo
argentino foi apenas um dos 14 que, conforme o levantamento, terminaram sem
punições: 82,4% dos casos. "Nossa interpretação é de que o futebol
sul-americano pouco se importa com problemas extracampo, incluindo casos de
racismo. Há pouca punição a violência, dentro e fora de campo, e não é sensível
à questão do preconceito e discriminação", lamenta Carvalho.
Libertadores é recordista
em casos
O raio-X aponta 11 casos na Copa Libertadores, três no
Sul-Americano sub-20, dois na Copa Sul-Americana e um na Recopa Sul-Americana.
2017 foi a temporada com mais registros: seis. Neste ano, já aconteceram três.
A escalada incomoda o pesquisador. "Mesmo que estejam previstas punições
como jogar com portões fechados, proibição de atuar em determinado estádio,
concessão da vitória ao adversário e até desclassificação, nos três casos
punidos foram aplicadas multas de até US$ 15 mil".
(Arte: Vinícius Dias/Blog Toque Di Letra) |
Para Marcelo Carvalho, o sucesso da mobilização passa por
transformá-la em uma luta de todos. "É importante que os atletas,
envolvidos ou não, cobrem atitudes duras das entidades, de seus clubes e que
não se silenciem diante de ofensas raciais", pontua. "Em curto prazo,
a medida mais eficiente é punir os envolvidos com penas severas, que atinjam os
clubes. Em paralelo, é urgente que sejam desenvolvidas campanhas de combate. A
punição é importante, mas não basta. É preciso educar", emenda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário